DFT ocupa o 3º lugar entre as demências degenerativas
Diagnóstico de Maurício Kubrusly chamou atenção da população para outros para outros tipos da doença
Em uma das reportagens comemorativas dos 50 anos do Fantástico, foram mostradas imagens do jornalista Maurício Kubrusly andando na praia enquanto era revelado seu diagnóstico de demência frontotemporal (DFT). A informação chamou a atenção para outros tipos de demência, além da mais comum e conhecida do público leigo: Alzheimer.
A DFT ocupa o terceiro lugar entre as demências neurodegenerativas, sendo superada pela de corpos de Lewy. Considerando as demências em geral, a de Alzheimer é seguida pela de origem vascular, resultante de acidente vascular cerebral ou de um conjunto de pequenas lesões, esclarece a neurologista Roberta Kauark, responsável pelo Ambulatório de Transtornos do Movimento do Hospital Universitário Professor Edgar Santos (Hupes-Ufba/Ebserh).
Estimativas informadas no Manual MSD apontam que até 10% dos casos de demência são frontotemporal, enquanto a de corpos de Lewy corresponde a cerca de 30% e Alzheimer se aproxima de 60%. Segundo o Global Burden Disease - estudo de mortalidade e incapacitação feito com pesquisadores de 127 países -, mais de 150 milhões de pessoas devem ter a doença em 2050.
Coordenador do Serviço de Neurologia do Hospital Aliança, Jamary Oliveira Filho, explica que as demências neurodegenerativas são caracterizadas pelo depósito anormal de determinadas proteínas no cérebro. Os diferentes tipos de demência são reflexo da proteína envolvida e da área na qual está sendo depositada.
Na DFT, por exemplo, a proteína tau se concentra no lobo frontal do cérebro. “Inicialmente, os pacientes têm mais alteração do que a gente chama de função executiva, uma dificuldade para realizar tarefas simples. Você recebe a tarefa de anotar o nome de uma pessoa no celular e tem dificuldade nos passos que precisa para fazer”, explica Oliveira.
Segundo ele, no estágio inicial da demência frontotemporal, a memória geralmente não é afetada, mas com a progressão do quadro, essa área costuma ser atingida. No vídeo do Fantástico sobre Maurício Kubrusly, o texto explicativo informou perda de memória. Tanto na DFT quanto nas demais demências degenerativas, ainda não há tratamento para deter o avanço da doença.
“A velocidade de progressão também é variável de uma para outra, mas todas vão evoluir com quadro muito semelhante: acometimento de vários funções cognitivas, limitação progressiva para as atividades do dia a dia, dependência maior dos familiares. Uma limitação motora também pode acontecer”, ressalta.
A proteína envolvida na demência de corpos de Lewy é a alfa-sinucleína, que se deposita em áreas mais profundas do sistema nervoso central, e algumas delas têm superposição com as afetadas pelo Parkinson. O especialista conta que os pacientes enfrentam repercussões motoras, mas com menor intensidade, e também têm a memória afetada de maneira semelhante ao que ocorre no Alzheimer.
O tratamento das demências neurodegenerativas busca o controle dos sintomas e a oferta de melhor qualidade de vida para o paciente. “Observamos uma melhora clínica com uso de medicações voltadas para melhorar a comunicação intracerebral”, argumenta, acrescentando a recente publicação de pesquisas sobre tratamentos para reduzir o depósito de proteínas.
Creasi concentra casos
A maior parte das pessoas com demência atendidas no Centro de Referência Estadual de Atenção à Saúde do Idoso (Creasi) tem Alzheimer. De acordo com Jamary Oliveira, a proteína envolvida na demência de maior prevalência no Brasil e no mundo é a beta-amilóide e seu depósito ocorre principalmente nas áreas do cérebro responsáveis pela memória de curto prazo, situadas no lobo temporal.
Unidade da Secretaria da Saúde do Estado (Sesab), o Creasi oferece atendimento ambulatorial integrado e multidisciplinar a pessoas idosas frágeis ou em risco de fragilidade, independentemente do diagnóstico associado, segundo a diretora Helena Pataro Novaes. Todos os serviços são acessados pelo SUS, incluindo a retirada de medicamentos prescritos, o que inclui pacientes externos.
“A gente também faz uma oferta de atendimento aos familiares cuidadores, porque a gente entende que a demência é uma doença que afeta o sujeito, a sua família e seu entorno”, destaca Helena. Esse grupo conta com acompanhamento psicológico e suporte do serviço social. Para ser atendido no Creasi, o idoso precisa ser encaminhado por profissionais da atenção primária. Os integrantes dessas equipes de saúde da família e das unidades básicas formam o público-alvo do seminário “Contextualizando a Demência de Alzheimer”, que será realizado na próxima quarta-feira, marcando o mês dedicado à conscientização sobre a doença.