João Roma e a terceira via na política baiana

Publicado segunda-feira, 22 de novembro de 2021 às 19:39 h | Atualizado em 22/11/2021, 19:39 | Autor: Claudio André de Souza*
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João Roma precisará atrair aliados de Neto via governo Bolsonaro | Foto: Divulgação / DEM
João Roma precisará atrair aliados de Neto via governo Bolsonaro | Foto: Divulgação / DEM -

Uma tripolarização na política baiana tem precedente: em 1982, a eleição ao governo foi tripolarizada. Mas a terceira via de então não tinha representatividade eleitoral. O candidato de Antônio Carlos Magalhães (ACM), João Durval, venceu com 53,30% dos votos válidos, o MDB de Roberto Santos, que obteve 33,82%; a terceira via era o recém-criado Partido dos Trabalhadores (PT), que lançou Edival Passos, que obteve somente 0,82% dos votos.

Nas eleições de 1986, havia quatro candidaturas, só que a polarização ficou concentrada na disputa entre o MDB, que lançou Waldir Pires e venceu, por larga vantagem, com 66,95% dos votos válidos, o Partido da Frente Liberal (PFL), ex-PDS, que lançara Josaphat Marinho. Delma Gama e Agostinho Rocha, juntos, não passaram dos 3%.

Em 1990, o jogo virou, com a retomada da hegemonia carlista, resultando na eleição de ACM ao governo baiano (50,71%). Roberto Santos (MDB) foi o segundo colocado, e Lídice da Mata (PCdoB), a terceira, com 9,54%. Pedro Irujo (PRN), José Sergio Gabrielli (PT) e Antônio Mendes (PMN), juntos, obtiveram 7,65%.

Já a disputa de 1994 - entre Paulo Souto (49,30%) e João Durval (25,29%) -, a de 1998 - entre César Borges (69,91%) e Zezéu Ribeiro (15,17%) - e a de 2002 - entre Paulo Souto (53,69%) e Jaques Wagner (38,47%) - foram polarizadas sem uma terceira via competitiva, o que só ocorre quando há uma força eleitoral que dispute acima dos 20% dos votos.

A vitória de Wagner em cima de Paulo Souto (PFL), em 2006, também foi sem terceira via; mas ela veio em 2010, com o MDB de Geddel Vieira Lima, que obteve o terceiro lugar, com 15,56%, quase empatado com Paulo Souto (16,09%). Wagner reelegeu-se com 63,38%.

Em 2014, Geddel desistiu da candidatura ao governo e decidiu sair ao Senado na chapa de Paulo Souto (DEM), o qual foi derrotado, em primeiro turno, pelos 54,53% dos votos válidos conquistados por Rui Costa. A terceira via foi Lídice da Mata, com apenas 6,62%.

A reeleição de Rui Costa em 2018, com 75,50% dos votos válidos, vale recordar, foi vencida por “W.O.”, diante da desistência de última hora de ACM Neto. O segundo colocado, Zé Ronaldo, teve 22,26% dos votos válidos; o terceiro colocado, o PSOL de Marcos Mendes, 0,66%.

Se João Roma pretende mesmo ser a terceira via, necessitará (a) atrair aliados de Neto via governo Bolsonaro, (b) formular críticas frontais a Neto, sua criatura na política baiana, (c) apresentar propostas divergentes das do PT e do DEM baianos e (d) montar alianças nos municípios por meio da cooptação de lideranças políticas aliadas ao DEM. Como nenhuma destas opções está dada neste momento, Roma vai empurrando com a barriga uma candidatura artificial em suspenso, que, porém, será motivo de barganha com Neto e com Bolsonaro. Faz parte do jogo político.

*Professor Adjunto de Ciência Política da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (UNILAB) e um dos organizadores do “Dicionário das Eleições” (Juruá, 2020)

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