A Bahia no governo Lula
Tendência do terceiro mandato de Lula (PT) é um retorno às grandes alianças com partidos com força parlamentar
Como já analisamos neste espaço nas semanas anteriores, a tendência institucional predominante do terceiro mandato de Lula (PT) é um retorno às grandes alianças com partidos com força parlamentar, algo que depende hoje de uma “desbolsonarização” das bancadas e lideranças regionais, o que somente ganhará forma ao longo do primeiro ano de governo.
A governabilidade de Lula está diretamente associada à capacidade de construir um governo com equilíbrio das forças partidárias e suas lideranças regionais, o que já se confirmara na larga vantagem entre os eleitores do Nordeste, embora, Lula tenha conseguido mais votos em todas as regiões do país, quando comparado com o desempenho do PT com 2018. No Sudeste, por exemplo, no segundo turno o PT saltou de 15.016.238 votos em 2018 para 22.793.545 votos em 2022. Na série histórica das eleições presidenciais desde 1989, os 48,43% obtidos por Lula no primeiro turno na última eleição só perde para os 48,61% conquistados em 2006 (ver gráfico abaixo).
Como nada é por acaso, a eleição deste ano na região Nordeste foi de recorde de votos em Lula (desde 2002) no primeiro turno em Alagoas (56,50%), Bahia (69,73%), Piauí (74,25%), Rio Grande do Norte (62,98%) e Sergipe (63,82%). Longe de ter sido uma mera coincidência, a força dos nordestinos nos levou a um padrão de representação política muito bem delineado: a força do PT na região foi decisiva para a eleição de Lula e de governadores do partido.
A Bahia é o quarto maior colégio eleitoral do Brasil, atrás apenas de São Paulo (34.667.793 milhões), Minas Gerais (16.290.870 milhões) e Rio de Janeiro (12.827.296 milhões), correspondendo a 7,22% dos votantes do país. Isso por si só já garantiria o protagonismo de políticos baianos no próximo governo, mas trata-se do principal estado no qual o PT exerce hegemonia eleitoral.
O anúncio de Lula de que pretende nomear o governador Rui Costa (PT) para a Casa Civil é um reconhecimento do protagonismo dos baianos na reconstrução do lulismo na política brasileira, mas acena para outro fator: Lula também precisará de novas lideranças políticas em ascensão no cenário nacional para negociar com o Congresso, o mercado e segmentos da sociedade civil, que o distancie de um governo que seja uma repaginação de carreiras políticas que fracassaram pelo meio do caminho nos últimos anos, o que culminou no impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT).
Por fim, é possível que a Bahia tenha mais um ou dois ministérios. O convite feito a Margareth Menezes para chefiar o Ministério da Cultura é o reconhecimento da Bahia como um front de mulheres guerreiras na luta contra o racismo e na gestão de políticas culturais exitosas, além da liderança dos baianos por uma identidade nacional democrática e republicana em disputa no país.
*Cláudio André é Professor Adjunto de Ciência Política da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (UNILAB) e um dos organizadores do “Dicionário das Eleições” (Juruá, 2020). E-mail: [email protected]