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A Tarde Memória

Por Cleidiana Ramos

ACERVO DA COLUNA
Publicado Saturday, 03 de December de 2022 às 5:30 h | Autor:

Cobertura das copas por A TARDE reflete importantes fatos geopolíticos

Jornal é o único periódico baiano em atividade que cobriu todas as edições do campeonato mundial

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Pelourinho foi um dos pontos de concentração da torcida para a campanha que resultou no penta
Pelourinho foi um dos pontos de concentração da torcida para a campanha que resultou no penta -

Em 14 de julho de 1930, uma reportagem de A TARDE registrou o início do Campeonato Mundial de Futebol. O texto marca uma condição histórica: A TARDE é o único jornal baiano em atividade que cobriu todas as edições do torneio até agora. Nessa linha do tempo da cobertura de A TARDE aparecem os registros da complexa geopolítica entre uma copa e outra.

1930: A sede do primeiro campeonato mundial de futebol foi o Uruguai. A TARDE registrou o início do torneio na edição do dia 14 julho. Uma das informações do texto foi a escalação da seleção brasileira para o primeiro jogo: Joel, Brilhante e Itália; Hermogenes, Fausto e Fortes; Poly; Nilo; Carlos Leite, Prego e Theophilo. Na edição do dia 15, A TARDE noticiou a derrota da Seleção Brasileira para a Iugoslávia por um placar de 2X1: “Os matchs foram desenrolados sob um frio intenso. Os brasileiros falharam nos arremates finaes. Fausto foi o melhor jogador em campo”. (A TARDE, 15/7/1930, p.12). O Uruguai venceu essa primeira edição. No Brasil, o ano que começou agitado com a disputa presidencial entre Getúlio Vargas e Júlio Prestes, teve desdobramentos ainda mais graves nos meses seguintes ao torneio. Em outubro daquele ano, o presidente Washington Luís foi deposto, 21 dias antes do fim do seu mandato, e Getúlio Vargas assumiu o governo provisório que depois se transformou em uma ditadura com o Estado Novo. A chamada Era Vargas durou 15 anos e a Bahia ficou sob intervenção federal desde o início.

1934: O início da Copa de 1934 foi noticiado na edição de 28 de maio daquele ano em A TARDE. O campeonato ocorreu na Itália, cuja seleção conquistou seu primeiro título.

1938: Sediada na França, a Copa de 1938 teve registros em A TARDE no seu início, na edição de 4 de junho de 1938, e no encerramento, 16 dias depois. Os italianos conquistaram seu segundo título.

Um ano após a Copa da França o mundo mergulhou na Segunda Guerra Mundial e as edições do campeonato foram suspensas em 1942 e 1946. A retomada aconteceu em 1950 e com o Brasil escolhido como sede.

Da decepção aos primeiros triunfos

1950: Na primeira edição da Copa após a Segunda Guerra Mundial, o Brasil foi a sede do campeonato. Meses após o torneio, ocorreu a eleição presidencial. Getúlio Vargas venceu, e, desta vez, diferentemente de 1930, pelo voto direto. A seleção brasileira teve uma trajetória que a levou até a partida final. Mas o que era para ser festa acabou em decepção: o Brasil foi derrotado por 2X1 pelo Uruguai, no episódio que ficou conhecido como Maracanazo registrado na edição de A TARDE de 15 de julho de 1950: “Decepção no Esporte Nacional. Perdeu o Brasil o campeonato do mundo, deixando-se abater no último compromisso. Os uruguaios venceram, inesperada, mas merecidamente”. (A TARDE 17/7/1950, p.8).

1954: Quatro anos depois do vice-campeonato marcado pela derrota na partida final em casa, o Brasil participou da copa sediada na Suíça. Mas o título ficou com a Alemanha Ocidental, como era mais frequentemente chamada a República Federal da Alemanha (RFA), pois no período o país era dividido em dois blocos como consequências políticas da Segunda Guerra. O lado ocidental era alinhado a potências como os EUA e, portanto, com sistema econômico capitalista. A oriental estava sob o domínio do bloco socialista alinhado à URSS. Em 1961 um muro foi construído pelos líderes orientais em Berlim, a capital, para evitar a migração para o lado ocidental. A construção ficou conhecida como Muro de Berlim.

