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A Tarde Memória

Por Cleidiana Ramos*

ACERVO DA COLUNA
Publicado sábado, 13 de abril de 2024 às 0:00 h | Autor:

BBB 24 pode ter um baiano campeão pela terceira vez

Poucos dias do encerramento do programa, o motorista de aplicativo Davi Brito continua o favorito ao prêmio

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Mara Viana, Jean Wyllys e Davi Brito
Mara Viana, Jean Wyllys e Davi Brito -

No próximo dia 16 termina a edição desse ano do Big Brother Brasil (BBB). O mais famoso reality show da TV brasileira pode premiar com até R$ 3 milhões o motorista de aplicativo, Davi Brito. Se ele conseguir vencer, será o terceiro baiano a conquistar o prêmio máximo do programa. O primeiro foi o escritor, jornalista e professor, Jean Wyllys, em 2005, seguido, no ano seguinte, pela empresária Mara Viana. Com fãs e críticos, o BBB tem sido mais que entretenimento, pois descortina os muitos problemas da convivência social registrados ininterruptamente por câmeras em um meio de comunicação de alcance significativo e difuso. Os efeitos individuais e coletivos tem sido um debate constante desde o início da transmissão em 2002, com dois episódios no mesmo ano. Reunindo participantes interessados em fama ou no prêmio em dinheiro, o BBB também tem levantado debates interessantes, como o da homoafetividade assumida por Jean Wyllys em uma cena ao vivo.

“Assumidamente gay, Jean teve de superar o preconceito para vencer cinco paredões até chegar à conquista do prêmio de R$ 1 milhão”. (A TARDE, 30/03/2005, p.9).

Em 2005, o Big Brother era um fenômeno da TV aberta com repercussão em sites. Redes sociais estavam longe do que são hoje ao mobilizar torcidas que já chegaram a interferir em muitos dos resultados do programa. A vitória de Jean Wyllys ocorreu por meio de voto por SMS, que incluía a cobrança de tarifas, e enquete da Internet. A final mobilizou a Bahia, mas principalmente os moradores de Alagoinhas, que é a cidade de origem do jornalista.

“Os esforços foram concentrados para que Jean Wyllys arregimentasse o maior número de votos possível. Desde domingo, uma escola de informática disponibilizou os 16 computadores, gratuitamente, para a votação e outros estabelecimentos do gênero baixaram as tarifas para que todos pudessem votar”. (A TARDE, 30/03/2005, p.5).

Já Mara Viana ganhou o público por sua principal motivação para participar do programa: conseguir recursos para custear o tratamento de sua filha com paralisia cerebral. Desde a participação de Jean Wyllys e Mara Viana o método para a escolha dos favoritos pelo público mudou muito.

A edição que pode fazer mais um baiano campeão inaugurou o voto único, com registro do CPF, combinado ao da torcida. A votação é feita apenas no canal oficial da Globo. O voto único foi uma estratégia adotada pela direção do programa para evitar as distorções que vinham acontecendo nas últimas edições por conta dos chamados mutirões de torcida. Se a candidata ou candidato ao prêmio tivesse uma boa estratégia de comunicação digital já saía em vantagem.

Além disso, os debates acalorados, sobretudo no X, antigo Twitter, e mais recentemente no Instagram, têm levantado suspeitas sobre ações ainda nebulosas que envolvem agências de marketing digital em parceria com as chamadas páginas de fofocas e assessorias do elenco do programa. Nesse embate sobram as denúncias de que uma determinada rede integrada por esses três elementos persegue os concorrentes das outras ou que não tem essa estrutura chegando à imputação de crimes. Davi Brito, por exemplo, é constantemente atacado por torcidas adversárias envolvendo ações racistas e acusações de assédio.

Batalhas

Se em 2005, ao ser indicado pela segunda vez consecutiva pelos integrantes do elenco do BBB para sair, Jean Wyllys promoveu uma das cenas mais icônicas e comentadas do reality ao dizer que era perseguido por ser gay, Davi Brito já foi acusado de homofobia pelas torcidas adversárias em meio a uma discussão. Virou rapidamente um alvo da Casa embora tenha reconhecido que havia errado após uma conversa com outros participantes homossexuais do elenco.

Essa foi apenas uma sequência de polêmicas e de violência que choveram sobre Davi. No meio de outra discussão, tentaram lhe apontar como gordofóbico por conta do uso do termo “calma calabreso”, em meio à discussão com o participante Lucas Buda. O termo é uma brincadeira de um comediante conhecido como Toninho Tornado, que inverte o gênero de palavras do cotidiano, como muçarela, borboleta, dentre outras.

Foi contra os famosos do programa, categoria denominada Camarote, e que passou a integrar o BBB a partir de 2020, que Davi tem empreendido suas grandes batalhas. Além das brigas com Mc Bin Laden, que quase resultaram em expulsão, Davi despertou a ira do cantor Rodriguinho que chegou a ameaçá-lo de agressão física, mas verbalizada apenas quando estava sozinho com os seus aliados. Definido por colegas de confinamento como agressivo, prepotente e desrespeitoso, Davi foi abraçado por parte significativa do público como o dono de um impressionante controle emocional aos 21 anos e que não se curvou para os integrantes famosos. Brigou com quase todos.

