Quem apoia Bolsonaro?
Uma das lições deixadas por um dos maiores
filósofos políticos do mundo, o italiano Norberto Bobbio, refere-se ao
desencontro do Estado liberal com o regime democrático. Podemos entender
liberalismo como uma determinada concepção de Estado voltada a limitar seus
poderes e funções. Por democracia, entende-se uma das várias formas de governo,
na qual o poder não está nas mãos de um só ou de poucos.
O Estado liberal como um estado que dá
liberdade e limita os poderes estatais em direção à vida privada existe em
contraposição ao Estado absoluto. Qual a finalidade? Gerar mecanismos
constitucionais que limitem e impeçam o exercício arbitrário e ilegítimo do
poder do Estado sobre as pessoas.
Para Bobbio, Liberalismo e Democracia se tornaram
valores normativos imprescindíveis, mas parece que uma parte da classe política
brasileira se mantém firme na tentativa de “normalizar” o presidente Bolsonaro,
como se fosse um mero desvio retórico ameaçar instituições, como o STF e a
Justiça Eleitoral.
Quem não lembra quando o deputado Eduardo
Bolsonaro (PSL-SP) quis se tornar Embaixador em Washington, um dos cargos mais
importantes da diplomacia brasileira? Em abril de 2019, Bolsonaro passou a
apoiar a realização de protestos a favor do governo como uma resposta às
manifestações contra o corte de verbas da educação. Com um detalhe: os atos miraram
no Ministro Dias Toffoli, por este ter aberto inquérito para apurar fake news e
ofensas ao STF.
A milícia antidemocrática só foi freada em junho
de 2020 em plena pandemia, quando o STF chegou prendeu aqueles que encabeçavam
protestos e ameaças aos ministros da corte. Como não lembrar da Assembleia
Geral da ONU de setembro de 2020 quando Bolsonaro atacou a imprensa brasileira
por “espalhar o pânico entre a população”? No ano anterior, o presidente afirmou
que “índios e caboclos” causavam as queimadas para sua sobrevivência, aliviando
a barra de garimpeiros e grileiros.
Em 24 de março de 2020, em pronunciamento em
cadeia nacional, o presidente afirmara que "o vírus chegou, está sendo
enfrentado por nós e brevemente passará. Nossa vida tem que continuar. Devemos,
sim, voltar à normalidade”. Poucas semanas depois, estava o presidente
achincalhando Sergio Moro em uma reunião ministerial pela sua incompetência em
não interferir a favor dos seus interesses na Polícia Federal.
Não há princípios democráticos e republicanos que sustentem o voto em Bolsonaro, um golpista antidemocrático confesso. Uma parte da classe política que marchar rumo ao golpismo escancarado do presidente deverá ser responsabilizada legal e politicamente por tamanho erro, inclusive, aqueles que se intitulam liberais e democratas. Afinal, não precisa votar em Lula para rechaçar veementemente o bolsonarismo.
*Cláudio André é Professor Adjunto de Ciência Política da
Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (UNILAB)
e um dos organizadores do “Dicionário das Eleições” (Juruá, 2020).