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A “guerra fria” entre o PP e o PSD na Bahia

Nas eleições de 2020, o PSD conquistou 108 prefeituras e o PP ficou em segundo lugar com 92 municípios

Publicado segunda-feira, 13 de junho de 2022 às 00:00 h | Autor: *Cláudio André de Souza
Otto Alencar, presidente dp PSD, o governador Rui Costa e o presidente do PP, João Leão
Otto Alencar, presidente dp PSD, o governador Rui Costa e o presidente do PP, João Leão -

As eleições municipais são uma espécie de prévia das ambições políticas dos partidos no âmbito estadual, havendo uma forte circularidade no padrão de representação política entre as duas eleições. Um exemplo disso é a cartografia das forças políticas baianas, que apontam para uma estabilidade a ser desafiada nas próximas eleições, em especial, o lugar do PP e do PSD como protagonistas da próxima coalizão governista. 

A adesão do PP ao governo de Jaques Wagner se deu em novembro de 2008 após as urnas apontarem o definhamento do grupo carlista. Naquele momento, já estava pavimentado o rompimento de Geddel Vieira Lima com o PT baiano. Nas eleições de 2008, a hegemonia do PMDB de Geddel levou o partido a ser o mais vitorioso no estado, conquistando 105 prefeituras, inclusive, a da capital baiana, com a reeleição de João Henrique. Logo atrás, veio o PT com 65 municípios conquistados.

A atração do PP para a base governista tornou-se um cálculo presumido: havia a necessidade de projetar uma liderança ex-carlista que neutralizasse o DEM de ACM Neto e Paulo Souto, bem como fosse capaz de recuperar parte do terreno perdido diante da ascensão de Geddel como pré-candidato. Em março de 2010, Otto Alencar já estava confirmado como a pessoa ideal para estar na chapa de reeleição de Wagner. 

Ao renunciar ao cargo de Conselheiro do Tribunal de Contas dos Municípios (TCM) para compor como vice-governador na chapa de Wagner, Otto foi fundamental para a reconfiguração do PP na política baiana, saindo de 3 deputados federais eleitos em 2006 (324.280 votos) para 4 eleitos em 2010, mas obtendo 582.690 votos, um aumento de 79% na votação do partido.

Esta estratégia colocava o PP em evidência, algo que deu certo, mas com a fundação do PSD em 2011, Otto Alencar se torna a principal liderança do partido na Bahia e um dos principais dirigentes da agremiação no Brasil. Na sua primeira eleição, o PSD conquistou 70 prefeituras na Bahia, levando o partido a eleger 4 deputados federais nas eleições de 2014, obtendo 527.721 votos, quase o mesmo tamanho do PP naquelas eleições (4 eleitos e 564.476 votos).

Nas eleições de 2016, PP e PSD conquistaram 57 e 82 prefeituras, respectivamente. Em 2020, o jogo virou e o PSD conquistou 108 prefeituras e o PP ficou em segundo lugar com 92 municípios a serem administrados por prefeitos filiados ao partido. Nas eleições de 2018, ambos os partidos elegeram quatro deputados federais. Mas o PP elegeu com menos votos, obtendo 481.661 frente os 737.263 votos do PSD. Há aí o efeito da coligação, algo que não haverá em 2022. Com o PSD obtendo mais votos nas últimas eleições e com ambos os partidos em lados opostos na corrida ao governo baiano pela primeira vez, quem levará a melhor? 

*Cláudio André é Professor Adjunto de Ciência Política da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (UNILAB) e um dos organizadores do “Dicionário das Eleições” (Juruá, 2020).

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