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Campus dos Malês resiste a Bolsonaro

Publicado segunda-feira, 16 de maio de 2022 às 05:59 h | Autor: Cláudio André de Souza*
Perseguição ao crescimento do campus se traduz no abandono de uma obra de dois blocos didáticos
Perseguição ao crescimento do campus se traduz no abandono de uma obra de dois blocos didáticos -

E se um projeto inovador fizesse a Bahia sediar uma Universidade Federal de cooperação internacional com os países africanos lusófonos? Muita gente não sabe, mas ela já existe!

Em outubro de 2008, iniciaram os trabalhos da Comissão de Implantação da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab) que, ao longo de dois anos, elaborou um conjunto de atividades relacionadas ao planejamento institucional, a organização da estrutura acadêmica e curricular e o desenho administrativo para a implantação da nova universidade na perspectiva da cooperação internacional solidária com os países pertencentes à Comunidade dos Países de Língua Portuguesa – CPLP, e, em particular, com os países Africanos de Língua Portuguesa (PALOP’s) como também com o Timor Leste.

Em 20 de julho de 2010, foi fundada a Unilab como Universidade Pública Federal sediada em Redenção no Ceará e em São Francisco do Conde (BA). A cidade cearense como a primeira no Brasil a libertar totalmente seus escravos. A cidade baiana é o município brasileiro com a maior população negra declarada no censo de 2010 (90,87%).

Nas articulações de bastidores de Brasília, a ex-prefeita Rilza Valentim (PT) foi peça fundamental no convencimento dos atores políticos do quanto uma nova universidade epistemologicamente comprometida com o combate ao racismo seria fundamental aos Territórios baianos, sendo que a Bahia teria uma inserção no Sul-Sul global sem precedentes. A batalha em Brasília foi favorável aos baianos e o Campus dos Malês passou a funcionar em fevereiro de 2013, mas foi em maio de 2014 que os cursos presenciais entraram em funcionamento do campus.

Na semana passada, o campus completou oito anos de funcionamento, contando com seis graduações – Ciências Sociais, História, Humanidades, Letras, Pedagogia e Relações Internacionais - e um mestrado.  Já temos um corpo docente com produção científica nacional e internacional, 28,66% de estudantes estrangeiros matriculados (a maioria da Guiné-Bissau) e um conjunto de projetos de pesquisa e extensão que conecta a sua interiorização à missão internacional de cooperação com os países africanos.

No entanto, a sanha bolsonarista em tratar combate ao racismo como “militância” e opinião tem afetado a expansão da universidade em solo baiano. Por ser a Bahia um estado governado pelo PT, a perseguição ao crescimento do campus se traduz no abandono de uma obra de dois blocos didáticos com 24 salas de aula, laboratórios, biblioteca que depende de poucos milhões de reais para a sua conclusão. A comunidade científica e a atual bancada baiana de deputados e senadores, além dos pré-candidatos ao governo, precisam mediar uma solução emergencial ainda no tocante ao Orçamento de 2022.

*Professor Adjunto de Ciência Política da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (UNILAB) e um dos organizadores do “Dicionário das Eleições” (Juruá, 2020). E-mail: [email protected]

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