Caruru: de prato sacro a ícone da culinária popular da Bahia
O Caruru de São Cosme e São Damião da Bahia foi oficialmente reconhecido como Patrimônio Cultural Imaterial
Houve um tempo em que as comidas de dendê eram, muitas vezes, banidas das mesas baianas ou sofriam tentativas. Ainda nos anos 1960, segundo relatos na história da comida baiana, muitos médicos diziam que a iguaria com dendê fazia mal. A história não ‘pegou’ entre os baianos, e hoje nos fartamos de tanto comer as delícias à base de dendê, como o caruru, que ontem teve um dia especial celebrando os santos Cosme e Damião, no sincretismo religioso.
É bem possível dizer que quase toda a Bahia lambuzou-se ontem com o caruru completo em muitas casas, terreiros e restaurantes que ofereceram, para a alegria do baiano, uma das iguarias mais deliciosas do planeta. E isso não acontece somente no Dia dos Santos Gêmeos. Na contemporaneidade, na Bahia, todo dia é dia de comer caruru e, pode-se dizer, toda sexta-feira é santa!
Para completar, a reverência aos santos gêmeos veio temperada este ano com o título de patrimônio imaterial da Bahia, aprovado por unanimidade pelo pleno do Conselho Estadual de Cultura (CEC), anunciado esta semana.
Táta Ricardo Tavares, sacerdote do Candomblé de nação Angola, ocupando o cargo de Tata Kwa Nkisse no Terreiro de Lembá, em Camaçari e presidente da Câmara de Patrimônio Histórico, Artístico, Arqueológico e Natural (CPHAAN), explica sobre a tradição que sofreu um processo evolutivo e fez surgir a nossa própria tradição, além de fazer com que, hoje, a comida transcendesse os limites das celebrações religiosas, tornando-se um ícone da culinária popular da Bahia. Primeiro, houve o processo de adaptação de sabores, com a influência direta de várias partes da África; depois, o processo social que permitiu nos lambuzarmos quase todos os dias com as comidas de dendê, entre elas, o caruru.
“Ele é um prato de origem africana e aqui ele é recriado e toma essa forma porque a Bahia, ela é um berço, ela é plural na sua própria formação. Quando a gente fala na formação identitária e todas as práticas ancestrais de saberes e fazeres culturais que influenciaram principalmente a culinária, que é a culinária afro-brasileira, a gente precisa entender que todos esses pratos têm origem africana, mas eles sofrem influência de diversas etnias. Então, receitas iorubanas do povo africano, do povo iorubá, do povo da Nigéria, sofrem adaptações... do povo banto, do povo de Angola, do povo do Benin. Então, a troca de saberes influenciou e culmina na culinária baiana”, explica.
Sobre o processo evolutivo de pertencimento, de identidade, Táta Ricardo afirma: “A Bahia é a terra mais negra fora do continente africano, e antigamente isso não acontecia, até por conta mesmo da falta de pertencimento, de identidade, do pertencimento de patrimônio cultural. Existe um período de negativa, onde a sociedade tenta negar a sua origem por conta do racismo”.
A fala de Táta Ricardo nos faz mergulhar nessa contemporaneidade em que a fase negativa, como diz o religioso do candomblé, deu lugar a um processo de aceitação das ‘coisas da Bahia’. Isso tem muito a ver com a forma como o caruru transformou-se em um ícone da culinária popular na terra do dendê.
Das oferendas nos terreiros, das negativas nas mesas dos baianos, para as comemorações de aniversário e encontros familiares, está um processo evolutivo do ponto de vista social, uma vez que a evolução é marcada, agora, pela presença do caruru no cotidiano alimentar da população baiana. A comida até então oferecida apenas nos recintos do candomblé passou a ser oferecida mais regularmente nos cardápios de muitos restaurantes. Na era dos restaurantes de comida vendida por quilo, um fenômeno mais recente da nossa história gastronômica, o caruru passou a ser servido todas as sextas-feiras.
“Ela [a comida de caruru] acontece de forma permanente, ininterrupta, em várias casas, terreiros de candomblé, espaços públicos, de forma coletiva e ampla ao mesmo tempo. E ela não acontece só em setembro, se intensifica no período de setembro, que é o mês dedicado à celebração dos santos gêmeos. Acontece todos os anos, em qualquer dia, em qualquer hora, basta a pessoa agradecer a uma graça alcançada, renovar o voto de um pedido, de uma promessa, ou até mesmo no seu próprio aniversário. Então, o caruru é um ato de celebração da vida”, festeja Tata Ricardo.
