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A Tarde Memória

Por Cleidiana Ramos

ACERVO DA COLUNA
Publicado sábado, 27 de abril de 2024 às 6:00 h | Autor:

A TARDE guarda registros importantes da carreira de Ayrton Senna

Coleções de reportagens permitem acessar informações como a prova que o piloto disputou em Salvador

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Ayrton Senna foi um dos grandes ídolos do esporte brasileiro
Ayrton Senna foi um dos grandes ídolos do esporte brasileiro -

O dia 1º de maio de 1994 é aquela data que muita gente lembra o que estava fazendo devido à morte de Ayrton Senna. O episódio teve conotações de um drama único: o piloto, que era ídolo nacional morreu durante a disputa de prova transmitida ao vivo pela TV. Senna já era um fenômeno do automobilismo mundial, com três títulos só na Fórmula 1, e uma trajetória marcada por manobras arrojadas. Um episódio com estas características demandou uma cobertura especial de A TARDE com a dedicação de cinco das oito páginas do suplemento de Esportes:

“O esporte brasileiro está de luto com o desaparecimento de seu maior ídolo, Ayrton Senna. O tricampeão mundial morreu ontem vítima do novo regulamento da F-1 que comprometeu a segurança dos carros nas pistas. A batida de seu Williams a 250 km na curva Tamburello, em San Marino, fez também chorar todo o País que o tinha como símbolo”. (A TARDE, 2/5/1994, Esportes, p.1).

Ocorrido na Itália, país com outro fuso horário e em um domingo, o desafio da equipe responsável pela produção de conteúdo em A TARDE foi o de atualizar as notícias que chegavam em meio ao choque, inclusive o contexto polêmico da prova de San Marino. Na véspera da disputa aconteceu a morte do piloto austríaco Roan Ratzenberg. Na sexta-feira o brasileiro Rubinho Barichello sofreu um acidente grave. Tanto que as coberturas dos dias seguintes repercutiram a busca de respostas para os questionamentos sobre a prova ter sido mantida mesmo com duas ocorrências gravíssimas.

A morte de Senna tomou a proporção de episódios de comoção nacional e registrados em plataformas de mídia com a mesma dimensão das mortes de dois personagens cruciais na política brasileira: o presidente Getúlio Vargas, em 1954; e o eleito para a transição após a ditadura militar, mas que não chegou a tomar posse, Tancredo Neves, em 1985. As cenas de multidões acompanhando o cortejo fúnebre e o choro de milhares de anônimos são muito parecidas nos registros dos três casos.

  • Ayrton Senna foi um dos grandes ídolos do esporte brasileiro
    Ayrton Senna foi um dos grandes ídolos do esporte brasileiro |
  • Ayrton Senna foi um dos grandes ídolos do esporte brasileiro
    Ayrton Senna foi um dos grandes ídolos do esporte brasileiro |
  • O francês Alain Prost foi o grande rival de Senna nas pistas
    O francês Alain Prost foi o grande rival de Senna nas pistas |
  • Em 1979, aos 18 anos, Ayrton Senna disputou uma prova em Salvador
    Em 1979, aos 18 anos, Ayrton Senna disputou uma prova em Salvador |
  • Em 1979, aos 18 anos, Ayrton Senna disputou uma prova em Salvador
    Em 1979, aos 18 anos, Ayrton Senna disputou uma prova em Salvador |
  • Em 1979, aos 18 anos, Ayrton Senna disputou uma prova em Salvador
    Em 1979, aos 18 anos, Ayrton Senna disputou uma prova em Salvador |

Talento e carisma

Ayrton Senna nasceu em São Paulo em 21 de março de 1960. Começou a competir no Kart ainda na adolescência. Em 1979, A TARDE registrou um momento especial do automobilismo em Salvador. O piloto, então com 18 anos, esteve na capital baiana para competir na pista que ainda funcionava no Stiep.

“Nem mesmo a forte chuva que caiu no Kartódromo Municipal de Salvador no último domingo afastou o enorme público que aí compareceu para ver de perto os jovens pilotos Ayrton Senna da Silva e Walter Travaglini, respectivamente campeão brasileiro e sul-americano de 78 e campeão brasileiro e paulista de 77. No final da corrida, que abriu a temporada de kart de 79, não podia dar outra coisa: Senna e Travaglini no podium como campeão e vice”. (A TARDE, Turismo e Automobilismo, 21/01/1979, p.8).

Já antecipando uma de suas marcas, que era brilhar em pista molhada e por isso foi chamado de “Rei da Chuva” na Fórmula 1, Senna deu show em Salvador.

“Com a pista do Kartódromo seca não se podia perceber claramente a habilidade dos dois pilotos paulistas, mas assim que a chuva começou a cair e a pista ficou escorregadia o público aplaudia de pé a habilidade dos campeões. Na segunda bateria, Airton Sena largou na penúltima posição e sob os olhares assustados de todos que estavam no Kartódromo, ele ia ultrapassando um por um dos participantes e antes da décima volta estava lá em primeiro até receber a bandeirada da vitória”. (A TARDE, Turismo e Automobilismo, 21/01/1979, p.8).

