Caldeirão de Aço - A camisa 8 tricolor
Desde a Série B, quando voltou a numeração fixa, o número 8 não é carregado por nenhum jogador
Recentemente, duas das camisas mais famosas do futebol brasileiro estiveram em discussão: a 10 do Santos, sempre associada a Pelé, e a do Flamengo, intimamente ligada a Zico. O Peixe chegou a ensaiar uma aposentadoria do número místico, mas declarações antigas do próprio Rei do Futebol enfraqueceram a ideia, já que a permanência em campo ajuda a manter a magia em evidência. No carioca, o próprio Zico deu o aval para que Gabigol assumisse a responsabilidade, após a aposentadoria de Diego. No Bahia, grandes ídolos já vestiram a 10, mas a camisa mais icônica do Esquadrão é a 8: fora da numeração fixa desde o ano passado.
A 8 chegou a ser utilizada no primeiro trimestre do ano passado e passou por diferentes jogadores. Mas desde o início da Série B, quando o clube voltou a usar a numeração fixa, o número mágico não é carregado por nenhum jogador do elenco profissional. E deve demorar mais um pouco para que vejamos novamente, já que o clube divulgou a numeração fixa para a temporada e a 8 segue vaga.
Pode estar à espera de alguma contratação de impacto para a sequência do ano. É comum ver os torcedores pedindo a chegada de um camisa 10, mas o anseio tem mais a ver com a função mais idealizada do futebol do que com o número, que segue bem representado e respeitado por Daniel, no clube desde 2020, e que passou a vesti-lo no ano passado, deixando a 8 vaga. Na época da numeração fixa, Bebeto Campos, Hélder, Gabriel, Allione e Daniel foram alguns dos que já vestiram a 8.
Daniel trocou a mítica camisa 8 tricolor pela 10. E o curioso é que pouco antes de realizar a mudança, ainda no final da temporada 2021, depois de fazer o gol do triunfo contra o Grêmio, pelo Brasileiro, ele ressaltou a importância do símbolo. “Desde que cheguei não fiz muitos gols, mas metade foi importante. Mística da camisa. Número esse do maior jogador do clube”. Ele fez alusão a Bobô, que agradeceu pelas redes sociais. “Danielzinho, estamos juntos! Obrigado pelo reconhecimento e parabéns pelo triunfo”.
Não tenho como discordar de Daniel. Bobô é o maior que tive a felicidade de ver jogar no Bahia. Ele fortaleceu demais o número com a torcida. Capitão e goleador da fase final do Brasileiro de 1988, o segundo conquistado pelo tricolor, e autor dos dois gols da virada no primeiro jogo da decisão contra o Inter, foi símbolo da conquista da segunda estrela, além de herói, chegando à Seleção.
Bobô ou Douglas?
Mas há quem discorde. E por um bom motivo. Um dia desses escrevi neste mesmo espaço que Bobô foi o maior 8 que eu vi jogar no Esquadrão e fui gentilmente cobrado pelo leitor Fernando Corrêa, que afirmou que Douglas Franklin “foi o maior jogador que o Bahia já teve”. Expliquei a ele que não tive a sorte de ver o que Douglas, Beijoca, Osni, Baiaco e companhia fizeram na década de 1970, dominada localmente pelo Esquadrão. Ele é o segundo maior artilheiro tricolor, com 184 tentos.
Se na Argentina há uma espécie de divisão etária sobre o maior camisa 10 da história do país, entre aqueles um pouco mais velhos, que viram Maradona jogar, e os mais novos, que acompanham as proezas de Messi de todos os ângulos imagináveis, no Bahia também existe uma certa discussão entre aqueles que tiveram a sorte de ver Douglas e Bobô encantarem em épocas diferentes, outros que, como eu, só presenciaram os feitos de Bobô, e ainda os mais novos, que não viram nenhum dos dois, mas têm mais acesso a registros do talento de Bobô, que desfilou toda a sua elegância sutil em nosso favor. Que em breve possamos ver um craque honrando novamente essa camisa e que seja possível dizer de novo que o nosso 10 é o 8.