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Resenha rubro-negra - Passeio pelo Vitória

Publicado sexta-feira, 13 de maio de 2022 às 06:08 h | Autor: Angelo Paz | Jornalista | [email protected]
Foi encravado em bairro periférico que o Rubro-negro se transformou também em um clube de massa
Foi encravado em bairro periférico que o Rubro-negro se transformou também em um clube de massa -

Te convido a fazer um passeio histórico por Salvador. Essa viagem começa lá no Século XVI, com a inauguração, em 1549. Primeira cidade e capital do Brasil, óbvio, a cidade da Bahia, como foi chamada na maior parte do tempo, teve também a primeira rua do país, aquela à direita do Palácio Rio Branco, antes Rua dos Mercadores e que em 1902 virou a Rua Chile, em homenagem a quatro embaixadores chilenos que morreram de peste bubônica no Rio de Janeiro, no mesmo ano.  

Como Salvador gosta de  aparecer desde sempre,  meteu-se na história da qual não fazia parte e, com o objetivo de se colocar como um lugar de destaque no cenário político e econômico do país, homenageou os chilenos com o nome de uma rua importante e ainda lançou uma festança para recepcionar marinheiros chilenos que fizeram uma parada na cidade a caminho para o Rio. Tudo pra fazer média. Mas deixemos a rua Chile para trás e avancemos até a praça Castro Alves, que era um dos limites da cidade quando inaugurada. Tinha muro e tudo. Mania dos invasores portugueses.   

Para seguirmos esse passeio, precisamos avançar até o início do Século XX, quando a configuração da cidade já era completamente diferente. Seguindo em frente após a praça do poeta, já era possível chegar ao Campo Grande, que à época era habitado por imigrantes ingleses. Os ingleses que viviam em Salvador eram amantes do cricket, e concentravam seus treinamentos no Campo Grande,  na Quinta da Barra e na Fonte do Boi, um dos points que a gente se esbalda de cerveja e resenhas a cada 2 de fevereiro no Rio Vermelho. 

Pois bem, os ingleses tiravam onda e os brasileiros ficavam só como gandulas. Em raras ocasiões substituíam os súditos da rainha que faltavam. As gandulas em questão eram filhos da elite baiana e moravam nas mansões da então estrada da Vitória, colada no Campo Grande. Cansados de ‘comer reggae’ de inglês, montaram o próprio time, o Club de Cricket Victoria, ainda com grafia inglesa. Assim nasceu o Leão, em 13 de maio de 1899, o primeiro clube do Brasil fundado apenas por brasileiros, como bem pesquisou o amigo Paulo Leandro, doutor em Cultura e Sociedade pela Ufba e pesquisador da história do Rubro-Negro.  

O Vitória, que hoje completa 123 anos, por pouco não foi batizado como Club de Cricket Brasileiro, para reforçar que aquele era um clube apenas nacional. Mas como na época não havia uniforme verde e amarelo, ficou Victória mesmo, que também era patriótico, já que pelas ruas da Vitória desfilaram as tropas que libertaram o Brasil de Portugal em 1823. E na primeira partida de futebol que se tem conhecimento em Salvador, realizada em 1903, o Victória, empatou em 0 a 0 com o time da colônia inglesa.  O Leão foi também pioneiro em praticamente todas as entidades esportivas do estado e acabou reconhecido como entidade pública em 1937.  

Agora pulamos algumas décadas para falar da transformação do Vitória de um time da elite para um time de todos. Essa é uma virada com forte relação com a mudança geográfica de Salvador, que passou a se expandir através das avenidas de vale na década de 1970, quando a Avenida Paralela começou a ser construída. Ali pertinho, em Canabrava, no meio do lixão, o Vitória realizou o seu sonho do estádio próprio, com a inauguração do Barradão em 1985.   

Foi encravado em um bairro periférico que o Rubro-negro se transformou também em um clube de massa e impulsionou, nesses últimos quase 40 anos, mudanças significativas para a comunidade local. A última delas, em 2018, com a construção da via Mário Sérgio, que liga a Paralela aos bairros de Canabrava, Nova Brasília, Pau da Lima e ao próprio Barradão. Aqui termina o nosso rolé histórico rápido, mas também saudoso em homenagem ao Nego mais querido da Bahia. 

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