Crise Política na Venezuela
Confira a coluna Conjuntura Política desta segunda-feira
A reeleição de Nicolás Maduro como presidente da Venezuela mergulhou o país em um cenário caótico. Oficialmente proclamado vencedor pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE) com 51,2% dos votos, Maduro viu sua vitória ser contestada pelo opositor Edmundo González, que alega ter obtido pelo menos 60% dos votos, segundo contagens paralelas. A falta de transparência no processo eleitoral, exacerbada por uma suspeita de ataque hacker ao site do CNE durante a apuração, intensificou as desconfianças e tensões políticas.
A Venezuela vê-se agora imersa em uma crise de legitimidade eleitoral. O CNE não divulgou as atas detalhadas da apuração, justificando o atraso pelos ataques cibernéticos que afetaram a transmissão de 20% dos votos na noite da eleição. A justificativa dos resultados com alegações de ataques cibernéticos e atraso na divulgação das atas eleitorais indicam um viés de manipulação do processo eleitoral. A recusa do CNE em disponibilizar as atas detalhadas alimenta ainda mais as suspeitas de fraude, evidenciando uma estratégia deliberada para minar a credibilidade das eleições e manter Maduro no poder.
A reação internacional à reeleição de Maduro foi majoritariamente negativa, sendo que Estados Unidos, União Europeia e Brasil exigem maior transparência nos resultados eleitorais. No Brasil, o presidente Lula condicionou o reconhecimento do resultado à apresentação das atas completas de votação, mas o Partido dos Trabalhadores (PT) adiantou-se reconhecendo a vitória de Maduro, divergindo da postura mais cautelosa do governo, que busca garantir a legitimidade do processo antes de endossá-lo.
Diante de uma oposição também radicalizada, a posição de mediação do governo Lula, condicionando o reconhecimento da vitória de Maduro à apresentação de evidências claras e transparentes, pode ser um passo crucial para uma resolução pacífica e legítima da crise. É essencial que a comunidade internacional continue a pressionar por uma maior transparência e integridade no processo eleitoral venezuelano. A restauração da confiança no sistema democrático é vital para que a Venezuela possa superar suas crises, abrindo uma transição para um novo pacto democrático. Mas quem vai sentar na mesa para prosperar este tipo de saída?
De olho na sua reeleição, Lula e o Planalto entenderam que essa posição de mediação do conflito reflete uma tentativa de balancear o apoio histórico ao chavismo com a necessidade de se alinhar às demandas por transparência e integridade eleitoral. Além disso, busca dialogar com a percepção interna de uma boa parte dos brasileiros que são refratários a essa aproximação do Brasil ao país vizinho. O cálculo político de Lula passa pela polarização eleitoral doméstica de 2026.
*Professor Adjunto de Ciência Política da UNILAB e pesquisador do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais (UFRB) – [email protected]