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A Tarde Memória

Por Andreia Santana*

ACERVO DA COLUNA
Publicado Saturday, 14 de September de 2024 às 6:00 h • Atualizada em 14/09/2024 às 12:37 | Autor:

Do televizinho às WebTVs: conheça a história da chegada da televisão à Bahia

Acervo de A TARDE registra a expectativa pela primeira emissora do estado e o advento do streaming e das web tvs na era da internet

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Imagem ilustrativa da imagem Do televizinho às WebTVs: conheça a história da chegada da televisão à Bahia
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“Salvador conhecerá as maravilhas desse novo e empolgante entretenimento”. A propaganda publicada em A TARDE, em 01 de dezembro de 1956, anuncia o evento de apresentação da Televisão para os baianos, uma “apoteose de música e alegria” que aconteceria dali a oito dias. A presença de artistas da TV do Rio de Janeiro e de São Paulo - e das estrelas do Rádio - rivaliza com a notícia de que para o público acompanhar as transmissões, aparelhos de TV seriam colocados nas ruas da cidade.

O evento teste de 1956 foi um dos muitos que ocorreram na capital até que, finalmente, depois de grande expectativa, a primeira emissora do estado entrou no ar, em 1960, 10 anos depois dessa mídia ter chegado ao Brasil.

Publicidade em edição de A TARDE, de 01/12/1956, anuncia show apoteótico para apresentar a televisão aos baianos
Publicidade em edição de A TARDE, de 01/12/1956, anuncia show apoteótico para apresentar a televisão aos baianos | Foto: Cedoc A TARDE

A primeira emissora do país e da América do Sul, a TV Tupi de São Paulo, estreou em 18 de setembro de 1950, há exatos 74 anos. A novidade chegou pelas mãos do empresário de comunicação Assis Chateaubriand, fundador dos Diários Associados, que também era o dono da primeira emissora baiana, a TV Itapoan.

A estreia da TV Tupi teve direito a equipamento importado no exterior, falhas técnicas e muito improviso, mas foi o pontapé inicial para mudar a história do audiovisual brasileiro. “A Televisão chega ao Brasil pela ação visionária de Chateaubriand e dentro de um contexto de modernização do país devido às relações com a Europa e os Estados Unidos. Ela nasce como um projeto a partir dos interesses culturais da elite que, por sua lógica de rentabilidade, começa a ampliar a negociação com as camadas populares e seus gostos já demonstrados no Rádio”, explica a jornalista Jussara Maia, doutora em Comunicação e Cultura Contemporânea pela Ufba e professora da UFRB.

Apesar da ‘apoteose de música e alegria’ no meio da praça, os baianos ainda esperariam quatro anos para entrar na era moderna prometida pela chegada da televisão. Ainda assim, nem todos assistiram a esse advento ao mesmo tempo.

Edição de 16/11/1960: TV Itapoã seria inaugurada dentro de três dias
Edição de 16/11/1960: TV Itapoã seria inaugurada dentro de três dias | Foto: Cedoc A TARDE

Em 1957, A TARDE comentava sobre os endinheirados que, em viagem ao exterior, aproveitavam para trazer na bagagem o seu aparelho de TV, já à espera da inauguração da primeira emissora local. Quando ela de fato começou a transmitir, havia em Salvador somente três mil aparelhos para dar conta da curiosidade dos pouco mais de 500 mil habitantes da cidade.

Quem não tinha TV assistia ao ‘Televizinho’. Tinha sempre alguém solidário que deixava a janela da sala aberta e, muitas vezes, uma determinada casa era a única da rua a ter um aparelho. Comprar uma TV, lembra a professora Jussara, equivaleria a financiar um carro, com prestações a perder de vista, a depender do poder aquisitivo do futuro espectador. Quem era criança nos anos 1980 certamente vai lembrar de ter algum amiguinho vendo TV no sofá da sala ou de ir à casa alheia acompanhar o Clube do Mickey, um dos programas infantis exibidos na TV Itapoan, na época.

21/11./960: inauguração da primeira estação de TV da Bahia
21/11./960: inauguração da primeira estação de TV da Bahia | Foto: Cedoc A TARDE

Salto tecnológico

O jornal acompanhou de perto esse capítulo da história local cobrindo os principais fatos ligados à chegada da TV à Bahia. Em 16 de novembro de 1960, três dias antes da inauguração oficial da TV Itapoan, A TARDE noticiou a visita de um grupo de jornalistas às instalações da emissora, na Federação, guiados por Odorico Tavares, então diretor dos Diários Associados no estado.

O alcance de 100 quilômetros de transmissão da emissora era celebrado como uma grande conquista tecnológica. Ao todo, 80 personalidades foram convidadas para visitar a sede da TV. Na inauguração oficial, em 19 de novembro de 1960, compareceram o governador Juracy Magalhães e o cardeal e arcebispo primaz do Brasil no período, Dom Augusto Álvaro da Silva; além de outras autoridades. O presidente Juscelino Kubitschek mandou felicitações aos baianos pela conquista.

Central Técnica da TV Itapoan em 1976
Central Técnica da TV Itapoan em 1976 | Foto: Cedoc A TARDE

Além de ser uma novidade, a televisão transformou o modo da sociedade se ver. “E a sociedade também indiciou a trilha da televisão para que ela moldasse a sua linguagem e parasse de copiar o rádio, como no início”, explica Jussara Maia.

