Você ainda confia na família Bolsonaro?
Confira o artigo do professor Cláudio André de Souza

As próximas gerações da sociedade brasileira revisitarão de forma estarrecedora os fatos que se sucederam na última semana. Qual lugar do mundo imaginaríamos ver um ex-presidente em conluio com um filho parlamentar articulando e comemorando publicamente a perseguição política promovida por uma superpotência estrangeira?
O anúncio do tarifaço de Trump articulado pela família Bolsonaro deixou às claras o anti-patriotismo desta turma, já que atinge diretamente a economia de estados exportadores aos EUA e com uma grande parcela de eleitores bolsonaristas (Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná e Santa Catarina), o que gerou uma zona de tensão na liderança do governador de São Paulo Tarcísio de Freitas, escolhendo ser fiel a Bolsonaro acima dos interesses imediatos das lideranças empresariais paulistas.
Mas, o que está em jogo? A família Bolsonaro torce pela radicalização de Trump em ações como a que foi anunciada por Marco Rubio, secretário de Estado do governo Trump na sexta (18), revogando os vistos americanos para o ministro do STF Alexandre de Moraes. O que a família também deseja é defender a anistia a Bolsonaro, mas calcula de maneira sorrateira de que forma a interferência externa pode favorecer uma candidatura familiar para presidente, rifando Tarcísio de uma união entre as direitas moderada e radical para as eleições de 2026.
A gravidade da situação levou o STF a uma reação imediata: a Polícia Federal cumpriu mandados de busca e apreensão na casa de Bolsonaro e na sede do PL na sexta (18). O ex-presidente foi levado à PF, colocado em tornozeleira eletrônica e proibido de usar redes sociais.
Diante do desenrolar dos fatos, o presidente Lula e o Planalto dominaram a pauta nacionalista nas redes sociais como contraponto à Trump à medida que usam a estratégia da negociação, acenando aos setores empresariais de que o governo buscará ficar distante de uma postura reativa pró-conflito. Há também um cálculo eleitoral por trás desta estratégia: os eleitores de centro são mais moderados e a última pesquisa Quaest mostra que 72% dos brasileiros acham que Trump está errado ao impor o tarifaço ao Brasil, sendo que entre os eleitores que dizem não ter posicionamento político, 77% acham que Trump errou e 48% dos que se declaram bolsonarista também avaliam que Trump está errado em prejudicar o Brasil.
Neste cenário, é urgente que o campo democrático se mobilize amplamente contra um projeto político autoritário que articula submissão internacional, sabotagem institucional e a destruição da economia brasileira como método. Agora, leitores, se Trump fosse presidente dos EUA em 2022, o que Bolsonaro teria feito para impedir a própria derrota? O ciclo atual da democracia brasileira segue sendo testado.
* Cláudio André é professor Adjunto de Ciência Política da UNILAB e pesquisador do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais (UFRB). E-mail: [email protected].