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A Tarde Memória

Por Cleidiana Ramos

ACERVO DA COLUNA
Publicado sábado, 18 de março de 2023 às 7:00 h | Autor:

Sequência de Ó Paí Ó reitera a importância do Bando de Teatro Olodum

Companhia baiana que está prestes a completar 33 anos desenvolveu forma inovadora de arte

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Bando de Teatro Olodum em cena do espetáculo ‘Cabaré da RRRRRaça’, no ano de 1998
Bando de Teatro Olodum em cena do espetáculo ‘Cabaré da RRRRRaça’, no ano de 1998 -

Presente pra sua sexta. Vazaram umas imagens de Ó Paí Ó 2, fazer o que?”. Bastou essa mensagem do ator, diretor e produtor Lázaro Ramos, em seu perfil no Twitter, na semana passada, para a legião de fãs de Ó Paí Ó entrar no modo expectativa elevada para o lançamento da continuação do filme que conquistou público e crítica muito além das fronteiras da Bahia. A facilidade com que Ó Paí Ó transitou do teatro para o cinema e a TV além de ficar à vontade nas redes sociais por meio de memes, gifs e outros gêneros prova a vitalidade e inovação do Bando de Teatro Olodum, companhia que desenvolveu um conceito de arte negra. Essa trajetória está registrada nas coleções de reportagens e fotografias do Cedoc A TARDE.

“O Bando de Teatro Olodum é o grupo de teatro negro de maior longevidade na América Latina. São quase 33 anos ininterruptos. Mesmo com a pandemia a gente não parou porque nós fizemos muita coisa por meio do Youtube e das outras redes”, analisa o ator Jorge Washington que faz parte da formação de fundação do Bando criado em 1990.

A companhia dirigida por Márcio Meirelles e Chica Carelli teve a associação de artistas como Leda Ornelas e Maria Eugênia Millet além de atrizes e atores negros que estavam inseridos em companhias de teatro espalhadas pela cidade. Jorge Washington, por exemplo, era de um grupo sediado no Calabar. Era, portanto, a oportunidade de ganhar o centro da cena baiana.

“Márcio Meirelles já era um diretor consagrado e teve a ideia de criar uma companhia de teatro negra. Vários de nós, atores e atrizes, estávamos na periferia e queríamos alcançar o centro da cidade com a nossa arte. O Olodum tinha um trabalho social muito forte. Essa associação foi dando certo. Tanto que a primeira oficina para selecionar 30 atores teve mais de 100 inscritos”, conta Jorge Washington.

Bando em cena do espetáculo Ó Paí Ó
Bando em cena do espetáculo Ó Paí Ó | Foto: Cedoc A TARDE

Resultados como a alta procura de artistas negras e negros pelo projeto responderam às reflexões que Márcio Meirelles andava adotando em relação à forma de fazer teatro.

“Minha motivação foi o fato de querer investigar o possível motivo pelo qual as tradições cênicas e dramatúrgicas dos ritos, mitos e festas de matriz africana nunca tinham se transformado em teatro, ou sistematizados numa forma teatral, como aconteceu na Grécia, com a tragédia, e em culturas asiáticas com o teatro nô ou kabuki ou katakali ou por aí vai. E também pelo fato de à época termos muito poucos atores e atrizes nos palcos baianos tendo uma população majoritariamente negra na Bahia”, conta Márcio Meirelles.

A ligação com o Olodum funcionou como apoio institucional e na rede de efervescência que o grupo criava a partir dos seus festivais de arte que unia música, dança e outras linguagens. O nome “bando” foi uma provocação a partir de uma palavra que soava pejorativa.

“Ficamos juntos com o Olodum um bom tempo, mas sempre com a independência do espaço até que viramos uma companhia residente no Teatro Vila Velha. Mas essa ligação com o nome é bom para o Olodum que mantém essa ponte com uma companhia de teatro e para gente que tem o grupo cultural como uma referência forte. É associação positiva”, completa Jorge Washington.

No ano seguinte ao da fundação, a estratégia que levou à criação do bando já mostrava os seus resultados como apresenta uma reportagem publicada na edição de A TARDE de 6 de junho de 1991:

“Os diretores Márcio Meirelles e Chica Carelli consideram este trabalho como uma virada em suas vidas profissionais. "Para mim, foi como, finalmente, trilhar um caminho que buscava há muito tempo”, diz Márcio Meirelles. Ele faz uma análise interessante, segundo a qual “a fórmula de Esta é Nossa Praia aproxima o teatro enquanto necessidade estética do teatro enquanto necessidade social, caminho que o aproxima da cultura baiana, junta o palco com a rua". (A TARDE, 6/6/1991, Caderno 2, p.3).

A TARDE MEMÓRIA
BANDO OLODUM - O PAI O 2
 A TARDE registrou momentos da longa trajetória do Bando de Teatro Olodum. 
Foto CEDOC A Tarde
Data  6/6/1991
A TARDE MEMÓRIA BANDO OLODUM - O PAI O 2 A TARDE registrou momentos da longa trajetória do Bando de Teatro Olodum. Foto CEDOC A Tarde Data 6/6/1991 | Foto: Cedoc A TARDE

Intitulado Essa é a nossa Praia, o primeiro espetáculo da Companhia apresentou os personagens que circulam nas ruas da capital baiana, especialmente o Pelourinho. Muitos dessas criações migraram para Ó Paí Ó. A peça Bai Bai Pelô fecha a trilogia dessa abordagem centrada no cotidiano do Centro Histórico.

