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A Tarde Memória

Por Andreia Santana*

ACERVO DA COLUNA
Publicado sábado, 12 de outubro de 2024 às 7:25 h | Autor:

Há 50 anos, chegada de A TARDE à Avenida Tancredo Neves contribuiu para desenvolver a região

Com o inchaço do Centro antigo de Salvador, negócios e serviços migraram para essa área de expansão da cidade a partir dos anos 1970

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Sede do Jornal A TARDE
Sede do Jornal A TARDE -

Salvador havia praticamente dobrado a população em um intervalo de 10 anos. Nos anos 1960, a cidade fundada no século XVI contava com 650 mil habitantes. Na década seguinte, esse número chegou ao primeiro milhão. Com o Centro antigo mais apertado, a cidade começou a expandir para os lados do Iguatemi e da área que o professor Luiz Antônio de Souza chama de subcentro do Vale do Camarajipe, que abrange a Avenida Tancredo Neves, o Caminho das Árvores e sua circunvizinhança. Essa movimentação atraiu empresas, serviços e negócios.

Foi assim que, em 1974, o jornal A TARDE, até então funcionando na Praça Castro Alves, começou a construir a sua nova sede em um endereço que se mostrou estratégico com o passar dos anos. Segundo o professor Luiz Antônio, que é arquiteto, urbanista e tem pesquisa sobre o subcentro do Vale do Camarajipe, o jornal migrou do Centro antigo junto com um conjunto de outras empresas, prestadoras de serviço e atividades comerciais que se beneficiaram e, ao mesmo tempo, contribuíram para o desenvolvimento da Avenida Tancredo Neves até a sua configuração atual.

“A Tarde e essas empresas fazem parte de um processo positivo das chamadas economias de aglomeração. Elas vão induzir um conjunto de atividades e isso vai impactar no preço e na qualidade da arquitetura dos imóveis da circunvizinhança. Sem dúvida, a disputa pela localização impactou a dinâmica urbana local”, afirma.

Inúmeras variáveis atuaram no sentido de promover a expansão física de Salvador para os lados da Tancredo Neves, como a prévia existência da Avenida Paralela e das vias de articulação com a Orla Marítima Atlântica, explica Luiz Antônio de Souza, docente da Uneb e colaborador no programa de pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo da Ufba.

“Na década de '70, o Departamento Nacional de Obras e de Saneamento contribuiu com um substantivo investimento, com obras de drenagem e rebaixamento do rio Lucaia na região do Iguatemi, alteração do leito do rio Pernambués e propiciando a viabilização do complexo viário dessa região. A urbanização da área, a criação de uma infraestrutura orientada para a possibilidade de edificações, permitiu que se instalasse um complexo e moderno setor comercial e de serviços”, detalha.

Terras urbanas

Ainda conforme o professor Luiz Antônio, o direcionamento da expansão física da cidade nos anos 1970 tinha dois discursos: um oficial, de ampliar a oferta de terras urbanas na área da Tancredo Neves e o outro, que sustentava o debate sobre descongestionar o Centro antigo de Salvador.

“Naquela época, o Centro era a principal nucleação de atividades terciárias. Mudar essa nucleação de atividades terciárias para a zona da Tancredo Neves, Iguatemi, Caminho das Árvores, Costa Azul, etc., tinha todo esse ideário de se construir um novo subcentro ou, de certa forma, um novo centro de atividades”, complementa.

Basta entrar na cápsula do tempo proporcionada pelas antigas fotografias da chegada do jornal à Avenida Tancredo Neves, guardadas no Centro de Documentação e Memória do A TARDE (Cedoc), para se ter uma ideia do quanto a região mudou nos últimos 50 anos. Imagens aéreas do complexo gráfico exibem um entorno sem a maioria dos condomínios empresariais que dominariam a paisagem décadas mais tarde. Não havia ainda as passarelas que fazem a ligação dos dois lados da avenida, nem as torres comerciais ou mesmo o Teatro Sesc Casa do Comércio, que é de 1988.

A construção do prédio de A TARDE no seu endereço das últimas cinco décadas estava a pleno vapor em maio de 1974, como registram as fotos da época. A obra começou pouco mais de um ano antes de o periódico sair do prédio da Praça Castro Alves, onde atualmente funciona o Hotel Fasano, e se transferir para a nova sede, em maio de 1975.

