Lula e o voto no Nordeste
Confira a coluna desta segunda-feira

A publicação coletiva do livro Voto e Política no Nordeste (EDUEPB, 2025) chega com fôlego para ajudar a desmontar velhos estigmas e mostra por que o Nordeste se tornou peça-chave da democracia brasileira. Durante décadas, insistiu-se em ler a região como um território submisso às elites locais. A imagem do cabresto e do eleitor passivo servia para explicar de forma simplista a força dos velhos e “novos” coronéis como resultado final das estratégias eleitorais.
O livro evidencia que a urbanização, a presença das igrejas, o peso dos movimentos sociais e o impacto de políticas públicas redesenharam o comportamento eleitoral nos noves estados da região. O voto nordestino deixou de ser refém apenas dos chefes políticos e passou a refletir escolhas ligadas a projetos nacionais. A partir de 2006 com a reeleição de Lula, o Nordeste se tornou protagonista das vitórias do petista, uma estratégia sem precedentes.
Este processo não apagou a presença das elites locais, mas reduziu sua centralidade. O coronelismo perdeu espaço diante de uma nova realidade social marcada por cidadãos mais atentos e dispostos a votar em quem oferece inclusão e futuro. A ascensão do lulismo como um fenômeno de liderança e representação política soube interpretar essa virada e construiu um pacto político mais amplo em torno da valorização do Nordeste. O resultado é conhecido: Lula, Dilma e, mais recentemente, o retorno de Lula ao Planalto para um terceiro mandato tiveram no eleitorado nordestino o alicerce decisivo de suas vitórias.
O que isso significa? Há uma percepção mais ampla de que os governos que olharam para o Nordeste trouxeram mudanças reais a médio e longo prazo por meio de programas sociais, investimentos em educação, saneamento e políticas de valorização cultural, que ajudaram a forjar uma identidade política nova e centrada na extensão de Lula em lideranças locais a plasmar os interesses nacionais no andar de baixo do federalismo.
No capítulo que assino sobre a Bahia, o “lulismo baiano” se enraizou e inaugurou um ciclo político que pôs fim à hegemonia carlista. Em 2026, esse projeto completará vinte anos no poder estadual diante de uma trajetória que combinou renovação política, inclusão social e democratização da relação entre Estado e Sociedade. Parece distante, mas a Bahia viveu um ciclo com traços autocráticos que foi limitado pela força nacional e se refletiu nas urnas nas eleições de 2006 com a vitória de Jaques Wagner.
Para além das oligarquias, o fenômeno eleitoral associado ao lulismo no Nordeste é o que se espera em uma (boa) democracia, quando os partidos protagonizam rupturas e novos arranjos de conexão com os eleitores em uma competição centrada em interesses e políticas públicas.
*Cláudio André é professor Adjunto de Ciência Política da UNILAB e pesquisador do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais (UFRB). E-mail: [email protected].
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