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A Tarde Memória

Por Andreia Santana e Priscila Dórea*

ACERVO DA COLUNA
Publicado sábado, 09 de agosto de 2025 às 7:00 h | Autor:

A TARDE preserva fotos raras sobre a construção e a queda do Muro de Berlim

Barreira definida após o fim da II Guerra Mundial começou a ser erguida em 13 de agosto de 1961 e foi derrubada mais de 28 anos depois

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Moradores de Berlim assistem soldados erguerem barricada de arame farpado
Moradores de Berlim assistem soldados erguerem barricada de arame farpado -

Uma rápida pesquisa na internet e aparecem sites de turismo listando mais de 30 destinos onde é possível, atualmente, ver e fotografar fragmentos do Muro de Berlim. O Centro de Documentação (Cedoc) de A TARDE, também preserva a memória da barreira que, por quase 30 anos, dividiu a Alemanha em dois países. Fotos de 13 de agosto de 1961, que chegavam ao jornal por telex, via sinal de rádio na época em que ainda não havia internet, exibem as etapas de construção do muro, desde a cerca de arame farpado até o assentamento dos tijolos. Em 1989, a imagem dos berlinenses quebrando o muro com as próprias mãos também está preservada no acervo de 113 anos.

O muro tinha cinco metros de altura e 165km de comprimento. Era o símbolo de uma separação política e ideológica no auge da Guerra Fria entre Estados Unidos, líder do bloco capitalista, e a antiga União Soviética, que comandava o bloco socialista. A querela dividiu a Alemanha ao meio por 28 anos, dois meses e 26 dias. Separou famílias e amigos, abalou a economia do lado oriental e desencadeou planos de fuga que resultaram em tragédia, com a morte de pessoas tentando escapar da barreira. O drama dos alemães apartados pelo muro virou filme, romance, livro acadêmico e até história em quadrinhos.

Para delimitar as fronteiras entre os dois lados, primeiro foi erguida uma cerca de arame farpado com quase dois metros de altura. Na madrugada do dia 13 de agosto de 1961, final do verão, o muro começou a ser construído e pegou muita gente de surpresa. Os relatos são inúmeros, afirma o professor David Rehem, que é mestre em história social, pois o muro subiu rápido e as fronteiras foram fechadas, deixando muita gente presa do outro lado.

"Furiosas manifestações e choques com a polícia ocorreram em Berlim Oriental, hoje, segundo se informa, em protesto contra a determinação dos dirigentes comunistas da Alemanha Oriental, proibindo o afluxo de refugiados e outros alemães orientais a Berlim Ocidental. Os porta-vozes ocidentais denunciaram a rápida construção de uma muralha de ferro ao longo dos 40 quilômetros que formam a fronteira entre as duas partes de Berlim (...) Com tropas, tanques e arame farpado, o regime alemão oriental fechou completamente a fronteira antes do amanhecer", conta reportagem de A TARDE publicada em 14 de agosto de 1961.

Exército da Alemanha Oriental remove pavimentação para a fundação do muro
Exército da Alemanha Oriental remove pavimentação para a fundação do muro | Foto: AP Radiophoto / 13-8-1961

A justificativa oficial era de que a barreira protegeria a população do Oriente “da agressão imperialista do Ocidente”. Historiadores, no entanto, defendem que a verdadeira razão era barrar a migração em massa dos cidadãos para o outro lado em busca de melhores condições de vida e de se reunir com os parentes.

Famílias separadas

Os eventos que desencadearam a construção do Muro de Berlim tiveram início após o fim da II Guerra Mundial, em 1945, com a rendição da Alemanha nazista, na Europa, no dia 8 de maio; e a rendição do Japão, no Pacífico, em 2 de setembro. A divisão da Alemanha em dois países foi acertada ainda no final dos anos 1940. No lado ocidental ficou a República Federal da Alemanha (RFA), capitalista e aliada dos Estados Unidos; e no lado oriental, a República Democrática Alemã (RDA), socialista e sob influência da União Soviética.

Segundo a historiografia oficial, do lado ocidental, os Estados Unidos queriam restabelecer a economia. Enquanto do lado soviético, no oriente, havia o ressentimento pelo fato de Adolf Hitler ter um projeto de extermínio de todos os povos que ele julgava inferiores, como os eslavos, russos, bielorrussos, lituanos e ucranianos, explica o professor Daniel Rehem.

