O 2 de Julho dos presidenciáveis na Bahia
Quarto maior colégio eleitoral do país confirmou mais uma vez a relevância incontornável da Bahia
A saída imperial em torno da independência brasileira em 1822 apresentou uma fraqueza visível: nos tornamos uma monarquia constitucional representativa atabalhoada, que não teve como consequência imediata o desmembramento da metrópole, tampouco pusemos fim à escravidão, à grande propriedade, nem fomos capazes de criar um processo profundo de inclusão social e política.
A manutenção da hierarquia social escravista dominou o nosso processo de independência. Foi nesse ambiente que se deu a independência de Portugal, mas em um processo político que não terminou em 1822 e selada pelo 2 de julho baiano, revelando a centralidade das lutas políticas por aqui como uma etapa irrevogável para a estabilidade política nacional.
Quase 200 anos depois, a condição de quarto maior colégio eleitoral do país confirmou mais uma vez a relevância incontornável da Bahia na competição política nacional. O presidente Jair Bolsonaro (PL) preferiu realizar uma motociata a partir do Farol da Barra. A sua agenda cumpriu uma dupla missão: reforçar a mobilização dos seus apoiadores, explicitando o seu apoio a João Roma (PL) para o governo baiano, algo capaz de impactar ACM Neto e a sua relação com a base bolsonarista.
Já Ciro Gomes (PDT) veio cuidar das suas parcas bases eleitorais, ao mesmo tempo que precisa ajeitar o seu palanque com o União Brasil de ACM Neto. A presença do cearense também ajuda a alavancar a pré-campanha dos candidatos a deputado, algo fundamental depois do fim das coligações proporcionais, o que tem colocado os partidos diante do desafio de projetar a medida da necessidade de lançar mais candidaturas.
Se por um lado Simone Tebet fez bonito, mas sem esconder a sua orfandade diante da adesão do diretório baiano do seu partido à chapa do PT, o ex-presidente Lula foi o mais vitorioso na gestão do seu capital político. Na dimensão local, preferiu descartar a polarização com ACM Neto por saber que o ex-prefeito tem uma imagem positiva, sendo a melhor estratégia aumentar o grau de conhecimento da chapa “Lula-Jerônimo”, um objetivo plenamente alcançado pelos petistas.
Em segundo lugar, ao ler um discurso cuidadosamente elaborado, o ex-presidente mandou “directs” ao mercado ao criticar a PEC eleitoreira do centrão e de Bolsonaro e ainda deu tempo de ressaltar a importância das Forças Armadas em limitar-se ao seu papel constitucional de ficar longe do ambiente político-partidário. Nas entrelinhas, Lula pôs Bolsonaro nas cordas. Com Geraldo Alckmin ao seu lado na Fonte Nova, o petista prometeu estabilidade para o mercado e às instituições como quem vende água no deserto. Sem exagero, podemos dizer que Lula trouxe à Bahia o esboço de um novo (em parte velho) pacto político nacional.
*Professor Adjunto de Ciência Política da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (UNILAB) e um dos organizadores do “Dicionário das Eleições”