ACM Neto, Jerônimo e os prefeitos baianos
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Em entrevista para a Rádio Sociedade na semana passada, 1º, o ex-prefeito de Salvador ACM Neto (União Brasil) subiu o tom ao afirmar que o governador Jerônimo Rodrigues se comporta como um “puxa-saco” dos prefeitos. A estratégia defensiva a um suposto tipo de “cooptação” é um método de reação: desde o início do ano, o governo entendeu que havia um vácuo gigantesco de liderança política do seu principal opositor na relação político-partidária com os prefeitos. Depois disso, mais de vinte prefeitos que marcharam com a oposição em 2022 abriram conversas pessoais com a base governista e estão realinhando suas posições para as próximas eleições, o que revela uma mudança significativa na conjuntura.
Um primeiro aspecto é que a reação de ACM Neto resulta de uma crise pública de liderança agora criticada pela maneira vertical de obediência que ficou para trás no novo ciclo de poder pós-carlista. A forma de condução do grupo político que governa a Bahia há quase vinte anos se afastou da forma autocrática de liderança do ex-senador Antônio Carlos Magalhães (ACM). No período carlista, jamais prefeitos seriam consultados ou deliberariam juntos para a construção de uma estratégia eleitoral ou um tipo de decisão de governo. Por sinal, o PSD baiano se tornou um vértice da transição política do carlismo para um novo ciclo pós-carlista.
Um segundo aspecto é a base do sistema político: o federalismo estabelece uma divisão de competências entre os entes federativos caracterizada pela autonomia e interdependência entre União, estados e municípios nas relações intergovernamentais. Para além da busca incessante de qualquer partido em avançar na atração de apoio político, qualquer governador atua como elo entre as políticas estaduais e as demandas locais. O caso de São Paulo é emblemático: o PSD saltou de 64 prefeitos eleitos em 2020 para 206 em 2024. O Republicanos, partido do governador Tarcísio de Freitas, saltou de 23 para 84 prefeituras conquistadas. Isso seria mais um caso de “puxa-saquismo” ou um padrão de competição política no Brasil?
Um terceiro aspecto é um “nó tático” do governo a ser observado: a possibilidade de uma chapa de governadores com Jerônimo, Jaques Wagner e Rui Costa acelera a relação local com os prefeitos, um estilo e método de Rui que deu certo e elegeu Jerônimo quase no primeiro turno em 2022. A presença de Rui no núcleo central de poder no governo federal é um elo institucional também considerado pelos prefeitos que estão migrando para a base. O cálculo é simples: Jerônimo e Lula se mantêm fortalecidos na Bahia porque invertem o tipo de equilíbrio político pós-carlista do local para o nacional. Este tipo de articulação, inclusive, considera se ACM Neto será mesmo candidato a governador em 2026.
*Professor Adjunto de Ciência Política da UNILAB e pesquisador do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais (UFRB). E-mail: [email protected].