E por falar em tradição, o respeitado restaurante A Casa de Tereza, da chef Tereza Paim, no Rio Vermelho, é um dos estabelecimentos que procuram manter a tradição em todos os seus pratos.
"Setembro é um mês muito importante para o Grupo Tereza Paim e representa nossos 12 anos, no dia de Cosme e Damião, em 27 de setembro, mas aqui é caruru 365 dias do ano", afirma Tereza.
Além do tradicional caruru dos Ibejis, Tereza traz uma interessante experiência gastronômica para quem deseja, além do caruru completo e tradicional, vivenciar um pouco do que é comer a comida de santo, desfrutando do 'Menu Experiência da Comida de Santo'.
“Desde que eu comecei meu trabalho na cozinha, meu objeto de trabalho sempre foi a cozinha baiana, sempre a Bahia tendo o transverso da gastronomia com cultura, com arte. Então, oferecer o caruru como um prato icônico, que é o menu de Cosme e Damião, é contar um pouco dessa história, das nossas festas religiosas. Então, como eu não podia fazer todas as comidas, eu fiz o menu dos Ibejis e fiz o menu para as Iabás. Eu tenho essas duas opções no cardápio que você pode fazer uma experiência de comer a comida de santo. Obviamente vem o caruru e vem muitas outras coisas, vem uma oferenda, é você viver um pouco da experiência do que acontece com essas comidas no candomblé”, conta Tereza.
Já o Táta Ricardo ofereceu seu tradicional caruru de preceito, reunindo membros da sua comunidade e mantendo a tradição de reunir sete crianças em torno da gamela para saborear o acepipe. Mais tradicional, impossível! Essa prática visa garantir boas energias e proteção, além de reforçar os laços comunitários e a transmissão de saberes e valores culturais entre as gerações, mantendo viva as raízes africanas.
A gente come felicidade, então é uma comida que alimenta o corpo e nutre a alma
A popularização do caruru também reflete o orgulho baiano em valorizar suas raízes culturais. De prato sacro, reservado para oferendas, a símbolo de celebração e eventos votivos, o caruru segue entrelaçando fé, tradição e gastronomia, representando a riqueza cultural e a história da Bahia. Quem chega à Bahia fatalmente mergulha em sua história e sua comida, regada a dendê, encontrada praticamente a cada esquina e todos os dias.
Vale ressaltar como hoje o orgulho de ser e pertencer a uma cultura carregada de simbolismo deve-se muito ao governo de uma época não tão distante, por volta dos anos 1980, quando, em função de uma economia combalida, resolveu-se vender o simbolismo baiano como elemento turístico e cultural. Em que pese os interesses econômicos da época, nada foi mais acertado. A Bahia hoje tem a Associação das Baianas do Acarajé, tem caruru todos os dias, tem a disseminação da sua cultura com mais intensidade para outras partes do mundo muito em função do que vem sendo trabalhado ao longo das últimas décadas, produzindo um povo que tem orgulho de ser e pertencer à Bahia e a todo seu sincretismo.
“O caruru da Bahia é a junção de elementos místicos, de afetividade, é importante dizer isso, porque ali a gente não come só comida, a gente come comida, come gratidão, come agradecimento, pedidos, sonhos, afetividade, economia, porque a pessoa juntou o dinheiro para poder comprar, fazer o caruru. A gente come felicidade, então é uma comida que alimenta o corpo e nutre a alma. Isso é o caruru da Bahia, a festa do caruru. A gente está comendo história viva”, enfatiza Tata Ricardo.
E para reforçar o festejado caruru como uma iguaria oferecida 365 dias do ano, é a famosa chef Tereza Paim quem vai nos ofertar a receita do caruru baiano. A receita da chef rende 8 porções e leva 1 hora e 30 minutos para ficar pronta. Confira:
Ingredientes
60g de castanha-de-caju sem sal
50g de amendoim torrado, sem casca e sem sal
70g de camarão seco sem os olhos
30g de camarão seco sem a cabeça descascado
1,2 kg de quiabos
20ml de azeite de oliva
100g de cebola branca ralada ou passada no multiprocessador
8g de gengibre ralado
100ml de caldo de legumes ou de peixe
570 ml de leite de coco
80ml de azeite de dendê
Sal a gosto
Modo de fazer:
Junta a castanha, o amendoim e os camarões secos e passe-os no multiprocessador até virarem um pó.
