Caldeirão de Aço - Brilho compartilhado
Durante a minha infância, na década de 1980, quando o Bahia conquistou um Brasileiro, sete estaduais, chegou às quartas da Libertadores e ainda foi semifinalista do Brasileiro, os tokusatsu, seriados japoneses, faziam muito sucesso no Brasil. Tinham aqueles focados em um herói, como Jaspion e Jiraya, e outros em equipes, como Changeman e Flashman, chamados de Super Sentai, um subgênero dos tokusatsu. Séries como Jaspion não deixavam dúvida sobre o protagonista. Era ele que sempre resolvia as situações. Durante as competições do primeiro trimestre do ano tricolor, Rodallega parecia personificar essa ideia. Era ele quem tentava, pelo menos, resolver a situação a favor do Esquadrão. Mas desde a lesão do colombiano, na estreia da Série B, o time vem tentando se virar sem o camisa 9. E as partidas parecem seguir roteiros de Super Sentai, sempre variando o foco entre cada integrante. Cada episódio era hora de um deles salvar o dia. E na classificação, contra o Azuriz, pela Copa do Brasil, foi a vez de Djalma Silva e Marcelo Ryan brilharem.
Djalma entrou apenas na segunda etapa, mas foi um dos melhores do Tricolor em campo contra os paranaenses, junto com Daniel, participando das principais jogadas da equipe, inclusive no gol feito por Marcelo Ryan, que teve estrela para aproveitar a falha do goleiro adversário e completar, de cabeça, para o gol que levou a partida para a disputa de pênaltis. E na decisão os dois converteram as cobranças.
A campanha que vem mantendo o Bahia na liderança da Série B, com seis rodadas já concluídas, tem sido sustentada pela força coletiva. Lógico que, pela regularidade de atuações, Rezende, Daniel, Luiz Otávio e Danilo Fernandes podem ser apontados como os principais nomes na competição, mas, assim como Djalma e Marcelo saíram do banco para decidir a partida contra o Azuriz, Davó e Jacaré já tinham feito o mesmo no triunfo contra o Cruzeiro, quando a partida já parecia caminhar para um empate. E o papel de herói foi mudando a cada jogo, com o brilho sendo compartilhado nos confrontos seguintes.
Contra o Náutico, para o bem e para o mal, Borel foi o nome mais lembrado. Fez um golaço e foi expulso. A união dos outros jogadores e a eficiência defensiva fizeram com que o triunfo fosse confirmado. Contra o CSA, Luiz Otávio garantiu na defesa e no ataque a conquista de um ponto. Contra o Sampaio, foi a vez de Daniel garantir três pontos. E, contra o Londrina, Rildo fez dois golaços, que abriram caminho para a goleada de 4 a 0, com muito brilho também para Davó e Daniel.
Rodallega segue fazendo muita falta a cada jogo, pela sua qualidade e pela carência no elenco de alguém com peso e características semelhantes. O importante é perceber que mesmo com um grupo carente em muitos aspectos, Guto vem conseguindo proporcionar espaço para que diversos jogadores possam dar a sua contribuição decisiva para os resultados. Algo que há pouco tempo não ocorria. Se estava complicado com os titulares, piorava quando era preciso recorrer a outras peças. Também é preciso reconhecer a mudança de atitude. Se antes, muitos jogadores irritavam com uma aparente frieza, hoje representam intensamente o torcedor dentro de campo.
Domingo, os heróis tricolores terão jogo duro contra o Vasco, longe da Fonte. Seguindo com a analogia, uma das principais mensagens passadas pelos seriados do tipo Super Sentai, para o público infantil era relacionada à união. Seja qual fosse a situação, a equipe sempre conseguiria vencer caso todos os integrantes se unissem. E é assim, com o brilho compartilhado entre tantos nomes, que o Bahia vai vencendo as dificuldades em busca do regresso à Série A.