O pacote econômico de Haddad
Uma das principais iniciativas é a elevação da faixa de isenção do Imposto de Renda
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As recentes medidas econômicas anunciadas pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, representam um esforço significativo para equilibrar as contas públicas por meio de um pacote fiscal que prevê uma economia de R$ 71,9 bilhões entre 2025 e 2026, com um impacto acumulado de R$ 327 bilhões até 2030.
Uma das principais iniciativas é a elevação da faixa de isenção do Imposto de Renda para rendimentos de até R$ 5 mil mensais. Para compensar a perda de arrecadação estimada em R$ 35 bilhões, o governo propôs aumentar a tributação sobre os mais ricos com rendimentos anuais superiores a R$ 600 mil, que enfrentarão uma alíquota efetiva de 10%, corrigindo distorções que permitiam que o estrato 1% mais rico do país pagasse apenas 4,2% de imposto.
O pacote também inclui medidas para controlar gastos obrigatórios, como a limitação do reajuste do salário mínimo, que passará a ser limitado à expansão real do arcabouço fiscal, de 2,5% em 2025. Com essa mudança, o salário mínimo, que hoje é de R$ 1.412, passará para R$ 1.515. Além disso, o abono salarial, atualmente pago para quem recebe até dois salários mínimos, será ajustado para beneficiar aqueles com renda de até R$ 2.640, equivalente a um salário mínimo e meio.
Outras ações propostas são de grande impacto político como a que busca ajuste nos benefícios dos militares, como a imposição de uma idade mínima para que militares entrem na reserva e a limitação de transferências de pensões militares. Essas mudanças são projetadas para economizar até R$ 16 bilhões.
Como o mercado reagiu? O anúncio das medidas gerou volatilidade com o dólar ultrapassando R$ 5,98, refletindo a preocupação dos investidores com o compromisso do governo em equilibrar as contas públicas porque esperavam que as medidas impopulares e restritivas não viessem acompanhadas de um aceno efetivo na correção da base tributária de cobrança de impostos entre os que ganham mais e os que ganham menos na base da pirâmide de renda dos brasileiros. Em resposta, líderes do Congresso decidiram adiar a reforma do Imposto de Renda e enfatizaram a necessidade de focar primeiro nos cortes de gastos em um claro aceno benevolente aos players do mercado financeiro.
A proposta de Haddad vai na direção certa ao buscar mexer minimamente no topo dos mais ricos, isto é, são passos importantes para a sustentabilidade fiscal e a justiça social. No entanto, sua implementação requer habilidade política para equilibrar interesses econômicos de uma burguesia pouco afeita a uma socialdemocracia de verdade, que dê mais lastro e poder de consumo para a classe média. Na dimensão eleitoral, o governo, enfim, emplaca uma grande agenda que não reduz o mandato de Lula ao debate polarizado sobre o golpismo bolsonarista dos últimos anos.
*Professor Adjunto de Ciência Política da UNILAB e pesquisador do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais (UFRB). E-mail: [email protected]