Reguladores tinham protagonismo em anúncios para saúde feminina
Remédios prometiam cura para diversos problemas com o útero como foco

Cleidiana Ramos
Mulheres que sofreram ou sofrem com cólicas menstruais e que têm idades a partir dos 35 anos possivelmente já receberam a indicação de usar um “regulador” ou “elixir” para ficar livre dos incômodos menstruais. Atualmente, com uma contribuição contundente dos movimentos de mulheres, a abordagem e atendimento à saúde feminina, especialmente no SUS, avançou muito de forma a se compreender que dor menstrual não é “normal”, precisa de investigação e nem todo problema de saúde feminina tem origem no útero, como foi o entendimento mais comum durante muito tempo.
As questões relacionadas à saúde da mulher tinham foco no útero, o que aponta para uma preocupação apenas com a função reprodutiva do corpo feminino. O útero era considerado a fonte para vários distúrbios e assim os reguladores, remédios em forma liquida, faziam sucesso pela promessa dos fabricantes de resolver desde “asma nervosa” até corrimentos porque os considerava como sintomas de disfunção uterina.

Mayra Almeida, farmacêutica bioquímica, analisou os anúncios e composição de alguns destes produtos. Ela é mestra em saúde e meio ambiente. Segundo Mayra Almeida, esses produtos tinham base fitoterápica especializada, mas a associação dos problemas era feita com o útero quando são os ovários que estão mais envolvidos com algumas sintomatologias indicadas para tratamento nos anúncios.

“Um dos medicamentos que encontrei nestes anúncios é o acetaminofeno, o paracetamol, e um outro, o opiocitativo, é o ibuprofeno. As duas substâncias têm efeito primário sobre a dor e o ibuprofeno tem, embora distante, um efeito anti-inflamatório. Ele pode ser utilizado para cólicas. Não é a substância de primeira escolha hoje em dia, mas é usado ainda principalmente para pessoas que têm alergias”, explica.

A publicidade, como observa a farmacêutica era bem explícita principalmente em um tempo em que não se tinha muito informação sobre a eficácia dessas substâncias de forma generalizada como os anúncios indicam. “Tem composições com muitas plantas o que indica que têm efeitos sobre alguns sintomas. Barbatimão e camomila, que vi em algumas composições, têm indicação. A camomila, em extrato, foi um dos produtos que analisei no meu mestrado com uso para o relaxamento da musculatura uterina. Esses produtos poderiam ter resultados em relação a cólicas ou uma disfunção que causava contração uterina, mas a promessa dos efeitos era bem generalizada, ou seja, não muito assertiva”, completa.

Essa generalização da indicação dos reguladores durou bastante. Tanto que até os anos 2000 algumas marcas eram consideradas o remédio para tentar resolver interrupção do ciclo menstrual e até para efeito abortivo. Hoje as mulheres têm acesso a mais informações e à rede de serviços de saúde, especialmente no SUS, que permite diagnóstico mais preciso, embora os componentes naturais, como o barbatimão citado pela farmacêutica, têm ganhado relevância em pesquisas sobre diversos problemas que afetam a saúde feminina como infecções por HPV.
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