Cedoc A TARDE festeja 45 anos viabilizando conteúdos editoriais
Memória e projeto REC têm produção baseada em reportagens, fotografias e outras peças do acervo

O Centro de Documentação A TARDE (Cedoc A TARDE) está celebrando seu 45º aniversário este mês. Organizado após a mudança da sede do jornal da Praça Castro Alves, onde estava desde 1930, para o atual endereço no Caminho das Árvores o departamento une as dimensões de memória institucional, da prática jornalística além de reunir um rico acervo sobre os mais variados temas da história da Bahia. Mais recentemente, o Cedoc A TARDE passou a alimentar, de forma mais organizada, a produção de conteúdo especializado em memória social por meio de dois projetos editoriais: A TARDE Memória e o REC A TARDE.
Diferentemente de projetos como A TARDE na História, uma coluna que mostrava o que saiu de fato histórico relevante na edição de cada dia, atualmente reportagens, fotografias e outras peças têm possibilitado contar novas histórias a partir de diversas perspectivas. O primeiro projeto nessa linha foi a coluna A TARDE Memória. Multimídia, a coluna começou a ser publicada em 3 de outubro de 2020. Desenvolvida por mim, ela tem inserções na rádio A TARDE FM , às sextas-feiras, no jornal A TARDE aos sábados, no Portal A TARDE e conteúdos para as redes sociais do Grupo A TARDE.
Na edição de 16 de janeiro de 2021, por exemplo, a coluna contou a história de um conflito envolvendo católicos e muçulmanos em Salvador. A confusão ocorrida na Rua dos Capitães, hoje Rua Rui Barbosa, no Centro Histórico, resultou em dois mortos, alguns feridos e 42 pessoas presas. Esse é um acontecimento praticamente desconhecido mesmo entre pesquisadores do campo das religiões.
Na edição do último dia 6 de maio o destaque foi para os povos ciganos. A história foi contada a partir de uma reportagem de A TARDE publicada em 1919 sobre um rito destinado às viúvas e que foi comparado no texto às festas para São Cosme e São Damião.
Isso é só uma amostra de como um jornal com atuação há mais de 110 anos conserva registros não apenas de grandes fatos, mas de questões do cotidiano que abrem novas possibilidades de debate no presente. Conhecer detalhes de uma história do passado pode abrir um importante campo de reflexão continuado sobre questões étnicas, econômicas, políticas, dentre outras.
Com a sedimentação de A TARDE Memória surgiu a potencialidade de ampliar a sua experiência para os canais digitais. Em 30 de setembro do ano passado o REC A TARDE, hospedado no Youtube estreou. O canal tem as seções Senta que Temos História, que recebe especialistas das mais variadas áreas do conhecimento para analisar o material do acervo do Cedoc; Mídia & Memória, onde são apresentados recursos para a prática do jornalismo e também as coleções de fotografia; Cibercultura, que analisa produções em linguagens variadas como webséries, livros, dentre outras; A TARDE Memória, que mantém o vínculo com a coluna e Arena A TARDE, uma amostra da interação do público com os mais variados canais do Grupo A TARDE.
Com a chegada do REC articulado à coluna A TARDE Memória estabelecemos um núcleo de produção em memória social. Essa tem sido uma experiência enriquecedora para mim por produzir nas mais diversas etapas necessárias para a composição dos conteúdos: pesquisa, apuração, elaboração de textos em diversas linguagens: audiovisual, digital, dentre outras. Assumi também a curadoria do acervo do Cedoc A TARDE para ampliar o diálogo com pesquisadoras e pesquisadores e buscar soluções para uma requalificação do espaço.

Público
Além da pesquisa para jornalistas, o acervo do Cedoc A TARDE sempre esteve aberto para consulta externa.
“O Cedoc atende um público variado, mas principalmente estudantes e pesquisadores. Estes últimos são, geralmente, das universidades públicas”, destaca Valdir Ferreira, arquivista do Cedoc A TARDE. Ele está no setor desde a sua organização em 1978. A lógica de organização e conservação do acervo foi desenvolvida pela historiadora Indaiá Magalhães, a primeira diretora do departamento.
Em 2008 foi realizado um projeto de requalificação do acervo coordenado pelo jornalista e pesquisador Maurício Vilella que assumiu a direção do setor. Por meio dessa ação foi realizada a digitalização das edições de A TARDE desde 1912, a mudança para instalações mais amplas destinadas a um melhor armazenamento da documentação, dentre outras medidas. Foi por meio dessa ação que o arquivo passou a se chamar Cedoc A TARDE.
Além da coleção das edições do jornal digitalizadas, da memória da empresa e do seu fundador Ernesto Simões Filho (1886-1957) por meio de imagens e outros documentos, o Cedoc também mantém peças que contam a história da forma de fazer jornal. Nessa coleção, por exemplo, há um exemplar de um clichê- as peças de chumbo utilizadas para reproduzir imagens.
A TARDE foi o primeiro jornal baiano a adotar esse recurso para a reprodução de imagens. Em 1914, Simões Filho enviou Diomedes Gramacho, considerado o pioneiro na produção de filmes na Bahia, para o Rio de Janeiro. O objetivo do investimento de Simões Filho na viagem de Diomedes Gramacho foi para que ele aprendesse a técnica de fabricação dos clichês. Assim o jornal passou a ter produção própria desse recurso. Esse registro está no livro A fotografia e o negro na Cidade do Salvador (1840-1914), de Sofia Olszewski Filha.
É possível também conhecer outros recursos utilizados na produção jornalística do passado: radiofoto, máquina de datilografia, leitor de negativos, contatos, dentre outros. Exemplares desses materiais integram as coleções de A TARDE.
Riqueza documental
Há ainda a extensa coleção de documentos. As pastas de textos, que devem totalizar em números estimados cerca de 100 mil exemplares, além de recortes e reportagens de A TARDE e de outros periódicos guardam mapas, relatórios, bilhetes, cartas, discursos, ou seja, materiais que acrescentam outras informações às categorias de catalogação do acervo que indicam pessoas, eventos e lugares.
O acervo documental é também formado pelas pastas que contêm fotografias e negativos. Em sua maioria elas têm datas a partir da década de 1960, embora, dependendo do assunto há a possibilidade do encontro de registros das épocas anteriores.
“Eu que sou da geração da revolução digital já em andamento conheci o Cedoc mais de perto quando comecei a fazer o REC. O que mais me impressiona são as informações que emergem a cada vez que a gente analisa um documento como uma foto. Há informações no verso que nos mostram o uso em situações e épocas diferentes o que nos faz pensar muito sobre a dinâmica de análise dos fatos. Isso dá maior riqueza ao que produzimos como conteúdo”, diz a jornalista Priscila Dórea que é coapresentadora do projeto REC.
Esse acervo documental é também procurado por outras empresas de jornalismo e de publicidade.
“São clientes que nos procuram para adquirir os registros e licenças para a produção de especiais. Também atendemos as demandas internas nessa linha, como o setor de marketing e de publicidade”, explica Rubem Coelho, o outro arquivista da equipe do Cedoc A TARDE.
Essas ações têm demonstrado o quanto o acervo do Cedoc é precioso não apenas para a empresa que o criou devido a uma necessidade para o seu funcionamento. A memória preservada e constantemente atualizada por meio das peças do Cedoc A TARDE guarda uma profunda relação com a da Bahia, em variados aspectos.
Cleidiana Ramos é jornalista e doutora em antropologia
*A reprodução de trechos das edições de A TARDE mantém a grafia ortográfica do período
Fontes: Edições de A TARDE, Cedoc A TARDE