100 dias nas prefeituras
Confira a coluna Conjuntura Política desta segunda

O marco de gestão quanto aos primeiros 100 dias dos governos municipais está consolidado na política brasileira como um momento para avançar sobre as prioridades governamentais, buscando objetivamente gerar impacto político na percepção do eleitorado sobre os líderes políticos em início de mandato.
O fato é que os primeiros 100 dias são frequentemente usados como um indicador do que se pode esperar do governo durante o resto de seu mandato. É importante notar, no entanto, que os primeiros 100 dias são apenas uma pequena parte do mandato de um governo e não devem ser usados como o único critério para avaliar o seu sucesso. De maneira geral, apresentar resultados dos primeiros meses de mandato é uma forma de dialogar politicamente com a cidade sobre os desafios encontrados e o que se planejou para resolvê-los mesmo que parcialmente.
Há mais um elemento existente pouco visível à população em geral: este primeiro momento também cumpre a tarefa de organização burocrática de funcionamento da gestão, assim como de “teste” quanto ao desempenho das secretarias e do conjunto dos órgãos públicos. Funciona como uma “parada técnica” no futebol sobre a qual repousa a necessidade de avaliar o quanto cada secretaria foi capaz de entregar resultado com impacto político imediato.
A demanda de diálogo estratégico no início de gestão não é por acaso: tradicionalmente, as disputas municipais são muito polarizadas diante de um ambiente no qual as prefeituras se tornam o centro de gravidade das oportunidades sociais e econômicas, isto é, a base de sociabilidade e de renda das famílias, o que estrutura a disputa de acesso à prefeitura.
Na prática, a eleição para prefeito e vereador mobiliza a forma como se vive nos pequenos municípios e aquele que está na condição de prefeito precisa acenar para aqueles eleitores que marcharam no pelotão derrotado nas urnas. Segundo dados do Censo de 2022, a Bahia possui 257 municípios com até 20 mil habitantes e 118 cidades entre 20 e 50 mil. Ou seja, quase todos os municípios baianos possuem uma dinâmica social e política polarizada sem segundo turno. Quem ganha se vê obrigado a despolarizar até como um mitigador de impactos sociais.
Uma forma consistente de monitorar os indicadores de desempenho envolve a realização de pesquisas de opinião periódicas que aprofunde a percepção que as pessoas estabelecem sobre a conjuntura política local. O monitoramento periódico permite uma radiografia detalhada entre os eleitores governistas e os opositores sobre o peso das ações e as expectativas sobre o futuro. Em síntese, os 100 primeiros dias de governo são mais do que um rito de passagem, mas um momento estratégico de planejamento e organização burocrática.
*Professor Adjunto de Ciência Política da UNILAB e pesquisador do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais (UFRB). E-mail: [email protected].