Rio 2016: baianos ganharam protagonismo nas Olimpíadas | A TARDE
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Rio 2016: baianos ganharam protagonismo nas Olimpíadas

Publicado sábado, 17 de julho de 2021 às 06:02 h | Autor: Cleidiana Ramos*
Erlon de Souza e Isaquias Queiroz conquistaram a prata. Isaquias se tornou o 1º brasileiro com três medalhas em uma única edição olímpica | Foto: Rodolfo Vilela | rededoesporte.gov.br | 26.8.2018
Erlon de Souza e Isaquias Queiroz conquistaram a prata. Isaquias se tornou o 1º brasileiro com três medalhas em uma única edição olímpica | Foto: Rodolfo Vilela | rededoesporte.gov.br | 26.8.2018 -

Em 2016, de 5 a 21 de agosto, o Brasil sediou os jogos olímpicos. São apenas cinco anos, mas, olhando a distância, parecem décadas. Esse sentimento tem razão de ser, afinal foram tempos extremamente intensos, especialmente para o país que, naquele momento, estava em uma crise política que culminou no impeachment da presidente Dilma Rousseff e enfrentando uma epidemia de zika, que, dentre outros impactos, deixou uma geração de crianças com a chamada síndrome congênita do zika vírus (SCZV). Mas foram também os jogos em que o Brasil contou com a maior delegação de atletas em Olimpíadas, além da melhor colocação no quadro geral de medalhas: 13º lugar. A Rio-2016 ficou também marcada pelo protagonismo dos baianos Robson Conceição, Isaquias Queiroz e Erlon de Souza com conquistas pioneiras em suas modalidades.

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Baiano Robson Conceição foi medalha de ouro | Foto: Adilton Venegeroles | Ag. A TARDE | 25.3.2019

Nos meses anteriores aos jogos cresceu também a insatisfação por sua realização, o que fez de tentativas de pessoas em apagar a tocha olímpica pelos vários estados por onde ela passou praticamente um esporte à parte. Os ataques à tocha renderam memes e vídeos memoráveis, especialmente na plataforma YouTube, o que foi também um indício da sedimentação da internet e, principalmente, das redes sociais, como novas formas de acompanhar os jogos.

A TARDE começou o mês de agosto anunciando a sua cobertura especial das Olimpíadas de 2016 na seção especializada denominada A TARDE Esporte Clube. Os jornalistas Luiz Teles e Ricardo Palmeira foram enviados ao Rio de Janeiro, em um esforço de A TARDE para oferecer ao seu público a cobertura sobre a perspectiva da Bahia, estado de 14 dos 465 atletas brasileiros.

“Com a Bahia prometendo fazer um papel de protagonista na delegação nacional, o A TARDE, único veículo de comunicação do estado a mandar uma equipe para o Rio, apresenta ao leitor um guia especial de introdução aos Jogos, com os principais pontos que cercam o megaevento”. (A TARDE, 1º/8/2016, p. B1).

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Espetáculo de abertura dos jogos do Rio encantou com luxo | Foto: Arquivo A TARDE | 6.8.2016

Na mesma edição foi apresentado, nas páginas B4 e B5, o perfil de cada um dos atletas baianos que participaram em equipes ou de forma individual dos jogos: Adriana Araújo (boxe), Allan do Carmo (maratona aquática), Ana Marcela Cunha (maratona aquática), Erlon de Souza (canoagem), Fabiana Simões (futebol feminino), Gradete Santana (atletismo); Isabela Ramona (basquete feminino), Isaquias Queiroz (canoagem), Joedison Teixeira (boxe); Miraildes Mota – Formiga (futebol feminino), Rafaele Leoni (futebol feminino), Robson Conceição (boxe); Robernilson de Jesus (boxe); e Walace Souza (futebol masculino).

Salvador também sediou, na Arena Fonte Nova, jogos de futebol. Foi na capital baiana, inclusive, que começou a reação da Seleção Brasileira, na categoria masculina. A equipe começou mal o torneio em comparação à feminina, que ia muito bem, mas foi eliminada na semifinal. A reação do grupo masculino ocorreu na capital baiana com uma goleada sobre a equipe da Dinamarca: 4 a 0.

“Dava para ver de antemão que Salvador apoiaria em peso a seleção olímpica, que veio de Brasília (DF), após dois empates em 0 a 0, tão maltratada e com a moral tão baixa. Pois a “Fonte dos Gols” fez isso mesmo: cuidou, descarregou e benzeu o time brasileiro, que correspondeu com um 4 a 0 sobre a Dinamarca. Como resultado, a equipe se classificou para as quartas de final da Olimpíada”. (A TARDE, 11/8/2016, p. B1).

Marcas

A arrancada da seleção masculina no jogo sediado em Salvador foi o início da reação até a conquista do então inédito ouro na Olimpíada, título que faltava ao esporte mais popular do país e com cinco campeonatos mundiais. Mas outras marcas históricas surgiram na edição dos jogos realizados no Rio.

