Estratégias eleitorais em Camaçari
Confira a coluna Conjuntura Política deste sábado
A relevância estratégica dos partidos em se organizarem para vencer as eleições nos maiores municípios tem um viés sociológico e político óbvio, pois, as maiores cidades exercem diretamente influência sobre as demais que tem a sua dinâmica urbana e econômica ligadas aos maiores municípios.
O município de Camaçari (BA) possui 205 mil eleitores e uma população de 300 mil habitantes, sendo o segundo município mais populoso da Região Metropolitana de Salvador (RMS) e entre os dez maiores colégios eleitorais da Bahia. Mais que isso, o Produto Interno Bruto (PIB) do município é estimado em cerca de R$ 34 bilhões, com um PIB per capita de R$ 109,9 mil, significativamente acima da média estadual de R$ 23,5 mil e da média da RMS de R$ 32,9 mil.
A economia de Camaçari é predominantemente industrial, com 60,5% do PIB proveniente da indústria. O Polo Industrial de Camaçari é um dos maiores complexos industriais da América Latina, abrigando mais de 90 empresas e gerando cerca de R$ 1 bilhão em ICMS para o estado da Bahia. A massa salarial de Camaçari não é para menos, são cerca de 80,6 mil empregos formais. A remuneração média dos trabalhadores formais é de R$ 3,8 mil, superior à média do estado.
Estes fatores forçaram a “estadualização” da disputa em Camaçari diante de uma polarização entre o PT e o União Brasil. O ex-prefeito de Salvador ACM Neto buscou centralizar as candidaturas do partido nas grandes cidades como uma fórmula a pavimentar a sua nova pré-candidatura ao governo baiano de olho em 2026. No entanto, perder Camaçari não ameaçaria o balanço positivo do partido e seus aliados de oposição, que vencera em 12 das 20 maiores cidades baianas. Já para os petistas, a vitória em Camaçari no segundo turno ganhou ares de “batalha final”, já que o partido não conseguiu conquistar nenhuma prefeitura entre as 20 maiores cidades no primeiro turno.
A vitória apertada no segundo turno com a eleição de Luiz Caetano (PT) deu ao PT algo ainda mais estratégico: governar Camaçari é impactar diretamente a dinâmica política na Região Metropolitana de Salvador, uma espécie de “vitrine” de gestão pública frente às futuras gestões do União Brasil, o seu principal adversário a ser enfrentado nas urnas.
Qual foi a última vez que o PT governou uma grande cidade baiana? O desafio do partido em reconquistar bases eleitorais estratégicas envolve a defesa nas urnas do poder estadual. De fato, Camaçari será a cidade mais estratégica dos petistas de olho em 2026, o que requer uma grande articulação de políticas públicas estaduais e federais. Vai pesar mais a técnica que a política e o foco deve ser um governo pragmático que recoloque o PT como uma referência de gestão e governança na política local.
*Professor Adjunto de Ciência Política da UNILAB e pesquisador do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais (UFRB). E-mail: [email protected]