O homem-bomba da direita
Confira a coluna Conjuntura Política desta segunda-feira, 18
Poucas semanas após o final das eleições municipais que consagraram o crescimento eleitoral do Partido Liberal (PL) e alguns dias depois da eleição de Donald Trump para mais um mandato à frente da presidência dos Estados Unidos, a ação orquestrada do terrorista Francisco Wanderley Luiz, 59, em explodir o Supremo Tribunal Federal (STF) está longe de ser um “ato solitário”, mas se conforma diante de um enredo ideológico e político-partidário particular do bolsonarismo com a mesma gramática de organização política que levou à tentativa de golpe do 8 de janeiro de 2023.
Longe de uma mera casualidade, o terrorista bolsonarista premeditou a sua mudança para Brasília, alugou quitinete e também um trailer nos arredores do Anexo 4 da Câmara dos Deputados, planejando cada ação voltada a assassinar o ministro do STF Alexandre de Moraes. Antes que alguém julgue se tratar de um “lobo solitário”, o terrorista foi candidato a vereador em Rio do Sul pelo PL em 2020, isto é, emergiu como mais um soldado bolsonarista no interior do sistema político, provando que a direita radical que adentra na ordem não está necessariamente moderada e acomodada nas instituições, mas, literalmente, se volta a explodir o poder democrático.
Os resquícios do golpismo bolsonarista nunca foram bem resolvidos do ponto de vista ideológico por parte da direita brasileira, seja ela mais ou menos moderada. Muita gente julgou de forma errônea que os atos de janeiro de 2023 não passavam de uma turba radical a perecer ao longo do tempo, mas estamos diante da violência como método de confronto ás instituições, tudo isso na esteira de uma tentativa sórdida de entender que o bolsonarismo se radicalizou e que agora voltou atrás, em um“novo“PL moderado enquanto uma máquina partidária competitiva liderada de forma centralizada por Valdemar da Costa Neto.
Negando estes fatos, o homem-bomba bolsonarista reproduz a teleologia da sua ação política na manutenção de uma estratégia dual: enquanto o PL de Valdemar busca conviver no tensionamento entre a ordem e o golpismo para que sobreviva nas urnas em 2026, as redes sociais bolsonaristas e as suas lideranças mantêm a base em combustão para que gere coesão simbólica e política mesmo que esteja em jogo o confronto violento às instituições.
Quantos Franciscos estão soltos por aí organizando a base bolsonarista? De que forma, a direita segue normalizando o radicalismo violento e golpista? Em tempos de conversa fiada de anistia e retorno da elegibilidade de Bolsonaro, o episódio da semana passada reverbera os perigos os quais ainda estamos submetidos a curto e médio prazo. A direita e as suas forças partidárias devem ser cobradas quanto ao compromisso com a democracia.
*Professor Adjunto de Ciência Política da UNILAB e pesquisador do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais (UFRB). E-mail: [email protected]