A primeira medalha brasileira, por exemplo, pareceu uma volta ao passado com Felipe Wu conseguindo uma medalha de prata. A conquista de Wu ocorreu 96 anos depois da estreia brasileira em Olimpíadas, na Bélgica, com medalhas exatamente no tiro esportivo. A equipe do Brasil, formada por 21 atletas, ganhou três medalhas nesta modalidade com Guilherme Paraense (ouro), Afrânio Costa (prata) e bronze por equipe: Afrânio Costa, Guilherme Paraense, Sebastião Wolf, Dario Barbosa e Fernando Soledade.

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A 1ª medalha brasileira nos jogos de 2016 foi no tiro esportivo || 7.8.2016

Nos jogos marcados pela performance espetacular da norte-americana Simone Biles na ginástica – com quatro ouros (por equipes, individual geral, salto e solo) e um bronze (trave), a equipe feminina brasileira, de forma inédita, classificou-se para uma final no individual geral, e as ginastas Flávia Oliveira e Rebeca Andrade disputaram as provas individuais de trave e individual geral, respectivamente. Na ginástica artística masculina, pela primeira vez, o pódio contou com dois brasileiros em uma mesma modalidade: Diego Hypolito (prata) e Arthur Nory (bronze) no solo; além disso, Arthur Zanetti foi prata nas argolas.

As questões políticas também ganharam visibilidade. Além da alegria pela conquista olímpica, a judoca Rafaela Silva deu uma lição nos racistas que a atacaram, via redes sociais, ao ser desclassificada em 2012. Elegante, a campeã fez um discurso que mostra o quanto o esporte pode educar para eliminar o resistente ódio racial em um país de maioria negra:

“Eles falaram que judô não era pra mim, que eu era vergonha para minha família, que lugar de macaco era na jaula e não na Olimpíada, e agora posso provar para todos eles que me criticaram que eu posso estar entre as melhores da minha categoria”, disse, com semblante sério. “Não tem recado para essas pessoas, só tem a medalha no meu peito”, acrescentou Rafaela, que passou outras muitas dificuldades até se tornar campeã olímpica”. (A TARDE, 9/8/2016, p. B1).

No salto com vara, Thiago Braz não apenas conquistou uma medalha de ouro para o Brasil como ainda quebrou o recorde olímpico. Thiago conseguiu um salto de 6,03 metros, desbancando o favorito, o francês Renaud Lavillenie.

Baianos brilham

Na categoria de quebra de marcas, a Bahia contribuiu de forma intensa. Robson Conceição ganhou o primeiro ouro para o boxe brasileiro e Isaquias Queiroz realizou o feito de emplacar três medalhas na canoagem: duas individuais e uma ao lado do seu conterrâneo de Ubaitaba, município localizado no sul do estado, Erlon de Souza.

“Difícil dizer o que foi mais emocionante: se ver o canoísta Isaquias Queiroz, de Ubaitaba, tornar-se o primeiro brasileiro da história a conquistar três medalhas (prata nos 1000 m, bronze nos 200 m e prata nos 1000 m em canoa de dupla) em uma mesma edição de Olimpíada, ou se ver Robson Conceição, de Salvador, consagrar-se o primeiro brasileiro campeão olímpico no boxe”. (A TARDE, 22/8/2021, p. B2).

Robson Conceição ganhou, no seu retorno a Salvador, uma festa em grande estilo e com uma marca específica da Bahia: desfile em carro do Corpo de Bombeiros animado por um trio elétrico. A celebração foi em Boa Vista de São Caetano, bairro de origem do campeão.

“Projeção que atingiu o seu ápice quando a multidão o avistou chegando à Boa Vista de São Caetano no carro de bombeiros. Animados pelo locutor do trio elétrico contratado para acompanhar o pugilista até o bairro, os decibéis da gritaria foram aumentando de volume à medida que Robson era “reapresentado”. (A TARDE, 19/8/2016, p. B1).

A partir do próximo dia 23 novas histórias e marcas serão construídas. A delegação de 2021 é formada por 301 atletas brasileiros distribuídos por 35 modalidades, um número menor em relação à Rio 2016 e em uma situação completamente atípica devido à pandemia de coronavírus, que provocou o adiamento dos jogos em um ano e ainda provoca controvérsias, como críticas sobre a sua realização. A expectativa por recordes e medalhas chega, portanto, sob um inédito clima de apreensão devido à emergência sanitária, mas a história já está em marcha como foi com cada um destes jogos da era moderna em meio a conflitos, marcas de superação, ou seja, uma amostra das dinâmicas da vida em arenas, pistas, piscinas e outros espaços das disputas.

A reprodução de trechos das edições de A TARDE mantém a grafia ortográfica do período Fontes: Edições de A TARDE, Cedoc A TARDE.

*Cleidiana Ramos é jornalista e doutora em antropologia

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