Fascínio pelo cangaço alimentou acervo do sistema policial baiano
Reportagens de A TARDE registraram histórias sobre peças que pertenceram a cangaceiros

Cleidiana Ramos
Em 23 de junho de 1960, uma reportagem de A TARDE relatou que as vestes de Lampião, emprestadas para as filmagens de O Cangaceiro, filme dirigido por Lima Barreto (1906-1982), não foram devolvidas ao Museu Estácio de Lima, a cuja coleção pertencia. Esse acervo estava vinculado ao Departamento de Polícia Técnica (DPT) da Secretaria de Segurança Pública da Bahia.
O museu, hoje desativado, foi o centro de diversas controvérsias por conta do que tinha como peças de exposição. Eram objetos relacionados à chamada antropologia criminal e medicina legal. A exposição misturava armas, partes de corpos humanos e objetos de culto no âmbito das religiões afro-brasileiras. Essa associação passou a ser contestada por pesquisadores como Ordep Serra, doutor em antropologia e professor da Universidade Federal da Bahia (Ufba), a partir da década de 1980, por reforçar um discurso com consequências para alimentar, por exemplo, o racismo.
A coleção sobre o cangaço, por exemplo, manteve, durante décadas, em exposição, as cabeças de Lampião, Maria Bonita e de outros integrantes do grupo. Elas só foram retiradas da mostra pública após a luta de descendentes dos integrantes do bando por meio de campanhas e outras ações.
Nordestern
O Cangaceiro foi lançado em 1953. Ele é considerado do gênero nordestern por aproximar as narrativas sobre o cangaço a elementos do gênero western do cinema norte-americano.
O filme conta a história do Capitão Galdino, líder de um bando de cangaceiros que aterroriza povoados do Nordeste brasileiro em meio a muito violência. Em um dos ataques, o bando sequestra Olívia, a professora da vila, estabelecendo um resgate. O drama começa quando o Capitão Galdino e seu lugar tenente, Teodoro, sentem-se atraídos pela professora desarticulando a convivência entre os membros do bando.
Produzido pela Cinematográfica Vera Cruz, O Cangaceiro é considerado o primeiro sucesso do cinema brasileiro no contexto internacional com diversas premiações. Os diálogos do filme foram escritos por Rachel de Queiroz (1910-2003). A obra recebeu elogios e críticas. Para Glauber Rocha (1939-1981), por exemplo, faltou ao filme senso crítico sobre o contexto apresentado. O cineasta baiano mais tarde produziu a obra intitulada O Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro, com referências ao universo do cangaço.
Confira o trailer do filme O Cangaceiro.
O fascínio pelo cangaço é o tema base da coluna A TARDE Memória nessa semana a partir da perspectiva das coleções do sistema de segurança pública baiano. A coluna é um projeto de conteúdo multimídia com inserções em canais do Grupo A TARDE: A TARDE FM (às sextas-feiras), Portal A TARDE e Jornal A TARDE (aos sábados). As histórias contadas na coluna são baseadas em peças do acervo do Cedoc A TARDE, como reportagens e fotografias.
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