Kassab e o Governo Lula
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Como ler os sinais quando um presidente nacional de um partido que ocupa três ministérios no governo diz que o ministro da Fazenda é fraco e que Lula perderia a eleição se ela acontecesse hoje? Como uma espécie de bússola, Gilberto Kassab costuma expressar posições como “tendência”, mas a leitura da sua declaração dada na semana passada em um evento para líderes empresariais reforça que Lula está na defensiva.
O que está por trás dessa leitura de Kassab? A pesquisa da Quaest divulgada na segunda (27) revelou que o presidente Lula (PT) é reprovado por 49% dos eleitores brasileiros e aprovado por 47%. É a primeira vez que a desaprovação supera a aprovação desde o início da série histórica da pesquisa a partir de fevereiro de 2023. Sem dúvidas, a reprovação nesse momento pesa diante da percepção dos eleitores sobre a condução da economia e uma reversão de expectativas alentadas durante as eleições.
Alguns números expressam o quanto o governo tem um grande desafio pela frente, a avaliação do governo caiu 11 pontos percentuais na região Nordeste, um sinal de alerta para o Planalto. Para se ter uma ideia, entre os eleitores de Lula (2022), a queda fna avaliação positiva do governo foi de 13 pontos percentuais entre outubro e janeiro deste ano. Ou seja, há um recuo na boa avaliação do governo mesmo entre os eleitores lulistas. Entre os eleitores bolsonaristas, a avaliação negativa subiu inversamente 12 pontos percentuais, isto é, o governo está perdendo apoio de ambos os lados da polarização. Isso não é normal.
Outro dado importante é que 66% das pessoas avaliaram que o governo errou mais do que acertou na crise do Pix. Isso mostra que a mudança na Secom com a nomeação de Sidônio Palmeira foi uma verdadeira gestão de crise: o governo não conseguiu produzir narrativas positivas nos últimos dois anos sobre o que tem feito de importante na vida dos brasileiros.
Em paralelo a um cenário de derretimento da imagem e avaliação do governo, a governabilidade de Lula chega a um beco sem saída. Embora o governo tenha 11 ministros indicados por partidos como o PP, PSD, União Brasil e Republicanos, o Planalto mudou o método de Bolsonaro de terceirizar ao centrão a articulação política e o controle total sobre as emendas parlamentares, sendo que agora vai precisar fazer uma reforma ministerial reequilibrando forças e medindo como pode incorporar Arthur Lira e Rodrigo Pacheco ao primeiro escalão do governo.
Umas das perspectivas em jogo diz respeito se o governo vai tornar o PSD um parceiro estratégico da coalizão, logo, essa foi a natureza do recado de Kassab a Lula. A governabilidade diante de uma nova reforma ministerial vai antecipar o cenário de reta final do terceiro governo do presidente Lula.
*Professor Adjunto de Ciência Política da UNILAB e pesquisador do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais (UFRB). E-mail: [email protected].