Reféns do mérito
Confira a coluna do jornalista Leandro Silva
Onde estiverem torcedores tricolores reunidos, uma ideia parece bem consolidada: a de que o Bahia estaria em situação muito melhor no Brasileiro nas mãos de outro treinador. Eu, porém, não consigo compartilhar esse sentimento. O que vejo é um time que está em uma importante sétima colocação, inédita na era dos pontos corridos, graças aos erros e também aos acertos de Rogério Ceni. Que visualizo hoje como refém dos próprios méritos e da expectativa gerada.
Para que o setor mais elogiado do Esquadrão pudesse se mostrar competitivo, o ex-goleiro precisou sacrificar as duas peças mais ofensivas. Apresentados nas escalações como jogadores mais adiantados no esquema, Thaciano e Everaldo, na realidade, parecem ter o foco prioritariamente voltado à fase defensiva. Isso ocorre justamente para ajudar no equilíbrio, compensando a falta de aptidão defensiva do quarteto de meio dos sonhos, formado por Caio Alexandre, Jean Lucas, Éverton Ribeiro e Cauly.
Não por acaso, hoje, depois do treinador, é justamente a dupla que aparece como maior alvo das broncas da torcida. Os números, entretanto, contradizem muitas dessas críticas. O Bahia tem 39 gols marcados em 29 rodadas. Apenas três times, fizeram mais gols: Botafogo, Palmeiras e Flamengo. Individualmente, apesar da prioridade defensiva, os dois também conseguem contribuir ofensivamente.
Everaldo, por exemplo, tem oito gols neste Brasileiro. Ele está a apenas três gols do artilheiro da competição, Pedro, e somente cinco jogadores conseguiram balançar as redes mais que ele. E o detalhe mais importante é que, dos que estão à frente dele nesse ranking, certamente nenhum tem tantas obrigações defensivas como o camisa 9 tricolor. Já o meio-campista Thaciano é o artilheiro do clube na temporada e fez seis dos 14 gols na principal competição do ano.
O desempenho recente, entretanto, serve como argumento para os críticos, já que o camisa 16 não balança as redes há oito jogos, sendo seis pelo Brasileiro, desde que fez os dois tentos do triunfo mais recente como visitante, contra o Grêmio. Enquanto Everaldo tem menos tempo sem marcar – apenas dois jogos -, mas, apesar dos dois gols nos quatro jogos mais recentes, tem somente os mesmos dois em 16 partidas, sendo 12 pelo Brasileiro.
O grande dilema que deve se passar na cabeça de Rogério Ceni sobre apostar em uma troca no setor para o restante da competição é: como conseguir ganhar ofensividade com as possíveis novas peças, como Biel, Ratão, Lucho e Ademir, sem perder a segurança defensiva proporcionada pela presença de Thaciano e Everaldo? Parece certo que a mudança não poderia se resumir a uma troca da dupla por dois desses quatro nomes. Seria preciso ajustar também o meio de campo.
Para o jogo de amanhã, contra o Cruzeiro, de certo mesmo é que duas trocas serão forçadas, por suspensões. Gilberto, naturalmente, deve assumir o posto deixado vago por Santiago Arias, na direita. No meio, a reposição a Caio Alexandre é menos óbvia, devido à lesão de Rezende. Por características, Acevedo levaria vantagem, mas a longa inatividade conta contra. Yago Felipe e De Pena também estão no páreo.
Apostando em trocas que possam driblar a previsibilidade, oxigenando a equipe para a reta final, ou mantendo a formação que ajudou a colocar o Bahia nas primeiras colocações, espero e torço para que o treinador consiga cumprir o objetivo de colocar o Esquadrão novamente na Libertadores. E um triunfo amanhã, contra o Cruzeiro, seria um passo importantíssimo nesse sentido.