Essa retroalimentação entre o advento de uma nova mídia e a sociedade acontece até hoje e se reconfigura a cada novo salto tecnológico. Foi assim, por exemplo, quando pouco mais de 35 anos depois da Bahia ter sua primeira emissora, o país assistiu maravilhado à primeira transmissão via streaming de uma canção.

“Pela Internet”, de Gilberto Gil, foi gravada e exibida a partir das instalações da Embratel, no Rio de Janeiro, em 14 de dezembro de 1996
“Pela Internet”, de Gilberto Gil, foi gravada e exibida a partir das instalações da Embratel, no Rio de Janeiro, em 14 de dezembro de 1996 | Foto: Cedoc A TARDE

“Pela Internet”, de Gilberto Gil, foi gravada e exibida a partir das instalações da Embratel, no Rio de Janeiro, em 14 de dezembro de 1996. Quem tinha acesso à rede mundial de computadores, na época, acompanhou tudo ao vivo e em tempo real. “A transmissão de Gil é um marco simbólico e estrutural importante”, recorda a professora Jussara Maia, que foi repórter da TV Itapoan no final dos anos 1980 e também acompanhou de perto muitas das transformações do audiovisual.

Ainda de acordo com a professora, “Pela Internet” traz em sua letra toda a expectativa que a rede mundial de computadores provocava nos anos 1990, de que se tornaria um espaço de debate e diálogo. Isso, décadas antes de ser contaminada pela polarização e as fake news. “Existia um fascínio com as potencialidades de futuro e, ao mesmo tempo, um lastro com o passado ao citar a música Pelo Telefone [primeiro samba gravado no Brasil, em 1916, por Donga e a velha guarda do samba]”, completa.

Do micro ao streaming

Edição de A Tarde de 15/12/1996, com reportagem sobre os 25 anos da criação dos PCs e a importância dessas máquinas para acesso a internet
Edição de A Tarde de 15/12/1996, com reportagem sobre os 25 anos da criação dos PCs e a importância dessas máquinas para acesso a internet | Foto: Cedoc A TARDE

Em 15 de dezembro de 1996, um dia depois do marco histórico e cultural representado pela transmissão da música de Gilberto Gil, A TARDE trazia reportagem de alto de página celebrando os 25 anos da criação dos microcomputadores, ocorrida em 1971. No texto, o jornal destaca: “A internet e sua explosão mundial, que permitiram a milhões de pessoas comunicarem-se e informarem-se, não teria sido possível sem os PCs [personal computers], ou seja, sem os microprocessadores”.

É como uma linha do tempo ou a música “O silêncio”, de Arnaldo Antunes: antes do streaming, que permite que você assista séries, novelas, o telejornal ou o programa de auditório preferido na palma da mão, vieram os micros, a internet, as gravações em VHS, DVD e Bluray… e assim por diante.

A chegada da Netflix ao Brasil foi anunciada em reportagem da página de Economia de 06 de setembro de 2011. Já existiam outros serviços semelhantes no país, como o Netmovies e a TV Page, mas a nova empresa permitia a exibição instantânea pela internet - e sem download - de filmes, seriados e programas diversos. Embora não seja o primeiro serviço, a Netflix popularizou os streamings e ajudou a alterar até mesmo a forma como a programação das emissoras abertas é consumida atualmente.

Em 28 de agosto de 2008, grupo A TARDE, que havia entrado na era dos streamings com a sua WEB TV, estreou a participação em um evento político transmitido ao vivo pela internet
Em 28 de agosto de 2008, grupo A TARDE, que havia entrado na era dos streamings com a sua WEB TV, estreou a participação em um evento político transmitido ao vivo pela internet | Foto: Cedoc A TARDE

Três anos antes, em 28 de agosto de 2008, o próprio grupo A TARDE, que havia entrado na era dos streamings com a sua WEB TV, estreou a participação em um evento político transmitido ao vivo pela internet, com as sabatinas em tempo real com os candidatos da época a prefeito de Salvador. Além de assistir aos candidatos pelo portal A TARDE, o público interagiu via redes sociais enviando perguntas que eram moderadas e respondidas na hora. Em 2022, o projeto A Tarde Memória, do Centro de Documentação e Memória (Cedoc) do jornal, estreava o programa REC, no Youtube, unindo jornalismo, cultura e variedades e, em 22 de março de 2023, entrava no ar o A TARDE Play, que irá promover, dos dias 17 a 26 de setembro, uma série de entrevistas com os prefeituráveis, ao vivo, no Instagram, portais A TARDE e Massa! e no Youtube.

“Hoje, temos uma relação com a televisão que não pode ser compreendida em termos de aparato, de um aparelho, porque o modo de produção da tv negocia e dialoga com linguagens diversas de outras plataformas. Isso faz com que a gente tenha um modo de distribuição de audiovisuais que agora é feito com muita complexidade. Se no passado a gente tinha as revistas que faziam a publicidade dos lançamentos, hoje temos as redes sociais e as múltiplas plataformas que oferecem um tipo de recepção completamente diferente, em que é possível aos receptores, em seu ambiente doméstico, compartilharem a experiência em outra plataforma, do que está sendo visto”, finaliza Jussara Maia.

*Colaboraram Priscila Dórea e Tallita Lopes

*Os trechos retirados das edições históricas de A TARDE respeitam a grafia da época

*Material elaborado com base em edições de A TARDE e acervo do CEDOC/A TARDE

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