Resenha rubro-negra - Mudanças pela salvação

Falar da força do Barradão era algo tão distante que já parecia utópico. Não é mais. A energia do último domingo dentro e fora do estádio relembrou os bons tempos de casa cheia. Mesmo com o Leão na zona de rebaixamento da Série B há 20 rodadas, a massa compareceu em peso e os mais de 18 mil presentes empurraram um time que não está merecendo cair quando observamos o poder de reação nos últimos jogos. A pancada no Cruzeiro, com direito a um primeiro tempo de sonho, confirmou ainda mais essa sede de salvação.

Uma arrancada que começou precisamente no dia 12 de outubro, quando um já desacreditado Vitória, há sete jogos sem vencer, bateu o Sampaio Correa por 1 a 0 em São Luís. De lá pra cá, uma campanha digna de G-4. Foram mais seis jogos, com três vitórias, dois empates e apenas uma derrota: um aproveitamento de 66%, desempenho bem diferente do obtido até a 29º rodada, quando o Rubro-negro só computava quatro vitórias, 14 empates e 11 derrotas (30%).

Difícil até ter clareza para indicar um fator preponderante nesta mudança absurda de rumo. Por isso, melhor dividirmos essa problemática para entendermos melhor. Primeiro, a bagunça administrativa deu uma amenizada. Ainda sob a presidência do interino Luis Viana, que pediu licença no último dia 26 por motivos de saúde, o clube começou a ser esforçar, ao menos, para fazer a sua obrigação de pagar os salários de jogadores e funcionários. Com Fábio Mota no cargo, a linha permaneceu e se criou um clima totalmente diferente no Barradão.

No dia 2 de novembro, a diretoria anunciou aos jogadores uma premiação de R$ 1 milhão pela permanência na Série B. Já no último sábado, um dia antes de golear o Cruzeiro, o clube realizou o pagamento dos direitos de imagens dos jogadores referentes ao mês de outubro, completando a parte da CLT que havia sido quitada na semana passada, quando o Rubro-negro deu um grande aviso de que não queria cair ao golear também o Vasco pelos mesmos 3 a 0, em São Januário. Para um clube que normalizou os atrasos desde a chegada de Paulo Carneiro à presidência, sem dúvidas esse redirecionamento contribuiu para o improvável crescimento da equipe nessa reta final de Série B.

Reflexo devidamente percebido dentro de campo, com um ajuste defensivo e uma completa reviravolta do meio pra frente. Comecemos pela defesa, que hoje é a menos vazada da Série B, com 28 gols sofridos. Mantendo o recorte das últimas sete rodadas, o time que tinha sofrido 26 gols em 29 jogos (média de 0,89), levou apenas dois (média de 0,28). Uma segurança que passa, obviamente, pelos ajustes feitos pelo técnico Wagner Lopes e pelas boas atuações dos jogadores da retaguarda, com destaque maior para o goleiro cria da Toca Lucas Arcanjo, regular durante toda a Série B e que por diversas vezes salvou debaixo da trave.

Na parte da frente, por sua vez, uma evolução espantosa. Sempre presente entre os piores ataque da competição (neste momento tem o 16º aproveitamento), a equipe se encontrou principalmente com a dupla Marcinho e David, que agora surpreende como centroavante, e anotou 12 gols nos últimos sete jogos (média de 1,7 por partida). Não custa destacar que este número representa 66% do total de gols que o time tinha feito até a 29ª rodada, quando balançou as redes apenas 18 vezes (média de 0,62). Dos 12 gols mencionados, quatro foram de David e dois de Marcinho. Esses são fatores que ajudam a entender esse esperançoso Vitória e passam ainda mais confiança para se acreditar na salvação. Segunda tem mais uma final, contra o CRB, no Rei Pelé. Vencer significa chegar vivo à última rodada. Perder pode até cravar, antecipadamente, o rebaixamento do time.