Ficou guardado no acervo, também, o instantâneo da primeira árvore sendo plantada no terreno da nova sede, uma palmeira imperial, em um ato que foi comandado pelo então prefeito de Salvador, Clériston Andrade, em setembro de 1974. O fato foi noticiado na edição de 28 daquele mês, no dia seguinte ao evento. “A Prefeitura plantou na Cidade três mil árvores [...]. Uma das novas árvores foi plantada pelo Prefeito Clériston Andrade, às 11h30 da manhã de ontem, no terreno da futura sede de A Tarde”, diz a fotolegenda.

A edição da página 3 de 28 de setembro de 1974 destaca ainda uma crise no abastecimento de cimento na capital, o que deixou o setor de construção civil preocupado com o risco de paralisação de obras em andamento na época. Para driblar a crise, Salvador recebeu cimento de Recife.

O jornal reportou a crise e o aumento do preço do produto diante da escassez: “Como costuma ocorrer nas ocasiões de grande falta de um produto, a especulação com os preços já começou com relação ao cimento, cujo saco, que custava entre Cr$18,00 e Cr$19,00, já atingiu nesta semana a Cr$25,00”.

A falta de cimento, no entanto, não impediu o andamento da construção da sede de A TARDE em 1974 e muito menos afetou os planos de expansão do complexo dali em diante. Na comemoração dos 80 anos de fundação do jornal, a edição de 12 de outubro de 1992 noticiou a ampliação da sede e a modernização do parque gráfico, enfatizando ainda o espírito modernizador do grupo de comunicação. “Ao longo de 80 anos, este jornal tem exercido um papel de liderança, demonstrando sempre espírito pioneiro, inovando e abrindo novas perspectivas para o mercado regional”, diz o texto.

Imagem ilustrativa da imagem Há 50 anos, chegada de A TARDE à Avenida Tancredo Neves contribuiu para desenvolver a região
| Foto: Acervo Ag. A TARDE

112 anos de história

O jornal A TARDE fará 112 anos na terça-feira, dia 15 de outubro. A primeira edição do jornal fundado pelo jornalista Ernesto Simões Filho circulou em 1912. Na edição de estreia, o jornal trouxe o editorial assinado pelo fundador, que enfatizou a intenção de fazer ‘um jornal honesto, bom e bem educado’. Em trecho do editorial, Simões Filho ainda destaca: “Devemos, pois, ao publico patrício a affirmação sincera de que A Tarde, secundada pelas auras de seu apoio, ha de ser um jornal digno.”

Na sua origem, A TARDE ocupou imóveis na Ladeira da Preguiça e na Rua Santos Dumont, como lembrou a página do A Tarde Memória de 12 de março de 2022. No aniversário de 18 anos, em 12 de março de 1930, ganhou sua primeira sede própria, o prédio da Praça Castro Alves, onde permaneceu por 45 anos, até a mudança para a nova sede na Avenida Tancredo Neves, em maio de 1975, poucos meses antes do aniversário de 63 anos da fundação.

Imagem ilustrativa da imagem Há 50 anos, chegada de A TARDE à Avenida Tancredo Neves contribuiu para desenvolver a região
| Foto: Acervo Ag. A TARDE

A preocupação com a modernização do parque gráfico e com a atualização no próprio fazer jornalístico é uma das premissas do jornal desde a sua origem e sempre esteve em destaque ao longo dos anos. Em 1930, quando mudou-se para a primeira sede própria, A TARDE investiu em equipamentos sofisticados como uma rotativa alemã capaz de imprimir 16 mil exemplares por hora. Nos anos 1990, já na Tancredo Neves, ampliou o parque gráfico. Nos anos 2000, como lembrou o professor Luiz Antônio de Souza, apostou nas novas tecnologias e com isso, atraiu empresas para seu entorno.

Ainda de acordo com o professor, a instalação do jornal na Tancredo Neves induziu e possibilitou novas atividades: “Claro que um complexo gráfico tem certas particularidades. Mas, as mudanças tecnológicas, a rádio, a internet e uma série de outras atividades dentro desse complexo contribuíram para a dinamização da área.”

*Colaboraram Priscila Dórea e Tallita Lopes

*Os trechos retirados das edições históricas de A TARDE respeitam a grafia da época

*Material elaborado com base em edições de A TARDE e acervo do CEDOC/A TARDE

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