O tamanho da vitória de Bruno Reis
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Diferente do passado oligárquico da maioria das lideranças carlistas que seguiam um processo familista de sucessão, a trajetória de Bruno Reis se deu por meio da burocracia partidária e parlamentar, sendo que ingressou na política no final dos anos de 1990 como assessor na Câmara Municipal de Salvador. A militância partidária tornou-se mais intensa na condição de vice-presidente do PFL Jovem na Bahia sob a liderança de ACM Neto, que se tornou deputado federal eleito em 2002, tendo Bruno como um dos seus apoiadores e coordenadores de campanha.
A virada eleitoral na carreira de Bruno se deu em 2010, quando foi eleito deputado estadual pela primeira vez com o apoio de ACM Neto, que se tornaria prefeito nas eleições de 2012, contando mais uma vez com o protagonismo de Bruno como coordenador da sua campanha. Em seguida, Bruno se reelege deputado estadual pelo MDB nas eleições de 2014, sendo o sexto deputado mais votado em Salvador, o que viabilizou a sua liderança no governo municipal de ACM Neto e pavimentou a candidatura a vice-prefeito na chapa de reeleição em 2016.
Sabe o que tudo isso quer dizer? Que a carreira de Bruno foi planejada meticulosamente a longo prazo para que assumisse um lugar de destaque enquanto uma nova liderança política pós-carlista, exatamente a estratégia que tem faltado ao campo político liderado pelo PT na capital baiana. Quais lideranças políticas consolidadas foram, por exemplo, fortalecidas depois que o governador Rui Costa obteve 72,23% dos votos válidos em Salvador na eleição de 2018? A candidatura de Major Denice (PT) e as demais foram nulas quanto à capacidade de representar uma onda de mobilização da sociedade civil com força para provocar uma perda de espaço político de ACM Neto e Bruno Reis nas eleições de 2020.
Outro elemento deve ser analisado: Bruno Reis e ACM Neto souberam neutralizar com êxito quaisquer articulações do Partido Liberal (PL) voltadas a formar um palanque bolsonarista em Salvador. Diferente de outras capitais nas quais o partido de Bolsonaro e de Valdemar da Costa Neto lançaram candidaturas para disputar abertamente o campo da direita, o caminho em Salvador foi de acomodação do PL na chapa do União Brasil, o que levou Bruno Reis a não enfrentar obstáculos dentro do seu campo ideológico.
Na prática, o prefeito reeleito unificou o campo da direita em torno da sua candidatura, evitando sobressaltos do lado bolsonarista, ao passo que conduziu uma forte máquina política nos bairros no intuito de capturar na ponta o eleitorado lulista em Salvador. Deu certo. Bruno Reis obteve uma vitória eleitoral que o torna uma liderança nacional do União Brasil e o coloca na primeira fila do grupo pós-carlista liderado por ACM Neto.
*Professor Adjunto de Ciência Política da UNILAB e pesquisador do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais (UFRB)