Cozinha portuguesa é quase uma unanimidade entre brasileiros
Cerca de 183 mil “brasucas” vivem em terras lusitanas e se dizem encantados com a cultura gastronômica
O célebre escritor Eça de Queirós certamente jamais imaginaria que uma leva de brasileiros iria espichar os olhos para as terras ibéricas de Portugal e por lá fincar morada, nem nos seus mais longínquos sonhos e pensamentos. Pelo menos, não como ocorre na atualidade.
O tão festejado gosto do escritor pela gastronomia, narrada com requintes em meio aos seus grandes romances, rendeu livros, vultosas pesquisas e, sem dúvida, é um dos grandes atrativos dos que apostaram e ainda apostam em Portugal como morada fixa. Mas a busca por qualidade de vida e o idioma muito próximo ao nosso, em que pesem alguns estranhamentos, fizeram com que Portugal se transformasse na menina dos olhos dos brasileiros.
Bater em retirada para as terras lusitanas é fato que está atrelado à qualidade de vida do local e responsável pelo “exôdo” de muitos brasileiros. Mas a cozinha tão bem descrita por Eça é quase uma unanimidade entre os “brasucas”, que sempre têm uma certa saudade do país. Porém os ares lusitanos superam a falta da terra natal, e muito, pela perspectiva da conquista de uma vida melhor.
Segundo o último relatório do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF), de 2020, entre os 555 mil estrangeiros que vivem na parte portuguesa da Península Ibérica, pelo menos 183 mil são brasileiros. Mas o Itamaraty estima que existam cerca de 276 mil brasileiros vivendo por lá. As informações são do Clube do Passaporte, empresa especializada em processos para obtenção da cidadania portuguesa.
Há quase dois anos morando em Braga, Paula Gonçalves, de ascendência portuguesa e dupla nacionalidade, o marido Roger e um dos filhos fixaram residência em busca de qualidade de vida e oportunidades. Eles ressaltam a segurança como principal atrativo para morar em Portugal. “A gente anda totalmente despreocupado na rua, com celular, bolsa, no geral é supertranquilo”, conta Paula.
O marido Roger, dentre outras qualidades, ressalta a rica gastronomia lusitana. “Eu achei a culinária rica aqui, muitas variedades e opções pra todo gosto. Muito curiosos, às vezes, são os nomes das comidas, como “pica no chão”, que nada mais é que galinha ao molho pardo. Também há muitos doces, como creme de ovos, pastéis de nata, variedade enorme de queijos e vinhos. Não encontrei ainda suco de uva integral. Dizem que os portugueses não desperdiçam as uvas, tudo vira vinho”, conta, com graça.
Já Ana Cláudia Navarro está em Portugal quase toda uma vida, há 21 anos. E neste grande espaço de tempo celebra com grande alegria a comidinha da terra. “Adoro a comida portuguesa! Esquecer a do Brasil, jamais, minha raiz! Mas eu prefiro a gastronomia daqui”, diz com alegria na voz.
Além dos perrengues com o português de Portugal, logo quando chegou, os pães portugueses tiveram um impacto imenso sobre ela, que se invocou com o formato. A ideia fixa na cabeça do “design” dos pães brasileiros fez com que ela se assustasse com a aparência dos pães portugueses. Tinha o estranho formato do pão do “tempo de Jesus”, conta.
“Adoro pão! E cheguei aqui e encontrei outro tipo de pão. O pão aqui é muito feio! À época, eu procurava comprar pão bonito, mas as formas dos daqui eram como se fossem no tempo de Jesus. Aqui há uma variedade de pães muito grande. Cada região tem seus tipos de pães: pão alentejano, pão de Mafra. Hoje, adoro esses pães porque não são só trigo, de farinha branca, têm outras misturas, mas parece pão no formato do tempo de Jesus”, diz, rindo muito. Acostumou-se, enfim!
Há quase 17 anos em Portugal, depois de se casar e ter um filho de origem portuguesa, Carla Burlacchini já está completamente entranhada na cultura lusitana! Embora tenha sentido um certo estranhamento inicial, é através de uma frase atribuída a Fernando Pessoa que ela expressa muito bem o quanto está adaptada. “Primeiro estranha-se; depois entranha-se", cita o poeta.
Portugal, para Burlacchini, é apaixonante e ela acredita que há muitas vantagens, mas a segurança que o país oferece a qualquer cidadão é um dos principais benefícios e motivos que sempre lhe estimularam a continuar vivendo na terra de Camões.
A gastronomia é o maior objeto de desejo de Carla, que tem pura devoção e imenso prazer em colocar em prática os dotes culinários aprendidos em Portugal. Ela orgulha-se, por exemplo, de ter adquirido domínio em fazer sopas, não uma sopa qualquer, mas a sopa de Portugal. “Uma coisa a que me habituei e que aprendi e hoje sou expert são as sopas”, conta, dando bastante ênfase à palavra expert, com muito orgulho da habilidade.
Burlacchini continua explicando sobre uma das culturas gastronômicas portuguesas, que é de encher os olhos. “Portugal tem a cultura da sopa. Quando meus filhos eram crianças e estavam na escola, tomavam sopa. Todas as escolas servem sopa no almoço antes do prato principal. E aqui, qualquer café, qualquer restaurante, o que for, vai ter sopa sempre. Sopa é algo que me habituei a fazer e sempre fiz desde que cheguei aqui, tanto que obrigava os meninos a tomar à noite. Além da sopa na escola, eu oferecia sopa no jantar. Para isso, tinha a relação de qual receita era oferecida pela manhã, na escola, e à noite preparava com outro sabor”, conta.
