Aprovação pós-crise de Lula
Confira a coluna desta segunda-feira

A tensão gerada nas últimas semanas pelo tarifaço de Donald Trump gerou uma incerteza estratégica no centro da política brasileira. A ofensiva de Trump em um jogo combinado com a família Bolsonaro deu ao presidente Lula o manejo da agenda da defesa da soberania nacional, o que parece ter favorecido uma ligeira recuperação da sua imagem pública.
As rodadas de pesquisa da Quaest e da AtlasIntel apontam a melhora nos índices do governo. A aprovação subiu alguns pontos: de 40% para 43% na Quaest, e atingiu 47,3% na Atlas, sendo o maior patamar do ano. A desaprovação ao petista recuou e a distância entre os polos reduziu-se ligeiramente. A tendência será de melhora, mas será testada nas próximas três semanas com o desfecho em torno do início do tarifaço e a forma como o governo brasileiro e as lideranças empresariais reagirão ao “novo normal” nas relações comerciais entre o Brasil e os EUA.
Neste cenário contencioso, o Planalto tem tratado de forma cautelosa e estratégica a elaboração de ao menos seis novos programas sociais com capacidade de potencializar a popularidade do governo até o final do ano. Entre as medidas tratadas nos bastidores, estão a isenção de Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil; oferta de crédito a ser disponibilizado para reformas residenciais; uma nova faixa do Minha Casa, Minha Vida (MCMV) para a classe média alta (renda acima de R$ 12.000); gás de cozinha grátis para até 17 milhões de famílias; crédito para compra de motos elétricas com impacto entre os profissionais entregadores por aplicativos e estações de apoio aos caminhoneiros nas rodovias federais.
No jogo político, a análise pragmática feita pelos auxiliares diretos de Lula conforma-se na visão de que o fôlego dado por Trump e Bolsonaro com o tarifaço tem limites óbvios, já que a percepção sobre o governo atual precisa estar sustentada por políticas públicas sensíveis, sendo que a reeleição do petista depende da batalha de popularidade a ser travada desde já entre os eleitores dos grandes centros urbanos da região Sudeste.
Há mais um elemento crucial na estratégia do governo: diante de um centrão que começa a marcar distância de Bolsonaro, após os desgastes acumulados por sua aproximação com Trump há uma expectativa de um contingente amplo de parlamentares que topam se reaproximar de Lula, desde que haja sinais mais claros de estabilidade e melhora na popularidade do presidente.
A precificação observada no centrão é simples: grupos que se orientam pelo governismo e flertam com o poder obrigam o governo a agir rápido. A janela curta de recuperação do lulismo dependerá da oferta de um aceno real de estabilidade macroeconômica para as lideranças empresariais e de prosperidade para a maioria do povo brasileiro.
*Cláudio André é professor Adjunto de Ciência Política da UNILAB e pesquisador do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais (UFRB). E-mail: [email protected].