Caldeirão de Aço: Craques feitos em casa
A antiga Fonte Nova recebia pouco mais de 15 mil pessoas, o Bahia enfrentava o Corinthians, então líder de um dos grupos do Brasileiro, e tinha conseguido marcar um gol depois de três jogos em branco, mas o resultado ainda estava indefinido, até que, aos 45 minutos do segundo tempo, Marquinhos ajeitou de cabeça, depois de cruzamento Zé Carlos, e Charles Fabian dominou, girou e, sem deixar cair, chutou de virada, estufando as redes, garantindo o triunfo por 2 a 0.
No domingo passado, aquele garoto promissor, de 21 anos, do município baiano de Itapetinga, comemorou 52 anos de vida, depois de uma carreira muito bem sucedida e de ter escrito para sempre o nome na história do Bahia, como um dos grandes nomes, sendo o 19º maior artilheiro do clube, com 68 gols marcados.
O lance descrito no primeiro parágrafo foi o primeiro gol do camisa 9 na campanha do título brasileiro de 1988, depois de sair do banco. Charles é um dos jogadores formados na base do Bahia que podem ser tranquilamente chamados de craques, e foi fundamental para a conquista da segunda estrela tricolor.
Ele voltou a marcar contra Criciúma, Santos e Sport. Na partida de ida das quartas de final, na Ilha do Retiro, o gol foi fundamental para a conquista, afinal, o Tricolor avançou à semifinal após eliminar o Rubro-Negro pernambucano após empate sem gols no tempo regulamentar e na prorrogação do jogo de volta em Salvador.
Charles também participou de outra grande campanha do Bahia no Campeonato Brasileiro. Dessa vez, em 1990, quando o clube chegou entre os quatro melhores, na semifinal. Com 11 gols marcados, ele terminou como artilheiro da competição. Apenas ele e Léo Briglia, em 1959, alcançaram esse feito no Esquadrão.
No próximo domingo, dia 19, outro craque formado em casa no Bahia estará comemorando aniversário. O meia-atacante Uéslei, o Pitbull, quarto maior artilheiro da história do clube, com 140 gols marcados em quatro passagens. Uéslei começou a chamar a atenção em 1992, jogando como volante e até lateral. A ascensão do menino, também baiano, mas de Salvador, da Capelinha, foi interrompida por uma entrada violenta do zagueiro Agnaldo Liz, em um Ba-Vi de 1993, que rendeu fraturas e um longo afastamento dos gramados.
Mas o Pitbull estava destinado a ser um dos maiores da história do Bahia e teve uma temporada impressionante em 1994, como meia. No primeiro semestre, foi um dos destaques da campanha de recuperação que culminou no bicampeonato baiano, com o inesquecível gol de Raudinei, e, no segundo semestre, também foi um dos expoentes do time que fez grandes jogos e chegou entre os oito melhores do Brasileiro, ao lado de Marcelo Ramos e Jean, todos formados no Fazendão, o time titular contava ainda com Ronald, Samuel e Paulo Emílio, também da casa.
Depois da temporada, passou por outros clubes, até voltar em 1998, em um time que ganhou o Baiano, mas foi mal na Série B. Após empréstimo para o Internacional, retornou em 1999 e brilhou como atacante, cansando de balançar as redes adversárias, terminando como artilheiro da Série B, com 25 gols, 11 a mais do que o vice-artilheiro, Robgol, do ABC, que brilharia no Bahia posteriormente.
Na premiação Chuteira de Ouro de 1999, da revista Placar, ficou em quarto lugar nos critérios de pontuação, mas em número absoluto de gols registrou 50, enquanto o vencedor, Romário, 46. Apenas na quarta passagem, em 2005, não rendeu. Não apagou, entretanto, todas as alegrias proporcionadas anteriormente.