Uma das características de Senna, que costuma ser apontada por quem o conheceu, ficou patente no texto: a gentileza. Ao vencer ele justificou a vantagem em relação aos outros competidores contando as estratégias que já reunia, mesmo tão jovem. E ainda houve elogios tanto dele como de Travaglini para os pilotos baianos.

“Os baianos estão no mesmo nível técnico dos pilotos do sul. Eles precisam apenas de boas máquinas e equipes mais experientes como as que nos acompanham até o mundial”. Eles comentaram também que os pilotos baianos precisam participar de competições nacionais para que possam adquirir mais experiência e que o Campeonato Brasileiro desse ano a ser realizado em Uberlândia já é o primeiro passo para uma cancha maior”. (A TARDE Turismo e Automobilismo, 21/01/1979, p.8).

Do Kart, Ayrton Senna passou para outras categorias, como a Fórmula 3, e chegou à Fórmula 1 em 1984. Começou ali uma trajetória de protagonismo, rivalidades, como a que travou com o francês Alain Prost, e o lugar de maior de todos os tempos em um país que já havia tido ídolos anteriores no automobilismo como Emmerson Fittipaldi e Nelson Piquet. Carismático, Senna era arrojado nas pistas e promoveu milagres como cruzar linhas de chegada com o mínimo de combustível ou levar o carro no “braço” por conta da quebra de equipamentos.

Lembranças

Integrante da equipe de reportagem de A TARDE na cobertura do evento de 1979, a jornalista Selma Morais tem uma memória rica em detalhes desse dia. De acordo com ela, na época do kart, Senna já dava sinais de que era diferenciado.

“Os especialistas dizem que, para o Brasil, Emerson Fittipaldi abriu as portas do automobilismo mundial. Ele não foi o primeiro a entrar na Fórmula 1, mas ele foi o primeiro a dar visibilidade ao Brasil nesse segmento. Depois dele veio Nelson Piquet e, em seguida, Ayrton Senna. Piquet teve sua força e um conhecimento enorme sobre a mecânica dos carros da época, mas Senna foi um ponto fora da curva. Foi aquele que chegou registrou seu momento e ficou na história do mundo. Esse é o grande diferencial de Ayrton Senna para todos os outros”, diz Selma Morais.

A jornalista analisa que a competitividade de Senna pode ter sido um dos pontos de vazão do seu enorme talento. “Ele não gostava de ser segundo colocado. Ou era o primeiro ou não fazia nem questão de terminar uma prova. Era muito obstinado, focado e dedicado ao que fazia e os resultados vieram: tricampeão mundial de Fórmula 1 e uma referência para pilotos de todo o mundo, inclusive os da nova geração, como Lewis Hamilton”, completa.

Batalhas

A disposição para superar obstáculos que aponta na carreira de Senna é bem familiar para Selma Morais. A jornalista foi pioneira na Bahia em quebrar a hegemonia masculina na cobertura do automobilismo e uma das primeiras no país.

“Eu tinha acabado de me formar e surgiu uma vaga em A TARDE no caderno de Turismo e Automobilismo. Eu assumi a vaga de automobilismo, mas sofri um pouquinho. Era aquela história de que isso era coisa para homem. Eu disse já na entrevista que nunca tinha feito, mas sou jornalista, ou seja, estava pronta para pesquisar, aprender e fui a primeira mulher neste segmento na Bahia e uma das primeiras do Brasil”, conta Selma Morais.

A experiência com a área lhe fez criar o Rallye do Batom, que após uma parada por conta da pandemia, está de volta esse ano. Mesmo com uma larga experiência, Selma Morais teve que enfrentar na primeira edição mais um desdobramento da misoginia e sexismo. Aproveitando a brecha no regulamento, homens se inscreveram na disputa e foram para a prova usando roupas femininas.

“Não atentei para estabelecer tudo nas regras e aí foi aquele monte de homem pilotando carros e as mulheres do lado de fora. Mas nas edições seguintes elas vieram preencher o nosso espaço. Hoje deixamos algumas vagas para os homens, porque é uma forma de trazê-los para esse debate, mas eles só podem formar equipes com mulheres”, explica Selma Morais.

O Rallye do Batom tem uma ação social envolvida. As inscrições estão condicionadas à doação de alimentos. Desde o início do projeto já foram arrecadadas cerca de 150 toneladas de comida. “Associamos a inclusão de mulheres no esporte e reforçamos uma forte bandeira social que é o combate à fome”, completa a jornalista.

São estratégias como a do Rallye do Batom que mostram o quanto, mesmo esportes que não tem o apelo popular no país, conseguem, a partir de um evento com foco em combate às desigualdades ou a presença de um ídolo carismático, romper barreiras. Ayrton Senna, se tivesse mais tempo de vida, possivelmente ainda teria elaborado novas histórias impactantes, mas aquelas que teve tempo de construir têm se mostrado eternas.

Confira as páginas de A TARDE:

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Cleidiana Ramos é jornalista e doutora em antropologia

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