Resenha Rubro-Negra - A bola é dinâmica como a vida
Vitória só somou um ponto nas três primeiras partidas até aqui e está na zona de rebaixamento do Baianão
Não tem pra onde correr. O futebol é, definitivamente, uma metáfora da vida, sempre muito dinâmica. Tudo pode mudar muito rápido, e esse início de ano do Vitória é um exemplo bem nítido dessa máxima. Há uma semana eu cá estava abordando o início de ano interessante do Leão, com duas vitórias decisivas que carimbaram a vaga da equipe na fase de grupos da Copa de Nordeste. E hoje, passados apenas três jogos do Campeonato Baiano, já escrevo sobre a primeira crise enfrentada pelo Leão em 2023.
Sim, podemos usar o termo ‘crise’ sem medo de errar. Em um campeonato de tiro curto como o estadual, com apenas nove rodadas na primeira fase, o Vitória só somou um ponto nas três primeiras partidas até aqui e está na zona de rebaixamento da competição. Por essa ninguém esperava, nem mesmo o técnico João Burse, que também vive o seu primeiro momento de desconforto à frente do Rubro-Negro. Após uma nova derrota no meio de semana, dessa vez no bem conhecido e terrível gramado do Adauto Moraes, e já contando com todos os novos contratados à disposição, o treinador frisou que a equipe tem parado de jogar após sofrer os gols.
Esse aspecto foi visto de forma nítida nas duas últimas partidas. Primeiro, um verdadeiro apagão no time após levar o primeiro dos quatro gols do Itabuna em pleno Barradão. E no Adauto Moraes, depois de sair na frente com o estreante Léo Gamalho, coube à equipe, mais uma vez muito fragilizada no sistema defensivo, deixar a Juazeirense virar e ainda ampliar o placar. Como bem Burse frisou na coletiva após o jogo, cabe ao time ser “mente forte e dar a volta por cima”.
Para tal, entra em jogo também o trabalho da psicóloga Miriam Carla Rocha, contratada pelo clube no final de outubro do ano passado para compor a comissão técnica da equipe profissional. Miram é especialista em Terapia Cognitivo Comportamental, focada em identificar padrões de comportamento, pensamento, crenças e hábitos que estão na origem dos problemas, indicando, a partir disso, técnicas para alterar essas percepções de forma positiva.
Além do comportamento em campo, o viés emocional extracampo também é um dos pontos que preocupam: além da pressão por resultados, pesa o fato de o Vitória ter ficado de fora da semifinal do Campeonato Baiano nos últimos quatro anos. Na realidade atual, será necessária uma recuperação daquelas para evitar a quinta eliminação seguida na primeira fase. Tenso.
É nesse clima de pressão que o Leão volta à fase de grupos da Copa do Nordeste amanhã, após dois anos longe. Espero muito que a diretoria acredite no que planejou e mantenha João Burse, que já mostrou capacidade para reverter situações adversas, como a sempre mencionada Série C do ano passado. Demitir o treinador neste momento seria rasgar um planejamento feito com muito cuidado devido a escorregões nesta fase inicial de implementação.
Preocupa, lógico, mas é preciso encontrar a razão em meio ao turbilhão de emoções que o futebol proporciona. E ter clareza nas decisões é um ponto fundamental para um clube que quer alcançar o que almeja. No caso do Vitória, o acesso à elite nacional. Não que o Leão tenha que ficar com Burse até o final em respeito ao planejamento, mas cabe à diretoria, agora, apoiar um treinador que há poucos meses tirou o Vitória de uma situação ainda mais complicada. Como o único remédio para a crise é a vitória, só os três pontos interessam no duelo com um Santa Cruz também em um início de ano difícil, com três empates em três jogos pelo estadual. Esse é mais um ingrediente que coloca peso extra neste confronto regional entre clubes de tradição.