E além desses são muitos outros sucessos como O Novo Mundo, Áfricas e Cabaré da RRRRRaça. Esse último espetáculo está comemorando 25 anos, marca que o Bando está se preparando para celebrar em grande estilo.

“Acho que a longevidade da companhia é por conta de termos preenchido a lacuna de um teatro negro no Teatro baiano, com um trabalho de qualidade e debates pertinentes ao tempo em que vivemos e necessários a essa parcela da população que não se via representada no palco. Depois o fato de sermos artistas já reconhecidos por nossos trabalhos e termos nos associado ao Olodum, uma referência também midiática, para desenvolver esse projeto”, diz Meirelles que agora está envolvido com outros trabalhos. O Bando tem atualmente uma direção coletiva formada pelos integrantes.

Magnetismo

Apresentada nos palcos a partir de 1992, Ó Paí Ó já chegou causando segundo Jorge Washington. O tempo entre a ideia de Meirelles e a estreia no palco foi de mais ou menos duas semanas.

“Foi uma loucura. A gente brigando por causa do pouco tempo, mas aí estreamos com o ICBA lotado”, diz Jorge Washington.

Desde então, Ó Paí Ó foi rompendo limites, inclusive de linguagem, e chegou ao cinema em 2007 sob a direção de Monique Gardenberg. Mas a tradução para as telas por um triz não foi contemporânea ao seu período no teatro. A primeira investida nesse sentido foi de Caetano Veloso.

“Fomos fazer uma temporada no Rio de Janeiro. Caetano Veloso viu e já pensou no filme, ali mesmo em 1992. Ele chegou a escrever um roteiro, mas a parceria era com americanos e os caras queriam interferir muito então Caetano deixou pra lá. Mais tarde, Lázaro começou a conversar com Monique. Ela gostou e o Bando até participou do seu filme Jenipapo. Já tinha essa empatia e veio o trabalho de Lázaro, a conversa com Caetano que achou ótimo e pronto”, diz Jorge Washington.

A TARDE MEMÓRIA
BANDO OLODUM - O PAI O 2
 A TARDE registrou momentos da longa trajetória do Bando de Teatro Olodum. 
Foto CEDOC A Tarde
Data 20/9/1992
A TARDE MEMÓRIA BANDO OLODUM - O PAI O 2 A TARDE registrou momentos da longa trajetória do Bando de Teatro Olodum. Foto CEDOC A Tarde Data 20/9/1992 | Foto: Cedoc A TARDE

O filme já chegou desconstruindo a ideia de que o enredo de Ó Paí Ó – as dores e alegrias de um grupo de moradores do Pelourinho- era algo preso à época da polêmica retirada de muitos deles para a revitalização do Centro Histórico ou que a linguagem muito próxima do jeito de falar soteropolitano impediria uma conexão para além de determinados segmentos de público. O filme fez tanto sucesso que virou série da Globo.

“Ó Paí Ó tem essa capacidade de se conectar com as pessoas porque é a tradução do dia a dia. Você vê aquelas cenas acontecendo no cotidiano da cidade. Os personagens são tão queridos porque são muito próximos de pessoas reais que a gente encontra. E o público se reconhece ali. Na feira, nas ruas, nos tabuleiros de acarajé sempre encontro alguém que quer comentar sobre o filme, as cenas. É muito bacana”, acrescenta Jorge Washington.

A esperada parte dois do filme é uma prova de como esse sucesso tem muito ainda a oferecer. Tudo em torno da nova produção continua cercado de sigilo. Jorge Washington contou, por exemplo, que o teaser vazado tem cenas que podem nem aparecer no filme, o que só faz aumentar ainda mais a expectativa. Os boatos são de que a estreia pode acontecer ainda nesse semestre. Mas nada foi oficializado e guardar segredo faz parte da missão de quem está envolvido na produção como os integrantes do Bando.

“O que posso adiantar para vocês é que nós entregamos um grande filme. Foi tudo feito com muito cuidado e muita potência com um grupo de mulheres atuando nas áreas centrais da produção”, destaca Jorge Washington.

Ó Paí Ó 2 é dirigido por Viviane Ferreira que também assina o roteiro com Elísio Lopes Jr, Daniel Arcade, Igor Verde e integrantes do Bando de Teatro Olodum. O elenco tem Lázaro Ramos, Valdinéia Soriano, Cássia Valle, Tânia Toko, Luciana Souza, Rejane Maia e outras atrizes e outros atores que encarnam a maravilhosa comunidade do Centro Histórico e seus colegas de aventuras. As gravações foram finalizadas no ano passado e, ao que parece, além de Carnaval vai ter muita confusão do grupo em meio às festas de largo. É aguardar até a hora de tocar o bonde pra Lapinha e conferir a produção.

A TARDE MEMÓRIA
BANDO OLODUM - O PAI O 2
 A TARDE registrou momentos da longa trajetória do Bando de Teatro Olodum. 
Foto CEDOC A Tarde
Data 1/5/1992
A TARDE MEMÓRIA BANDO OLODUM - O PAI O 2 A TARDE registrou momentos da longa trajetória do Bando de Teatro Olodum. Foto CEDOC A Tarde Data 1/5/1992 | Foto: Cedoc A TARDE

Cleidiana Ramos é jornalista e doutora em Antropologia

*A reprodução de trechos das edições de A TARDE mantém a grafia ortográfica do período.

Fontes: Edições de A TARDE, Cedoc A TARDE

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