1958: A Suécia foi a anfitriã da Copa do Mundo de 1958. Na reportagem de 10 de junho daquele ano, A TARDE contou detalhes da preparação da Seleção Brasileira para entrar em campo destacando que o técnico, Feola, estava preparando uma formação ofensiva com Pepe, Vavá, Garrincha e Pelé. O Brasil vivia um momento especial fora de campo com o programa desenvolvimentista de Juscelino Kubistchek conhecido pelo slogan de “50 anos em 5”. Ex-governador de Minas Gerais, Kubistchek iniciou seu mandato em 1956 e ao terminá-lo em 1961 tinha inaugurado Brasília, cidade que se tornou a capital do Brasil em substituição ao Rio de Janeiro. Na edição de 30 de junho de 1958, A TARDE registrou a festa pelo primeiro título brasileiro. “Os cronistas esportivos saudaram hoje a equipe campeã do Brasil. Alguns “experts” qualificaram-na como “o melhor conjunto de todos os tempos”. Outros, entretanto, compararam-na ao conjunto húngaro de 1954”. (A TARDE, 30/6/1959, capa). Nos dias seguinte, A TARDE continuou noticiando a festa pelo país com acontecimento como o retorno ao Brasil dos campeões mundiais.

Imagem ilustrativa da imagem Cobertura das copas por A TARDE reflete importantes fatos geopolíticos
| Foto: Cedoc A TARDE

1962: A sétima edição da Copa do Mundo foi realizada no Chile. Neste período, o campeonato ganhou um destaque mais constante nas edições de A TARDE, afinal, quatro anos antes, o Brasil conquistou seu primeiro título. Na edição de 18 de junho de 1962 um especial de 12 páginas celebrou o bicampeonato. Além do caderno especial, mais duas páginas do bloco principal do jornal enfocaram a grande conquista: “O futebol latino americano vive, hoje, um ambiente de triunfo e glória, com a vitória que o Brasil obteve sobre a Checolosváquia, por 3X1, no final do Sétimo Campeonato Mundial de Futebol” (A TARDE, 18 de junho de 1962).

1966: Após a conquista do bicampeonato, o Brasil não repetiu o feito na copa sediada na Inglaterra. O título ficou com a seleção do país anfitrião. No período, o Brasil já estava sob a ditadura militar que durou 21 anos.

1970: Com o país governado por uma ditadura militar, a seleção do Brasil foi disputar a copa sediada no México. Além da cobertura ampla do dia a dia do torneio, A TARDE publicou um caderno especial na edição de 22 de junho de 1970 para celebrar a conquista do terceiro título: “A Copa Jules Rimet tem um novo dono. Uma vez mais se fez justiça já que o Brasil demonstrou com seu futebol espetáculo sua superioridade sobre as táticas rígidas dos europeus”. (A TARDE, 22/6/1970, capa).

Da longa espera a novas conquistas

1974: Sediada na Alemanha Ocidental, a Copa do Mundo, em sua décima edição, o título ficou com o país sede. O time brasileiro não repetiu o sucesso da edição anterior em suas apresentações.

1978: Realizada na Argentina, a Copa de 1978 parece ter absorvido algo do clima de terror que tomou conta da América do Sul em meio às ditaduras militares. A campeã foi a Argentina em um torneio marcado por diversos problemas na organização e infraestrutura.

1982: Para a copa de 1982, o Brasil montou um time que até hoje é considerado como um dos melhores mesmo sem ter conquistado o título. Na seleção estavam craques como Zico, Falcão, Cerezo, Júnior, Sócrates, dentre outros. A seleção foi desclassificada na segunda fase pela Itália por 3X2. A seleção italiana venceu o torneio.

1986: Realizada no México, a 13ª edição da Copa do Mundo marcou mais uma decepção para o Brasil em busca do quarto título. A seleção foi desclassificada em uma disputa de pênaltis contra a França após um empate de 1X1 no tempo normal. A partida era eliminatória. A equipe vencedora foi a Argentina comandada por Diego Maradona.

1990: A Copa de 1990 foi realizada na Itália. O Brasil caiu nas oitavas de final para a Argentina de Maradona que não havia começado bem o torneio perdendo na partida de abertura para Camarões em um show de Roger Milla.

