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Quem apoia Bolsonaro?

Publicado segunda-feira, 06 de junho de 2022 às 06:00 h | Autor: Cláudio André de Souza*
Brazilian President Jair Bolsonaro prepares to speak after joining his supporters who were taking part in a motorcade to protest against quarantine and social distancing measures to combat the new coronavirus outbreak in Brasilia on April 19, 2020. (Photo by EVARISTO SA / AFP)
Brazilian President Jair Bolsonaro prepares to speak after joining his supporters who were taking part in a motorcade to protest against quarantine and social distancing measures to combat the new coronavirus outbreak in Brasilia on April 19, 2020. (Photo by EVARISTO SA / AFP) -

Uma das lições deixadas por um dos maiores filósofos políticos do mundo, o italiano Norberto Bobbio, refere-se ao desencontro do Estado liberal com o regime democrático. Podemos entender liberalismo como uma determinada concepção de Estado voltada a limitar seus poderes e funções. Por democracia, entende-se uma das várias formas de governo, na qual o poder não está nas mãos de um só ou de poucos.

O Estado liberal como um estado que dá liberdade e limita os poderes estatais em direção à vida privada existe em contraposição ao Estado absoluto. Qual a finalidade? Gerar mecanismos constitucionais que limitem e impeçam o exercício arbitrário e ilegítimo do poder do Estado sobre as pessoas.

Para Bobbio, Liberalismo e Democracia se tornaram valores normativos imprescindíveis, mas parece que uma parte da classe política brasileira se mantém firme na tentativa de “normalizar” o presidente Bolsonaro, como se fosse um mero desvio retórico ameaçar instituições, como o STF e a Justiça Eleitoral.

Quem não lembra quando o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) quis se tornar Embaixador em Washington, um dos cargos mais importantes da diplomacia brasileira? Em abril de 2019, Bolsonaro passou a apoiar a realização de protestos a favor do governo como uma resposta às manifestações contra o corte de verbas da educação. Com um detalhe: os atos miraram no Ministro Dias Toffoli, por este ter aberto inquérito para apurar fake news e ofensas ao STF.

A milícia antidemocrática só foi freada em junho de 2020 em plena pandemia, quando o STF chegou prendeu aqueles que encabeçavam protestos e ameaças aos ministros da corte. Como não lembrar da Assembleia Geral da ONU de setembro de 2020 quando Bolsonaro atacou a imprensa brasileira por “espalhar o pânico entre a população”? No ano anterior, o presidente afirmou que “índios e caboclos” causavam as queimadas para sua sobrevivência, aliviando a barra de garimpeiros e grileiros.

Em 24 de março de 2020, em pronunciamento em cadeia nacional, o presidente afirmara que "o vírus chegou, está sendo enfrentado por nós e brevemente passará. Nossa vida tem que continuar. Devemos, sim, voltar à normalidade”. Poucas semanas depois, estava o presidente achincalhando Sergio Moro em uma reunião ministerial pela sua incompetência em não interferir a favor dos seus interesses na Polícia Federal.

Não há princípios democráticos e republicanos que sustentem o voto em Bolsonaro, um golpista antidemocrático confesso. Uma parte da classe política que marchar rumo ao golpismo escancarado do presidente deverá ser responsabilizada legal e politicamente por tamanho erro, inclusive, aqueles que se intitulam liberais e democratas. Afinal, não precisa votar em Lula para rechaçar veementemente o bolsonarismo.

*Cláudio André é Professor Adjunto de Ciência Política da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (UNILAB) e um dos organizadores do “Dicionário das Eleições” (Juruá, 2020).

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