Consistência ou lampejos?
Confira a coluna do jornalista Leandro Silva
O que pesa mais no futebol? Consistência e regularidade ou lampejos e brilhos intensos? Essa não é uma discussão sobre pontos corridos ou mata-mata, Brasileiro, em que o Bahia está em sexto, ou Copa do Brasil, em que também está entre os oito melhores, mas sobre a diferença de desempenho de Cauly entre 2023 e 2024. Logo de primeira, preciso avisar que esse texto foi escrito antes do importantíssimo jogo contra o Flamengo, ontem, pela Copa do Brasil.
Torço, portanto, para que, a essa altura, eu não tenha queimado a língua com o que disse nesse espaço, sobre o nosso camisa 8. A minha esperança é de que o jogo de ontem possa até ter reforçado esse texto e que estejamos todos nós, tricolores, felizes nesse momento com resultado e atuação de ontem, tanto coletiva quanto do nosso homem de gelo.
Ele conquistou a massa tricolor logo de cara. Se fosse na NBA, teria sido promovido a franchise player: o cara e a cara do clube. E, tal qual no basquete, o elenco da atual temporada foi montado ao redor daquele número 8, que um tal de Kobe Bryant também já carregou, nos Lakers.
O esforço para mantê-lo, resistindo a outras propostas, foi seguido pelo movimento de chegada de três jogadores que tinham tudo para potencializar as qualidades dele, já que Éverton Ribeiro, Jean Lucas e Caio Alexandre falam a mesma língua que o nosso alemão.
Em campo, dividindo agora o protagonismo, aquele brilho do ano passado não parece tão intenso, nem frequente. A bronca de parte da torcida, entretanto, parece fora do tom. Ao que tudo indica, motivada mais pela comparação da versão 2023 do camisa 8, com o modelo 2024, do que com uma avaliação pura e simples do nível de atuações.
Mais discreto, menos decisivo e com mais oscilações, sim. Com outros companheiros em 2023, convém lembrar, entretanto, que ele precisava chamar a responsabilidade com mais jogadas individuais, que, se repetidas com a mesma frequência, talvez prejudicassem o funcionamento da engrenagem tricolor.
É inegável que o brilho foi mais intenso em 2023, quando foi fundamental para a permanência na elite, com gols, assistências, dribles e muita elegância. Nos números, porém, não há tanta diferença.
O camisa 8 registrou ontem o 47º jogo no ano, igualando todo o ano anterior. No total de gols, foram 10 na temporada passada, enquanto começou o confronto contra o Flamengo com sete. Nas assistências, foram nove em 2023 contra seis de antes do jogo de ontem.
Contando apenas os Brasileiros, foram quatro gols e oito assistências em 2023 e outros dois gols e três assistências este ano. A essa altura, depois de 24 rodadas, no ano passado, eram dois gols também.
Ficaram na memória e no coração, também, atuações inesquecíveis, como contra o Goiás, golaços, feito o marcado contra o Corinthians, e grandes jogadas, como a que originou o gol de Thaciano no triunfo contra o Palmeiras, quando passou como quis pelos adversários, inclusive com um corte constrangedor em Gustavo Gómez.
Hoje, os lances plásticos rarearam. Por outro lado, na minha visão, ele passou a ter mais participação no controle do jogo. Junto com os companheiros, faz com que o setor de meio campo seja tão elogiado e controle os jogos.
E reconhecer isso talvez seja mais importante do que seguir com a espera incessante de que ele vá decidir as partidas em lances isolados, como em 2023. Que as confianças dele e nele retornem, junto com aquele brilho intenso, sem prejuízo para a contribuição para o coletivo.