O que dizem as pesquisas eleitorais para presidente?
Entre 1994-2014, o voto no Brasil esteve conformado pela polarização PT-PSDB. Embora existissem mais de vinte partidos, petistas e tucanos conduziram estratégias focando na disputa presidencial, levando os demais partidos a concentrarem esforços para as eleições legislativas e os governos estaduais.
Nas eleições de 2018, a desidratação tucana foi gigantesca. Em 2014, o PSDB do candidato Aécio Neves obteve 44,22% em São Paulo; 39,75%, em Minas Gerais; e 26,93%, no Rio de Janeiro. O fato é que a maior parte desses votos ficou com Bolsonaro em 2018, ao passo que o tucano paulista Geraldo Alckmin teve somente 9,52% dos votos no seu estado, 4,61% entre os mineiros e humilhantes 2,44% entre os cariocas.
Sem segurar o capital político conquistado nas urnas, Bolsonaro está perdendo condições competitivas para pleitear a sua reeleição. Na pesquisa Datafolha realizada em meados de setembro, 59% dos eleitores rejeitam a opção de voto em Bolsonaro em 2022. Na pergunta estimulada para saber em quem os entrevistados votariam, 44% preferem Lula, ante os 26% que intencionam votar no presidente. Bolsonaro viu derreter cerca de 30 pontos percentuais que foram dele em 2018.
A pesquisa da Quaest/Banco Genial é ainda mais alarmante, pois 53% avaliam o governo de forma negativa; entre os entrevistados que ganham até 2 salários, a rejeição ao governo passou de 46%, em julho, para 58% em outubro. Em julho, 28% viam a economia como o principal problema do país. Já são 44%, em outubro.
Em outra pergunta, 69% dos que foram ouvidos pela pesquisa afirmam que a economia piorou no último ano, e 62% afirmam que o país não vai controlar a inflação nos próximos meses. Na intenção de voto, Lula lidera com 43%, e Bolsonaro tem 24%
O maior desafio de Bolsonaro será convencer uma parte do eleitorado a voltar a apoiá-lo em 2022, mas fará isso com quais argumentos? Uma outra pergunta da pesquisa Quaest testou quem o eleitor prefere que vença: 42% querem Lula; 23%, Bolsonaro; e 29%, nenhum dos dois.
Sem um “milagre econômico” populista, dificilmente Bolsonaro se mostrará competitivo a curto prazo, o que já incentiva Brasília a projetar um “Plano B”, no qual Bolsonaro será derrotado em 2022.
A criação do União Brasil e a antecipação das conversas para a filiação de Bolsonaro a um partido são sinais de reconhecimento da força do bolsonarismo para eleger uma bancada enorme de deputados e senadores, mas atesta a leitura de que será difícil reeleger seu líder, com a manutenção de Lula no páreo. Sem dúvida, pesa mais para uma provável derrota o fato de termos um governo débil aos olhos da maioria dos eleitores. Bolsonaro tem quatro meses para reverter a queda de popularidade se quiser sonhar em continuar morando no Alvorada em 2023.
Acesse a pesquisa completa do Datafolha aqui
Acesse a pesquisa Quaest/Banco Genial aqui
*Claúdio André é Professor Adjunto de Ciência Política da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (UNILAB) e um dos organizadores do “Dicionário das Eleições” (Juruá, 2020).