Mas foi com a cantora Wanessa Camargo que a batalha de Davi virou um embate épico. Ele passou a ser alvo de uma campanha feita por ela para ser isolado pela Casa do BBB. Uma das cenas mais fortes e tristes dessa edição é a que mostra Davi se aproximando de outros integrantes e todos se afastando para deixá-lo só e cabisbaixo.

Wanessa Camargo acabou expulsa, após um episódio denunciado por Davi como agressão e que foi aceito dessa forma pela produção do programa. Fora do BBB, a cantora fez vídeo pedindo desculpas e assumindo que tinha adotado atitudes racistas contra Davi. A ação durou até uma entrevista para o programa Fantástico em que ela foi confrontada pela jornalista Renata Ceribelli para dizer em quais pontos havia se reconhecido racista. Wanessa não conseguiu explicar. O gerenciamento de crise da sua imagem nesse sentido acabou de vez no episódio de uma segunda briga entre Davi e Bin Laden. Ela postou em seu perfil no X uma mensagem insinuando que estava certa sobre a agressividade de Davi, além de ter apagado o vídeo anterior com o pedido de desculpas.

Em meio a uma mal-estar, quando passou um dia se queixando de dores no corpo e febre, Davi esteve perto de apertar o botão de desistência. A participante do bloco Camarote, Vanessa Lopes, já havia feito isso na mesma edição por conta do que depois foi diagnosticado como um distúrbio de fundo emocional. A quase desistência de Davi, no domingo de Carnaval, mobilizou o próprio diretor do programa, Boninho. Após uma conversa entre os dois que só teve o seu início transmitido, Davi acabou ficando.

A partir dessa parte do programa, o motorista de aplicativo só ampliou o seu protagonismo O momento que esteve mais ameaçado de sair foi após a expulsão de Wanessa Camargo. Mas os outros integrantes do elenco devolveram o seu favoritismo ao transformar uma discussão com a modelo Yasmin Brunet em um ataque generalizado. Um dos desdobramentos desse episódio foi um dos mais emblemáticos do programa: Leidy Elin, uma mulher negra, ficou ao lado de Yasmin Brunet e jogou as roupas de Davi na piscina. A reação do motorista, que passou metade da madrugada planejando coisas terríveis como revanche, deixaram seus fãs, em alerta. A rede X, por exemplo, ferveu durante toda a madrugada por conta desse episódio. Davi desistiu da vingança, mas não recuou de mais embates com Leidy Ellin que foi eliminada com 88,33%, uma das mais altas rejeições da história do programa.

Empatia imediata

Davi Brito entrou no elenco do BBB 24 por meio de uma ação inédita. Além dos camarotes e dos escolhidos pela produção foi criada uma categoria para que o público votasse quem ganharia duas vagas. Ele e a amazonense Isabelle Nogueira, que é influencer e dançarina do Boi Garantido, um dos protagonistas do Festival de Parintins, venceram a enquete. Aliás, a amizade entre os dois é outro forte enredo de Davi nesta edição do BBB.

“Davi já se tornou favorito ao entrar pelo voto popular. E quando a gente fala povo é uma referência às pessoas que consomem o Big Brother e que são de classes sociais variadas e dos segmentos de diversidade. Em todos os embates que travou no programa, Davi apareceu como uma espécie de vingador, inclusive contra os Camarotes. Davi é o oposto do que a sociedade considera como padrão e tem muita gente que torce de verdade por vê-lo enfrentar pessoas que, como aqui fora, tiveram atitudes racistas na Casa”, analisa a influencer, idealizadora da revista Ébano e comentarista especializada em realities, Luana Safire.

Além do favoritismo, mas que a especialista aponta que só vai se confirmar com o resultado, pois muita coisa pode acontecer em 24 horas e ainda mais em uma semana, a participação de Davi ´já deu margem para o debate de muitos temas importantes. “Houve espaço até para uma discussão sobre o etarismo porque a mulher dele, Mani Rego, é 20 anos mais velha e isso foi tema de debates e ataques intensos aqui fora”, diz Luana Safire.

Apesar de ser entretenimento, a longevidade e as tantas questões que envolvem o BBB estão na sua base: um programa que faz um experimento social em um meio de comunicação com um alcance de difusão que não dá para medir ou controlar todas as suas consequências. É interessante que, se no romance 1984, de George Well, a ideia do Big Brother busca mostrar o quanto é nocivo um sistema de vigilância constante da intimidade das pessoas até nas coisas mais banais, nesse jogo para a TV os participantes querem se expor para as câmeras sem limites. Só isso já é o suficiente para começar a avaliar os impactos sociais dos produtos das mídias.

Confira as páginas de A TARDE:

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Cleidiana Ramos é jornalista e doutora em antropologia

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