Cadernos de receita da vovó são repletos de doces lembranças
Dos almoços de família às receitas inesquecíveis, os caderninhos são verdadeiras heranças afetivas

A transmissão do conhecimento através das eras sempre foi de responsabilidades dos idosos, que passavam toda sabedoria acumulada de uma geração para outra. Assim ocorreu na Grécia do mundo antigo, nas sociedades das tribos indígenas, entre outras culturas para que os povos pudessem sobreviver.
Os cadernos de receita da vovó, que passam para o filho e muitas vezes vão para os netos, talvez carreguem um pouco desse sentimento intrínseco ao ser humano ao passar o conhecimento gastronômico para a geração seguinte em seus caderninhos misturados de afeto e gulodice.
Foi esse sentimento, talvez sem nem mesmo perceber, que a vovó Aída Silva Teles de Souza deixou para as quatro gerações da família. Boa cozinheira, afetiva e generosa, ela adorava alimentar a família com seu banquete particular. Aos domingos, a casa de dona Aída era uma festa.

Todas essas impressões ficaram cravadas na memória do neto, Gustavo Carvalho, ligadas por profundos laços afetivos com a avó. “E foi justamente por isso que comecei a cozinhar, para manter essa história viva”, diz. “Todos os domingos a família se reunia. Eu adorava ver minha avó cozinhando, mas ela não me deixava ficar na cozinha. O dia do cozido era fantástico. Eu via toda aquela mulherada cortar legumes, fazer o feijão mulatinho, as carnes. Era uma fartura de mesa que ela compartilhava”, conta, cheio de emoção das lembranças.
Para o neto da dona Aída, é difícil dizer qual prato ficou mais marcado na memória. Há a torta de nozes do Natal e sua filha Mariana lembra do bolo de cenoura com calda de chocolate da bisa. Mas um dos pratos que merecem atenção e também ficaram marcados na memória afetiva de Carvalho, aquele preferido no caderninho de receita, é o caruru, feito por sua mãe, dona Maria José, no dia do seu aniversário, em 17 de outubro. O cheiro do acepipe exalando pela casa ainda é uma lembrança muito forte e está impregnado para sempre no coração de Gustavo.

“O dia inteiro era cheiro de caruru pela casa toda. A banana frita exalando, a farofa sendo feita. Eu, que sempre ia observar como tudo estava sendo preparado, lembro de ir com a colherinha roubar um pouquinho da farofa. ‘Sai daqui, menino’, ouvia. À noite, a gente ia comer um dos meus pratos favoritos”, conta.
Até hoje Gustavo guarda o caderno de receitas que passou para a mãe e agora vai para a filha, Mariana, que também gosta de cozinhar e é estimulada pelo pai, tanto que Carvalho a presenteou com caderninhos de receita da bisa. Não só a ela, mas toda a família foi brindada com as receitas memoráveis da vó Aída.
“Quando eu vejo as receitas escritas à mão nos livros, lembro de quando aquele prato foi feito e de quem estava presente. Para mim, uma receita traz mais lembranças do que uma foto”, revela.

As lembranças dos almoços em família também fazem parte da memória afetiva de Fernanda Bamberg, cujos receituários eram transcritos num caderno até hoje guardado com o pai. Bamberg conta que muitas vezes se livra do celular e de qualquer aparato eletrônico, vai ler e fazer seus quitutes nas receitas que vem colecionando durante toda a sua vida, muitas delas copiadas do caderno da mãe.
“Minha mãe era nutricionista e uma cozinheira de mão cheia. Aprendi com ela a habilidade de misturar ingredientes e de fazer um bom prato. Quando estava viva, todos os domingos era na casa de meus pais. Nos reuníamos para o almoço, não importava o tempo que fizesse. Esses dias pareciam de festa de fim de ano devido à quantidade e à variedade de pratos que ela oferecia”.

Carregados de comidas afetivas, os cadernos de receitas também são retratos da cultura de uma época. Eles trazem ortografias que já nem mais existem e receitas démodé. Quem aí já ouviu falar ou teve o prazer de conhecer manjar branco, receita bem antiga; ponche; cueca virada; pudim de requeijão? E aquelas copiadas nos rótulos das caixas de produtos, como a Maizena? Os cadernos de receitas também falam e têm a marca dos seus donos. Uns aparecem com pequenos erros de ortografia; outros trazem as receitas coletadas com a vizinha e que levam o nome delas. Há aquelas afanadas da tia, as copiadas em revistas de época.
No caderno de receita de mais de 30 anos da mãe de Fernanda Bamberg, há alguns palavras com uso de ortografia mais antiga, mas o impagável nas receitas são alguns títulos, no mínimo, inusitados. Quem já ouviu falar em “De bunda para cima”? A receita leva camarão defumado ou seco, leite e sal. São os ingredientes na receita diferente.
“Não discutia o assunto com minha mãe dessas receitas inusitadas, mas as lembranças são dos nossos almoços de domingo e, no Natal, a alegria de estar junto à família”, declara.