Lave os quiabos e corte-os em rodelinhas ou em pedaços pequenos, desprezando a cabeça e o cabo. Não lave novamente depois de cortado, pois o quiabo solta uma baba.
Em uma panela, coloque o azeite de oliva e junta a cebola e o gengibre, levando ao fogo alto para refogar rapidamente. Em seguida, acrescente os quiabos.
Adicione o caldo de peixe ou o de legumes, o leite de coco e o dendê e deixe o quiabo cozinhar com os temperos ainda em fogo alto.
Vá colocando aos poucos o pó feito com a castanha, o amendoim e o camarão. Abaixe o fogo e mexa o mínimo possível, apenas para misturar, porque o quiabo solta muita baba.
Ajuste o sal. Quando os quiabos estiverem moles, o caruru estará pronto.
Desligue o fogo e sirva ainda quente ou morno.
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@isabel _qoliveira
Isabel Oliveira ( facebook)
NOTA COM HISTÓRIAS & SABORES
Torresmofest: chega a Salvador festival gastronômico que une gastronomia, cultura e lazer
O “Torremofest” chega pela primeira vez à cidade de Salvador trazendo gastronomia, música ao vivo e lazer para toda a família. O evento acontecerá até amanhã, 29 de setembro, das 12h às 22h, no estacionamento E do Shopping da Bahia, com entrada gratuita. O festival conta com uma estrutura de 4.500 m² em uma área ampla e aberta com mesas e cadeiras, palco, área kids sob tendas com barracas proporcionando comodidade para os presentes. Com pratos a partir de R$ 35, o “Torremofest” oferece uma ampla variedade de preparos de torresmo, incluindo torresmo de rolo, torresmo pururuca e torresmo de boteco. No local, diversas barracas estarão disponíveis com pratos como costela fogo de chão, baião de dois, feijão tropeiro, e muitas outras delícias!
Caruru da Feira celebra hoje os 60 anos da Feira de São Joaquim com caruru gratuito e muita música
A Feira de São Joaquim, maior feira aberta do estado da Bahia, realiza hoje, a partir das 14h, o Caruru da Feira em comemoração dos seus 60 anos. Será uma festa que vai reunir a nata do samba baiano, no Pier da Feira de São Joaquim, com Swing do Fora, Grupo Movimento, Eduardinho Fora da Mídia, Samba Trator, além da participação especial de Beto Jamaica (É O Tchan). A entrada gratuita.
Bar e restaurante Tatu Bola celebra primeiro aniversário na capital baiana
O badalado bar e restaurante Tatu Bola celebra um ano na capital baiana, na próxima terça-feira , 1/10, dividindo muitas alegrias com os clientes. Localizado no bairro da Pituba, o bar e restaurante oferece uma experiência completa: música ao vivo todos os dias, uma grande variedade de cervejas e drinks, além de um cardápio com opções para todos os gostos. A casa é o lugar ideal para quem busca momentos de descontração e sabor.
Rua Guillard Muniz, 609 – Pituba / Instagram: @tatubola.salvadorba
Reservas: linktr.ee/tatubola.salvador
Solar Gastronomia promete o combo perfeito de boa comida, drinks exclusivos e música
O fim de semana está chegando e uma das opções interessantes da cidade é reunir a turma para uma verdadeira experiência do bom viver no Solar Gastronomia, no bairro do Rio Vermelho. A mistura de comida afetiva, com a assinatura da chef Andréa Nascimento, opções dos melhores drinks e uma programação musical animada é o combo perfeito que tem movimentado a casa. Os momentos de diversão no Solar são uma combinação de gastronomia e coquetelaria exclusiva.
Rua Fonte do Boi, nº 24, Rio Vermelho
Couvert: R$ 30/ Mais informações e reservas: (71) 99658-8870
McDonald’s inaugura nova unidade na orla da capital
O McDonald’s inaugurou ontem mais um restaurante em Salvador. Além do tradicional cardápio, o espaço conta com o McCafé e café da manhã, com itens como bolos, medialunas e diversas bebidas quentes e frias com café todos os dias. A área externa possui 25 vagas para veículos, sendo duas para pessoas com deficiência e quatro para motos. O Drive-Thru e o balcão de atendimento funcionarão das 9h às 15h (de domingo a quinta) e das 9h às 5h, às sextas e sábados.
Endereço: Avenida Octávio Mangabeira, nº 1600, sentido Pituba - Piatã
Horário de funcionamento: das 9h às 01h (de domingo a quinta) e das 9h às 5h, às sextas e sábados.
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