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A corrida eleitoral dos prefeitos

Após reeleger 70% dos prefeitos em 2020, pleitos municipais terão alta intensidade de articulação política

Publicado segunda-feira, 08 de maio de 2023 às 13:34 h | Autor: Claudio André de Souza*
Imagem ilustrativa da imagem A corrida eleitoral dos prefeitos
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A teoria política moderna contou com as ideias de Alexis de Tocqueville (1805-1859) e dos Federalistas norte-americanos - Alexander Hamilton, James Madison e John Jay - para a defesa do federalismo como um mecanismo institucional de equilíbrio entre o poder do governo central e as unidades subnacionais.

As revoluções liberais engendradas a partir do século XVIII aliaram-se ao princípio do governo representativo, conferindo ao povo a legitimidade sobre a autorização de governantes eleitos para representar a sociedade.

O alastramento das ideias federalistas não foi capaz de evitar os caminhos tortuosos à sua efetivação no arranjo institucional de diversas nações, como o Brasil, que se tornou a partir de 1889 uma República Federativa, mas que conseguiu criar uma “gambiarra” ao integrar a política municipal (subnacional) aos ditames do coronelismo como um fenômeno exógeno na política e na sociedade brasileira.

Uma obra prima da ciência política brasileira foi “Coronelismo, Enxada e Voto” (1948) de Victor Nunes Leal. A obra que acabara de completar 75 anos analisou a prevalência dos coronéis como uma estrutura de poder fundamental, não sendo um mero mandonismo, mas uma dinâmica sistêmica de interação institucional entre município, Estado e União.

Com a redemocratização a partir de 1988, reafirmamos a força do federalismo e suas instituições subnacionais, mantendo a força do município na dinâmica do nosso sistema político, mas agora com uma novidade: o sistema proporcional de lista aberta elevou os deputados a parceiros estratégicos dos prefeitos, onde residem as suas bases eleitorais.

Nos últimos anos, a adoção de uma campanha enxuta de 45 dias, o aumento do protagonismo das emendas parlamentares e o fim das coligações proporcionais influenciam a antecipação do clima de pré-campanha, algo aliado a um aumento da profissionalização das campanhas eleitorais (pesquisas internas, marketing nas redes sociais, recuperação da imagem e popularidade de governos, etc.).

Na corrida eleitoral dos prefeitos, o cenário para as próximas eleições é bastante desafiador. Nas eleições de 2020, a Bahia tinha 84,4% de prefeitos aptos à reeleição. Passado o pleito, mais de 70% dos prefeitos foram reeleitos e não disputarão as próximas eleições, o que confere aos governos municipais uma alta intensidade de articulação política para definir qual será a liderança governista a suceder o grupo no poder, além da criação de estratégias para melhorar a performance dos prefeitos em exercício e os que buscarão a reeleição. Ainda temos o caso de grupos que racham, levando alguns municípios para uma disputa em torno de três ou mais candidatos. Se olharmos para a política municipal, veremos que a pré-campanha já começou!

*Professor Adjunto de Ciência Política da Unilab e um dos organizadores do “Dicionário das Eleições” (Juruá, 2020). E-mail: [email protected]

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