Ninguém é antes de ser
Confira a coluna de Tostão: cronista esportivo, participou como jogador das Copas de 1966 e 1970
A Seleção Brasileira melhorou na goleada por 4x0 sobre o Peru, mas nem tanto. A fragilidade do adversário e o questionável pênalti no final do primeiro tempo quando o jogo estava 0x0 e o Brasil atuava muito mal, foram decisivos para a goleada e a boa atuação no segundo tempo.
Existem varias maneiras de jogar bem e de vencer. A Argentina e a Colômbia, no momento as duas melhores seleções sul-americanas, a Espanha, campeã da Europa, o Real Madrid do mundo e outras grandes equipes atuam diferente da seleção brasileira. Jogam com um trio no meio campo formado por um volante pelo centro, que marca e inicia as jogadas ofensivas, além de um meio-campista de cada lado, que jogam de uma intermediaria a outra. Quanto mais estas equipes pressionam na marcação, mais os dois meio-campistas estão próximo da área adversaria.
O time brasileiro deixa muitos espaços no meio campo com uma grande separação entre os dois volantes e os quatro mais a frente. Se Dorival Junior escalasse a seleção com um trio no meio campo, seria chamado de retranqueiro e de colocar três volantes. Bastaria Raphinha recuar dois passos e Gerson adiantar dois, para ficarem mais próximos. Está na hora do futebol brasileiro se libertar da rígida e antiga estrutura tática de separar as posições e funções dos camisas 5, 8, 9 e 10.
Há tempos, escrevo que houve no futebol brasileiro uma divisão no meio campo entre os volantes que marcam e os meias que atacam. Desapareceram os grandes meio-campistas que marcam e atacam. Muitos deles passaram a jogar mais no ataque, pelo centro e pelas pontas. É preciso também fazer o inverso, adaptar pontas hábeis, dribladores para atuarem no meio campo. Eles terão mais condições de sair das duras marcações com dribles e rápidas trocas de passes.
É o que fez Dorival Junior ao deslocar Gerson e Raphinha, que quase sempre jogaram pelas pontas, para o centro do campo, um mais recuado e outro mais adiantado. Não há ainda certeza se vão continuar bem na seleção, mas são esperanças.
O futebol brasileiro deveria parar rotular jogadores e treinadores a cada partida. O jovem Endryck, tratado como um fenômeno após belos momentos passou a ser ignorado, criticado. Ele é uma grande promessa. Ninguém é craque antes de ser.
Fla-Flu
Pelo Brasileirão, no Maracanã, com os dois times bastante desfalcados, o Flu ganhou do Fla por 2x0 com mais um recital de Ganso. Em 1963, com 16 anos, eu já era titular do Cruzeiro. Junto com alguns companheiros do bairro, mais ou menos da mesma idade, pegamos um ônibus para o Rio de Janeiro para assistir ao Fla x Flu, decisão do campeonato carioca, no Maracanã. Foi o maior público, 194 mil, da história do futebol de jogos entre clubes. Ficamos no meio da galera. Terminou 0x0 e o Flamengo foi campeão, graças as grandes defesas do mineiro Marcial. Muitos tempo depois, encontrei com Marcial no hospital, onde trabalhávamos como médicos.
Em 1969, também no Maracanã, joguei na partida de maior público pagante da história do futebol, 183 mil, na vitória por 1x0 do Brasil sobre o Paraguai, que deu classificação ao Brasil para a Copa de 1970. Todo encontro é um reencontro com algo que vivemos ou imaginamos.