1994: Após uma preparação conturbada e marcada pelas contestações ao trabalho do técnico Carlos Parreira apontado como adepto ardoroso do futebol defensivo, o Brasil chegou para a disputa da Copa do Mundo sediada nos EUA confiando nos talentos individuais de Romário e do baiano Bebeto. A partida final contra a Itália foi decidida nos pênaltis. Com uma atuação brilhante do goleiro brasileiro Taffarel e a cobrança desperdiçada pela estrela italiana, Roberto Baggio, finalmente o tetra veio. Além da cobertura detalhada do título, A TARDE publicou um caderno especial de 12 páginas para celebrar o tetracampeonato: “Hoje é dia da ressaca. A ressaca de uma conquista histórica e muito sofrida. O torcedor brasileiro esperou 24 anos e, como se fossem poucos, mais 120 minutos de arrebentar o coração sem o gol sair, apesar do completo domínio da Seleção Brasileiro e das várias chances de acertar o fundo das redes do goleiro Pagliuca desperdiçadas por Romário, Bebeto e Mazinho”. (A TARDE, 18/7/1994, capa).

1998: Na Copa da França, a anfitriã foi a adversária da Seleção Brasileira na final. De um lado estava a estrela do torneio, Ronaldo Fenômeno, e do outro o talento de Zinedine Zidane. Ronaldo teve uma espécie de convulsão horas antes da partida, problema que só foi explicado em detalhes algum tempo depois. Mesmo com o esforço de Ronaldo para participar da partida, a seleção brasileira teve uma atuação apática e foi derrotada pela equipe francesa por 3X0.

2002: A primeira copa realizada no continente asiático e com dois anfitriões - Coreia do Sul e Japão - foi a edição do renascimento da Seleção Brasileira como uma potência do futebol. Voltando de uma séria contusão que para muitos encerraria sua carreira, Ronaldo liderou o time brasileiro ao lado de Rivaldo e Ronaldinho Gaúcho e o Brasil ganhou o pentacampeonato. “Fim do jogo, Brasil pentacampeão. Em todos os cantos do País explodiu uma incontrolável alegria”. (A TARDE, 1/7/2002, capa).

Imagem ilustrativa da imagem Cobertura das copas por A TARDE reflete importantes fatos geopolíticos
| Foto: Cedoc A TARDE

2006: Com uma seleção que tinha jogadores com protagonismo significativo nos campeonatos europeus, como Ronaldo, Ronaldinho Gaúcho, Kaká, Adriano, dentre outros, o Brasil caiu diante da França, nas quartas de final, por um placar de 1X0. A Alemanha, já reunificada, ganhou o título.

2010: A 19ª edição da Copa do Mundo foi a primeira realizada no continente africano. A África do Sul, livre do apertheid, foi a sede do torneio. O Brasil foi desclassificado em partida contra a Holanda nas quartas de final. O título ficou com a Espanha.

2014: Os fatos têm apontado que o Brasil não tem sorte com a condição de sede da Copa do Mundo. Após 64 anos, o país recebeu o torneio com partidas em várias cidades brasileiras, inclusive Salvador. Além da turbulência política com protestos de movimentos que criticavam a realização da Copa, a Seleção Brasileira passou por seu maior vexame até agora em mundiais. Foi goleada nas semifinais pela Alemanha por 7X1. Na partida final, a Alemanha venceu a Argentina.

2018: Sediada na Rússia, a 21ª edição da Copa do Mundo foi vencida pela França. O Brasil foi desclassificado nas quartas de final pela Bélgica. A França conquistou o título.

Com a copa em andamento, o Brasil tenta o 6º título após vinte anos da conquista do último. Em uma edição atípica começando pelo período - desde o início a disputa nunca havia ocorrido em novembro e dezembro - o Catar, país sede, é criticado por uma política de desrespeito a direitos humanos. Mais uma vez, A TARDE registra as histórias de um campeonato esportivo que também conta sobre muito do que vai além do campo.

Cleidiana Ramos é jornalista e doutora em antropologia

*A reprodução de trechos das edições de A TARDE mantém a grafia ortográfica do período.

Fontes: Edições de A TARDE, Cedoc A TARDE

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