Do abará ao quiche, comida de rua sofre evolução e continua afetiva
Das ruas do Brasil Colônia até hoje, o país manteve uma identidade marcada pela venda de comida de rua
Foram o francês Jean-Baptiste Debret e o alemão Johann Moritz Rugendas que pintaram e desenharam o Brasil no início do século XIX, revelando seus costumes. Entre as imagens, a da comida de rua.
Os naturalistas flagraram o cotidiano do comércio ambulante. Os registros históricos mostram que esses vendedores de rua, negros escravizados, a maioria mulheres, ofereciam produtos diversos, dentre frutas, doces, linguiças, tudo em cestos e balaios, muitos deles comercializados, tradicionalmente, na cabeça.
Das ruas do Brasil Colônia até hoje, o país manteve uma identidade marcada pela venda de comida de rua. Sofreu, é verdade, modificações ao longo do século, exigidas pelo mundo contemporâneo. Evoluiu, com maquinários mais sofisticados e novos meios de transportes para confecção e comercialização dos produtos. Além disso, com a informação mais que acelerada e a globalização, um número de iguarias consideradas novidades de comida de rua – muitas vezes inusitadas – vem surgindo cada vez mais em vários pontos da cidade.
Enquanto a história move-se, trata de acomodar o homem em seu entorno, consolidando suas características, que surgem nas grandes artérias e ruas da cidade. Nelas, é forjada a identidade de uma cultura, impregnada de cores, sabores e misturas.
Mas ainda hoje é possível encontrar ambulantes do passado, cujos serviços resistiram ao tempo e não desapareceram da nossa vida. Esse é o caso do vendedor de taboca com seu típico triângulo, os vendedores de mingau, do bolinho de acarajé, o homem do cuscuz de tapioca, do quebra-queixo.
A modernidade também fez surgir novidades, como a forma ambulante de vender acarajé e abará. Do tabuleiro na cabeça aos tabuleiros fixados nas ruas, hoje é possível encontrar os produtos vendidos de forma ambulante e num ‘tabuleiro’ diferente: num carrinho de mão e à base do megafone.
É nas ruas enladeiradas do bairro da Graça e adjacências que o pedagogo e professor da rede municipal de ensino Jorge Guimarães, 53, completa a renda vendendo um dos quitutes mais tradicionais e saborosos da Bahia, o abará. Ele circula com seu carrinho de mão de poliestireno e com um megafone faz ecoar o já conhecido bordão pelas ruas do bairro. “Abará com recheio de camarão!’, entoa.
“Com o tempo ocioso por causa da pandemia resolvi diversificar. Gosto deste circuito por causa dos prédios. São mais pessoas que consigo alcançar pelo megafone”, revela.
O professor Francisco Senna explica que o advento “do automóvel, das máquinas, fez surgir um tipo de comércio mais motorizado, desde aqueles de pequena escala, empurrados à mão, aos de maior porte, a exemplo dos automóveis, fazendo com que, em muitos casos, o comércio ambulante migrasse para pontos fixos de vendas”, informou.
Foi esta modernidade contemporânea que criou uma série de condições pautadas pela tecnologia atual que nos deu a oportunidade de conhecer novas iguarias, algumas adaptadas a nossa região, criando uma diversidade sem fim de sabores, incluindo receitas estrangeiras, ou à base da criatividade.
Os caminhões no estilo food truck, ou caminhão de comida, traduzido do inglês, são um grande exemplo de como o mundo contemporâneo criou novas possibilidades para receber todo tipo de culinária. Eles começam a dominar o cenário em alguns pontos de Salvador. Mais sofisticados, os caminhões vendem todo tipo de produto, como é o caso da ‘padaria’ Artesanale, localizada no bairro do Flamengo, em Salvador.
Há um ano no local, o gastrônomo e chefe de cozinha Jean Lucas de Carvalho, 30, oferece uma comida de rua de saltar os olhos: pães, carros-chefes do local, doces e salgados de tirar o fôlego, como a banana-real; sonhos de diversos sabores, pão de mel, sanduíche tipo Bauru, donuts, quiches, esfirras, e outras iguarias irresistíveis.
“Há clientes que elogiam a comida e dizem que relembram a infância. Tenho um cliente que adora quiche de alho-poró. Ele chega aqui e diz: ‘Rapaz, esse quiche me lembra os empadões de alho-poró que a minha avó fazia quando eu era criança.’ É bom ficar ouvindo as histórias deles”, conta, empolgado.
Se você quiser provar uma delícia típica das ruas no aconchego do seu lar, vai aí uma receita especial do chefe Jean Lucas de Carvalho.
Ingredientes da massa do Quiche
200g de farinha de trigo
100g de manteiga ou margarina
50ml de leite
1g de sal
O chef Jean prepara a massa para essa delícia que já está integrada à comida de rua do baiano
Modo de preparo
Misture todos os ingredientes até formar uma massa
maleável. Quando estiver soltando das mãos, é porque está pronta para ser
moldada à forma ou assadeira de sua preferência.
Em seguida, molde a massa, com espessura aproximadamente de
um milímetro e leve ao forno preaquecido para assar a 200ᵒ C.
Reserve enquanto faz o recheio
Recheio
20ml de azeite de oliva
20g de pimentão vermelho
25g de cebola
170g de alho-poró
250g de creme de leite
Sal a gosto
Pimenta-do-reino a gosto
30g de queijo parmesão ralado
30g de queijo muçarela
Modo de preparo
Refogue a cebola e o pimentão por cerca de um minuto,
acrescente o alho-poró e refogue por mais dois minutos.
Retire do fogo e reserve em um bowl. Acrescente o creme de
leite e o ovo, misture todos os ingredientes e em seguida coloque na massa
pré-assada do quiche e reservada anteriormente. Adicione o queijo muçarela
ralado por cima e mais uma vez coloque o quiche já recheado para assar no forno
preaquecido a 200ᵒ C por dez minutos.