Novo cenário para o lulismo
Confira o artigo de Cláudio André de Souza

Há menos de um ano da eleição presidencial, diversas pesquisas apontam um cenário inicial de inflexão na popularidade do governo do presidente Lula (PT), que o consolida no centro da disputa. Na pesquisa recente do Ipsos-Ipec, o governo aparece com 44% de aprovação e 51% de desaprovação, um saldo negativo semelhante com o que Lula tinha em 2005, uma aprovação de 45% ante uma desaprovação de 49%.
A virada de cenário se dá dentro de uma polarização que ainda mobiliza a maioria dos eleitores dos dois espectros ideológicos (lulismo x bolsonarismo), mas há fatos novos que devem ser levados em consideração. O governo melhorou a comunicação endógena com segmentos específicos de eleitores, estabelecendo uma linguagem própria para cada camada social, além de recalibrar a capacidade geral estratégica com a delimitação de uma nova agenda política.
A primeira agenda política envolve a reação aos Estados Unidos em torno da pauta da soberania. A resposta à ofensiva tarifária americana, a defesa de setores estratégicos e o discurso de autonomia recolocaram o governo em sintonia com parcelas da sociedade que não são categoricamente lulista, mas estão mobilizados pela defesa dos interesses nacionais.
A segunda agenda mirou o bolso de quem arbitra eleição: a classe média assalariada formal é o centro da estratégia que levou à aprovação na semana passada da isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil reais, beneficiando, segundo o governo federal, até 16 milhões de brasileiros a partir de 2026.
A terceira agenda política em debate é a proposta de adoção da tarifa zero no transporte público, que tem capacidade de atingir o orçamento de milhares de famílias brasileiras que ainda utilizam o transporte público diariamente nas grandes e médias cidades. Um projeto deste tipo consegue conectar o governo diretamente às pessoas sem intermediários federativos como estados e prefeituras.
A quarta agenda que pode consolidar a recuperação de popularidade do governo é o fim da escala 6x1 como uma pauta que mobiliza um grande contingente da classe trabalhadora envolta em um modelo predatório de jornada de trabalho que só piorou após a reforma trabalhista aprovada no governo de Michel Temer (MDB).
Estas quatro agendas formam um mosaico que reposiciona o governo no debate nacional. A nossa hipótese é que o lulismo elabora um pacto de bem-estar social com a classe média como estratégia eleitoral imediata para 2026. O cálculo não é acidental, pois, o governo entende que os governos melhoram a sua avaliação mais perto das eleições. Mais que isso, Lula necessita ter mais apoio e aprovação nos grandes centros urbanos onde estão o maior contingente de eleitores “despolarizados” e mais pragmáticos na decisão do voto.
*Cláudio André é professor Adjunto de Ciência Política da UNILAB e pesquisador do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais (UFRB). E-mail: [email protected].
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