Textos de A TARDE mostram dados interessantes sobre feministas baianas
Em 1931 jornal deu cobertura à organização do ativismo da Federação Bahiana pelo Progresso Feminino
Cleidiana Ramos
O II Congresso Feminista
realizado no Rio de Janeiro em junho de 1931 teve a presença de uma delegação
baiana. Com base na reportagem publicada na edição de A TARDE de 16 de julho daquele ano, a participação das mulheres da Bahia encontrou problemas, como a
impossibilidade de apresentar algumas teses devido à falta de espaço para os
grupos fora do Rio de Janeiro. Embora a representação tenha sido formada por
expoentes da Federação Bahiana pelo Progresso Feminino (FBPF), como Edith Gama, as queixas no jornal foram
apresentadas por Hermelinda Paes, uma bacharela, possivelmente da área do
direito, que era representante do Ministério Público na Justiça Militar.
Esta ativista era uma defensora
da igualdade intelectual entre homens e mulheres que defendeu com destaque em
outra reportagem de A TARDE, publicada em 6 de abril de 1931 na seção
denominada A Tribuna Feminista. À pergunta
se era feminista e o porquê, Hermelinda Paes respondeu: (O texto mantém a
forma ortográfica do período)
“ Sim; sou feminista, compreendido este vocábulo na sua verdadeira accepção — synonimo de mulher evoluída, perfeitamente educada, que procura libertar-se da escravidão social imposta pela ignorância dos séculos passados. Penso que nasci com o calor da evolução. Só assim poderei explicar o contraste de ter vivido em meio acanhadíssimo, como o nosso, educada sob princípios os mais austeros, presa em apertado círculo de preconceitos e sentir, desde muito jovem, o avassalamento dos mais nobres e elevados ideaes de liberdade, independência e igualdade de direitos entre os sexos. Mas, este meu ideal, este amplo horizonte que descortinava, qual visionária, era incompatível com as idéas aqui professadas, com os usos e costumes do retrogrado povo bahiano habituado à sujeição da mulher a oprimi-la, humilha-la sempre que pretendia nivelar-se ao homem. E assim me tornei incomprehendida senão uma refratária. Mas que importava a mim o juízo dos que não me compreendiam? Era grande a minha ânsia de progredir, immenso e incontido o desejo de libertar-me do jugo opressor que me queria amarrada à tutela em que permanecia e ainda vive a maior parte das mulheres, e não pequeno o esforço despendido para a conquista da minha personalidade”.
Na sua avaliação sobre o congresso Hermelinda Paes destacou que foi até necessário lembrar de uma baiana como precursora do movimento feminista no Brasil: Leolinda Daltro. Ela foi lembrada no discurso da escritora Rachel Prado, segundo Hermelinda Paes.
Natural de Nagê, localidade pertencente
ao município de Maragojipe no Recôncavo Baiano, Leolinda Daltro nasceu, provavelmente,
em 1859. Em 1910 esteve em campanha pelo voto das mulheres e chegou a fundar o
Partido Republicano Feminino. Outro dos seus feitos foi a dedicação à educação
indígena sem interferência de catequese religiosa. Por conta do seu
protagonismo, Leolinda Daltro pagou um preço alto: separou-se do marido e ficou
conhecida, por esse motivo e pelas ideias feministas, como “a mulher do
diabo”.
Essas e outras questões sobre o
movimento feminista na Bahia são o tema de A TARDE Memória dessa semana. A
TARDE Memória é um projeto multimídia que tem conteúdo para canais do Grupo A TARDE
como este Portal, A TARDE FM (às sextas-feiras) e o jornal A TARDE (aos
sábados). O material publicado em A TARDE Memoria é baseado no acervo do Cedoc A TARDE.