A sopa e a açorda, de vários tipos, são iguarias especiais para Carla. A açorda alentejana é um dos pratos típicos, peculiares e milenares da tradição portuguesa. A iguaria, segundo os especialistas, pode ser considerada uma sopa porque tem o caldo, característica fundamental do prato. Outros tipos de açorda não são apontados como tal porque são feitos de uma forma em que a textura fica mais espessa, mais pastosa. No entanto, os termos sopa e açorda parecem confundir-se na cultura popular portuguesa.
Segundo os pesquisadores, o termo “açorda” tem origem na língua árabe, cuja raiz vem da palavra tharada, que significa “partir o pão”. A forma clássica encontrada na literatura árabe é tharîd ou tharîda, que significa “pão triturado e embebido”. Há outras explicações para a açorda. O termo português “açorda” tem origem da forma dialetal do árabe andaluz, falado na Península Ibérica, thurda ou curda; thorda ou çorda. Esta última palavra se aproxima mais do termo português atual.
À parte as origens, a açorda é um prato tão impregnado na cultura portuguesa que está em citações, poesias, histórias e músicas lusitanas. Mal comparando, é o nosso acarajé em termos de prestígio cultural. O fadista alentejano António Pinto Basto criou o fado “Açorda de Coentros e Alhos”, cuja canção cita a receita mais original do acepipe, conta Carla, dando dicas culturais, citando o fadista.
Burlachinni faz questão de dizer que adora todos os tipos de açorda, inclusive as variedades do prato. “Gosto de todos os tipos de açorda. Esta que estou fazendo é a típica alentejana. Mas tem muita gente que em vez de ovos coloca bacalhau, peixe, que pode ser cozido, frito, e fica muito bom”, diz.
Carla afirma que a receita da açorda alentejana é simples, econômica e de um sabor incrível. Então vamos aproveitar e buscar saber como é que se faz o acepipe com Carla Burlachinni na batuta da cozinha para a coluna Histórias & Sabores, direto de Portugal!
AÇORDA À MODA ALENTEJANA
INGREDIENTES:
* 1 Pão tipo italiano (a receita original é com o pão alentejano)
* 1 molho de coentro (a receita original pode levar o poejo, mas não é indispensável)
* 3 a 4 dentes de alho
* 4 ovos
* 1 colher bem cheia de sal
* 4 colheres de sopa de azeite
*1,5 litro de água
MODO DE FAZER
Esmague os alhos com o coentro e o sal grosso em um pilão. Coloque a água no fogo com um pouco de sal, até ferver. Quando começar a ferver, junta os ovos com muito cuidado para não desmancharem. Eles devem ser cozidos lentamente, aproximadamente de 3 a 5 min. Em seguida, coloca o coentro e o alho já triturado numa tigela funda. Acrescenta o azeite e depois a água, ainda bem quente, onde os ovos foram feitos. Regue as fatias do pão com o caldo e coloca os ovos. Aguarde mais 3 a 5 minutos e está pronta a açorda alentejana! Dá para quatro porções.
NOTAS HISTÓRIAS & SABORES
MR. BLUE APRESENTA NOVIDADES EM SEU CARDÁPIO
O Mr. Blue, primeiro restaurante especializado em sanduíches de frutos do mar da Bahia, apresenta três novidades em seu cardápio. O Tira Onda é feito com camarão (empanado e frito), alface americana e molho especial da casa. Outro destaque é o Salva Vidas, sanduíche feito com sobrecoxa de frango empanada e frita e salada coleslaw. Já o Mr. Tsunami há o salmão grelhado com cream cheese (empanado e frito) e molho teriyaki, alface americana, tomate e cebola roxa. O Mr. Blue funciona exclusivamente por delivery, de terça a domingo, das 18h às 23h, e os pedidos são realizados pelo site www.mrbluedelivery.com.br ou Ifood. Mais informações podem ser encontradas no instagram: @mrbluedelivery.
NESPRESSO INAUGURA NOVA BOUTIQUE NO SALVADOR SHOPPING
A Nespresso, pioneira no segmento de cafés porcionados de alta qualidade sustentável, já tem uma loja no Shopping Salvador para chamar de sua. A marca está com uma nova boutique no centro comercial, localizada no piso L2 e com uma área de 77m². Antes, a Nespresso funcionava em um Pop Up no local. A boutique terá à disposição toda a linha de máquinas, acessórios e todos os cafés da linha Original e Vertuo, no padrão de qualidade de atendimento já conhecido por seus clientes. A marca apresenta um conceito imersivo com o mundo de cafés e pretende atender todas as expectativas dos clientes da região.
FEIRA VOLTADA PARA A AGRICULTURA FAMILIAR É ATRAÇÃO NA PITUBA
Vai até este domingo (05) a primeira edição da Feira é Nossa, evento que ocorre na Praça Nossa Senhora da Luz, na Pituba, em Salvador, com o objetivo de estimular o empreendedorismo das famílias, que tiram o próprio sustento a partir do trabalho da agricultura familiar. Quem for ao evento vai poder participar do Workshop “Escuta Ativa”, que visa aguçar o uso dos cinco sentidos sensoriais: visão, audição, tato, olfato e paladar. Mais Informações podem ser obtidas pelos telefones (71) 99677-0777 / 98537-9998 ou no Instagram @feiraenossa.