Construção de tijolos em substituição às cercas que separavam a Alemanha
Construção de tijolos em substituição às cercas que separavam a Alemanha | Foto: AP Radiophoto / Cedoc A TARDE / 11-11-1961

Os norte-americanos estabeleceram o Plano Marshall, que buscava um “estado de bem-estar-social” para a região capitalista, justamente para disputar com o socialismo soviético, que saiu na II Guerra com moral elevada. "A partir da década de 1950, há um acirramento da disputa. Esses dois Estados vão ser fundados em 1949, mas a partilha da Alemanha já havia sido feita em 1947. Além das questões econômicas, havia um outro elemento muito comum naquele período: a presença de espiões tanto de um lado quanto de outro. E nessa perspectiva, a situação se acirra ainda mais", acrescenta David Rehem.

Em 1955, há uma tentativa de reunificação por parte do Oriente, que propõe um Estado desmilitarizado com regime misto: capitalista, mas com alguns elementos socialistas. O Ocidente não aceita, o que leva ao empobrecimento da população do Oriente, que vai começar a migrar para o Ocidente em busca de melhores condições de vida.

"Isso causa, por exemplo, o fechamento de cerca de dois terços da indústria química e metalúrgica do Oriente, e a Alemanha era um país bastante industrializado, então começa essa migração de metalúrgicos e cientistas para o ocidente, que pagava melhor", acrescenta o professor.

Com as próprias mãos

Na noite de 9 de novembro de 1989, o Muro de Berlim foi derrubado pelas mãos dos berlinenses do Oriente. Naquela época, o mundo e a cultura mudavam à grande velocidade. A própria União Soviética vivia a Glasnost e a Perestroika conduzidas pelo líder soviético, Mikhail Gorbachev.

Polícia de Berlim Oriental patrulha a cerca para impedir fugas para o Ocidente
Polícia de Berlim Oriental patrulha a cerca para impedir fugas para o Ocidente | Foto: AP Radiophoto / Cedoc A TARDE / 25-09-1961

"A queda está bastante relacionada ao processo de Glasnost, transparência em relação à política em si, às liberdades democráticas, e de Perestroika, reconstrução. Mas sabemos que nenhum regime autoritário se sustenta por muito tempo. Em 9 de novembro de 1989 eles estabelecem a abertura do muro e que as pessoas poderiam atravessar desde que apresentassem alguma identificação", afirma David Rehem.

O anúncio também informava que o governo não tinha ainda certeza de quando a nova legislação entraria em vigo. E é aí que as pessoas tomam as ruas de Berlim Oriental. "Quando as pessoas viram na TV que não havia previsão, milhares foram às ruas reivindicar, quebraram o muro e o ultrapassaram", completa David Rehem.

As cenas do muro sendo derrubado entraram para a história do século XX e emocionaram até mesmo quem não era alemão. A derrubada do muro e a abertura soviética encheram o mundo de esperança. No Brasil, no ano anterior, a nova Constituição havia sido promulgada, pavimentando o caminho do país para a redemocratização após os 21 anos de ditadura militar, encerrada em 1985. Mesmo quem era adolescente em 1989 e nem entendia direito a complicada dança do poder no mundo e mal alcançava o sentido de expressões como Guerra Fria ou Cortina de Ferro, ficou com a cena das pessoas arrancando pedaços de concreto e tijolo marcadas na lembrança.

Portão de Brandemburgo foi bloqueado e serviu para marcar divisão de Berlim
Portão de Brandemburgo foi bloqueado e serviu para marcar divisão de Berlim | Foto: AP Radiophoto / Cedoc A TARDE / Foto 15-8-1961

Para o historiador, uma das principais reflexões que a queda do Muro de Berlim trouxe para o mundo é no pensamento sobre a política a partir das necessidades de cada povo. “A partir da necessidade e da realidade desse povo e não exportar modelos de fora achando que o que deu ou não deu certo lá, vai dar certo aqui, seja numa perspectiva conservadora ou revolucionária”.

Fragmentos do muro ainda são encontrados na Alemanha, África do Sul, Austrália, Brasil, Cingapura, Estados Unidos, Japão, México, Qatar e Rússia. A lista aparece no site The Wall Net (en.the-wall-net.org/), um projeto digital que rastreia o muro no mundo todo.

Após protestos, população começou a arrancar os pedaços do muro
Após protestos, população começou a arrancar os pedaços do muro | Foto: Cedoc A TARDE / 09-11-1989

Há pedaços que foram dados de presente para chefes de Estado e doados a museus. Colecionadores compram pedaços de 1 metro da antiga barreira por preços entre US$ 60 mil e US$ 200 mil, segundo cotação do site Share America. O impacto da história do Muro de Berlim permanece até hoje na política, na cultura e na memória mundial.

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*Colaborou Tallita Lopes

*Os trechos retirados das edições históricas de A TARDE respeitam a grafia da época

*Material elaborado com base em edições de A TARDE e acervo do CEDOC/A TARDE

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