Gosto pelo improvável
Confira a coluna Caldeirão de Aço
O técnico Rogério Ceni chega para outra entrevista coletiva pós-jogo. O desânimo estampado no rosto do ex-arqueiro, comandante do Esquadrão, denuncia que o resultado obtido fora de casa, contra adversário que estava na zona de rebaixamento, esteve longe de agradar. Mais do que isso, colocava o objetivo da temporada em risco, ainda mais sabendo que o próximo adversário, mesmo na Fonte Nova, seria o vice-líder do Brasileiro, ainda com chance de título. Contra as expectativas mais pessimistas, e com o aspecto psicológico do grupo visivelmente abalado, o treinador insiste em manter a esperança em uma reviravolta.
“Não sou profissional da área de psicologia. O que eu posso fazer é motivar sempre os meus atletas, mostrar o melhor caminho. Temos sempre que incentivá-los e também cobrá-los, no sentido de melhorar. É natural. Temos que saber que ainda há uma chance de triunfo e trabalhar em busca dele. Nós não vamos conseguir mudar o perfil psicológico em dois dias”, respondeu.
Toda a cena acima relatada poderia ter ocorrido após a derrota para o Juventude, em Caxias do Sul, no sábado, mas aconteceu no dia 3 de dezembro do ano passado, em Belo Horizonte, onde o Bahia perdeu por 3 a 2 para o América Mineiro e ficou bem mais distante de alcançar o objetivo da temporada passada, que era permanecer na elite.
Resgatei aqui o que foi dito por Ceni na coletiva do dia 3 de dezembro do ano passado na esperança de que, seja o que ele tiver feito naquela ocasião, nos dias seguintes, para incentivar, cobrar, mostrar que os triunfos eram possíveis e apontar o melhor caminho para os comandados, que ele consiga repetir agora.
Afinal, assim como o Esquadrão terá um desafio dos maiores na próxima quarta-feira, contra o atual vice-líder Palmeiras, ainda em busca do título brasileiro, o time do ano passado encarou o Atlético Mineiro, também em segundo lugar, na rodada final, e conseguiu o improvável, goleando, por 4 a 1, e alcançando o objetivo da temporada, que era a permanência na Série A.
Também comandado por Ceni, mesmo inferior tecnicamente ao atual, o time do ano passado obteve êxito em outros momentos improváveis, como: a goleada de 5 a 1 contra o Corinthians, que marcou o primeiro triunfo tricolor em Itaquera, e está registrado como o maior triunfo do clube como visitante nos Brasileiros; uma outra goleada, contra o Red Bull Bragantino, por 4 a 0; o show de gols, com direito a viradas no 6 a 4 contra o Goiás, em Goiânia; além da inspiradora quebra da invencibilidade do campeão brasileiro do ano passado, o mesmo Palmeiras, também na Fonte, com gol de Thaciano, no apagar das luzes.
Dessa vez, após a derrota, por 2 a 1, para o Juventude, o aspecto psicológico voltou a ser tema na entrevista coletiva do comandante. “Infelizmente, a equipe está sem confiança. É difícil. Eu falo que perder jogos é complicado, mas quando você perde a confiança, para readquirir, às vezes, demora um pouco de tempo. E não há muito tempo. São só mais cinco rodadas”.
O time atual também já conseguiu memoráveis e improváveis triunfos, entre os quais se destacam um 2 a 1 e um 1 a 0, no Engenhão e na Fonte, contra o atual líder do Brasileiro e finalista da Libertadores, Botafogo. É hora de se inspirar e resgatar os bons momentos. Exemplos não faltam de que, mesmo que improvável, o Esquadrão pode recuperar o brilho de antes, chegando a um histórico retorno à Libertadores, que parecia tranquilo demais para as tradições do Tricolor, mas agora pode chegar com muita emoção.