As lembranças dos almoços de domingo da família também fazem parte da memória de Joelia Simples, da empresa Bolo da Luz. É com muito afeto que ela conta sobre os oito irmãos dividindo a mesa do almoço, lambendo os beiços da comida gostosa que a mãe fazia.

“Natal era a época que mais gostava. Havia o bolo, torta de frutas, peru e um pernil de dar água na boca de todo o mundo. Todos se deliciavam com a fartura da festa de Natal”, conta.
As receitas da família de Joelia não ficaram num caderninho, mas as lembranças da comida gostosa que aprendeu permaneceram na memória e foram levadas para a empresa Bolo da Luz.

“Minha mãe sempre gostou muito de cozinhar. Ela fazia muito bem bolos de todo tipo: bolos de carimã, de aipim, de milho, considerados os melhores da cidade de Santo Antônio de Jesus. Eu fui a filha com o talento para gastronomia, aprendi tudo com ela. Até que um dia o padre Rogério me chamou para fazer algo que ajudasse no projeto comunitário da igreja. Eu logo pensei no bolo da minha mãe para vender depois da missa”, conta.
Abertos próximos à pia, ao fogão, ao lado dos ingredientes, elementos que ajudam a oxidar as folhas e amarelar as páginas com o sabor do tempo, as lembranças dos cadernos de receitas ficam materializadas em nossas memórias, que guardam aquele almoço festivo de domingo, o bolo de fim de tarde regado a um café quentinho, os cheiros que vêm à tona e passam a ter significado familiar e especial. Os cadernos de receitas contam histórias das nossas vidas e estão impregnados de cheiros e sabor.
É em meio a tanta história afetiva deste episódio de Histórias & Sabores que deixamos a receita com gostinho da receita da vovó do Bolo da Luz, de Joelia Simples.
Bolo de Carimã
Ingredientes
1 kg de carimã
3 ovos
100 gramas de manteiga derretida
2 colheres chá de sal
1 xícaras de leite de coco
2 xícaras de açúcar
1 xícara de leite
Modo de fazer
Preaqueça o forno a 180°C , unte uma forma e polvilhe.
Adicione o carimã, o sal, a manteiga, o açúcar e misture bem com o auxílio de uma colher de pau.
No liquidificador coloque o leite, o leite de coco e os ovos. Bata bem.
Despeje na forma e coloque no forno para assar por cerca de 1 hora ou até que o bolo esteja dourado.
NOTAS COM HISTÓRIAS & SABORES

Mariposa Restô oferece diariamente pratos veganos e vegetarianos
Opções veganas e vegetarianas são oferecidas no cardápio do Mariposa Restô, que fica no Largo do Terreiro de Jesus, no Casarão 17. Assinados pela chef Mia Carazoli, os pratos são variados e vão da entrada à sobremesa. É possível começar por exemplo, com os Dadinhos de Tapioca, com geleia apimentada de goiabada cascão e depois pedir um Penne Integral, com tofu, caponata, molho de ervas e creme de tofu com cúrcuma, dentre outras delícias. O Mariposa Restô está aberto de segunda a domingo das 11h30 às 17h. Para reservas tem o telefone (71) 98802-4362.

1ª cafelaria é inaugurada em salvador trazendo mais charme à Barra
Para quem quer tomar um café e utilizar os serviços de uma papelaria pode encontrar os dois mundos na Amarelo Papel Café (APC). O espaço opera há 03 meses no coração da Barra e se destaca pelo seu ambiente acolhedor, agradável e instagramável. Mais especificamente, sua localização fica na Rua Barão de Itapoan, s/n. As irmãs Lorena e Danúbia Reis lideram o negócio oferecendo o mix de serviços de qualidade e inédito inaugurando o conceito de “cafelaria”, em Salvador. A ideia do espaço é permitir que os clientes utilizem como local de trabalho e estudo. O local funciona de terça a sexta das 11h às 19h, aos sábados das 8h às 17h e domingos das 8h às 12h.
Metodologia inédita para avaliação da qualidade do café solúvel será lançada na Semana Internacional do Café, em BH
A Associação Brasileira da Indústria de Café Solúvel (Abics) desenvolveu uma metodologia inédita para a avaliação da qualidade do produto, que utiliza avaliações sensoriais e categorias de classificação de qualidade. Esta metodologia vai ser apresentada em nível mundial na Semana Internacional do Café (SIC), que será realizada em novembro, em Belo Horizonte (MG). O desenvolvimento dessa metodologia, que teve início em 2019, contou com a participação do Instituto de Tecnologia de Alimentos (ITAL) e com uma equipe de mais de 15 profissionais das empresas de café solúvel, além de consultores do Brasil e do exterior, sob a coordenação da cafeóloga, especialista em avaliação sensorial e consultora da Abics, Eliana Relvas.
Siga o A TARDE no Google Notícias e receba os principais destaques do dia.
Participe também do nosso canal no WhatsApp.
