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Histórias & Sabores

Por Isabel Oliveira

ACERVO DA COLUNA
Publicado sábado, 06 de setembro de 2025 às 7:00 h | Autor:

Do dendê ao xinxim: o legado centenário de Maria de São Pedro

Receitas transmitidas pela oralidade mantêm viva a tradição da quituteira que marcou época no Mercado Modelo

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Imagem ilustrativa da imagem Do dendê ao xinxim: o legado centenário de Maria de São Pedro
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Os tempos eram bem outros na Cidade Baixa de Maria de São Pedro. O cenário político, social e as pessoas que transitavam tinham a frequência quântica de outrora, como se dizia na linguagem de antigamente, nos tempos da cozinheira, quando sequer existia o conceito contemporâneo de chef de cozinha. Há exatos 100 anos, a ilustre Maria de São Pedro inaugurou seu primeiro cantinho de guloseimas, onde oferecia os melhores acepipes da Bahia, frequentados pela nata baiana e também estrangeira.

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| Foto: Keyla Pereira

Quituteira de mão cheia, Maria de São Pedro marcou a memória degustativa de Antônio Maria, cronista recifense que passou uma temporada em Salvador. Em um texto saudoso sobre a então cozinheira falecida, ele chegou a mencionar o querido Anísio Teixeira, um dos ilustres comensais de seu restaurante.

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“Sabia do dendê todos os milagres e consequências. Quem passasse na Bahia, nós levávamos para lá. Um dia foi o Braga, com Tônia Carrero (naquele tempo Mariinha) e Aníbal Machado. Voltavam da Europa e traziam as primeiras notícias do existencialismo. Contavam de Sartre, como ele era, onde parava, quem o seguia. Anísio Teixeira ouvia e contava com acolhimento. Odorico Tavares, poeta de versos renunciados, emudecia nos olhos azuis de Mariinha”, diz na sua crônica publicada originalmente no jornal O Globo de 1958, intitulada Um botão de rosa a Maria de São Pedro.

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| Foto: Arquivo pessoal

Essas personagens vívidas, retratadas em crônicas e livros, provaram do dendê de Maria de São Pedro na moqueca de peixe, de camarão, no arroz, na farofa e até, como registra Antônio Maria em uma de suas crônicas, em um “ovo cozido no molho oleoso de coco e dendê’’.

Até que um dia veio Neruda, “comedor exagerado de pimentas, bom paladar de aguardente, olhos sonolentos de andino. O azeite de galinha de xinxim lhe escorria pelo canto da boca”, narra Antônio Maria. Até hoje, o xinxim de galinha é também uma das comidas campeãs de venda do restaurante.

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| Foto: Keylane Dias

As iguarias de Maria de São Pedro são transmitidas na família pela oralidade. Não há caderninho de receitas, não há registro escrito, mas desde a época da famosa cozinheira da velha Bahia, a família preserva cada detalhe dos pratos, o sabor e todo o modo de fazer — incluindo o tempo de cozimento e, se duvidar, até o “ponto do cheiro” da iguaria que Maria ensinava.

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| Foto: Keyla Pereira

Alice dos Santos Marques, a caçula da única filha viva de Maria de São Pedro, Eunice dos Santos Marques, hoje com 90 anos, conta: “Todas as receitas são originais. Todas passadas de ‘boca’ para os filhos e os netos. Quem entrar lá para cozinhar, se inventar moda, sai”. Ela se refere à contratação dos funcionários e à necessidade de deixar claro o rigor na execução das receitas que guardam a essência das comidas da avó.

Maria de São Pedro teve 12 filhos, dos quais 10 biológicos e dois filhos das cozinheiras de seu tempo, que ela criou como se fossem seus.

Imagine-se sentado nas mesas do restaurante da Alfândega e, depois, no Mercado Modelo, onde o restaurante permanece até hoje, tendo a Baía de Todos-os-Santos bem à frente. Como terá sido para o então jovem Jorge Amado e tantas outras personalidades que passaram por lá? Amado registrou suas impressões no livro Bahia de Todos-os-Santos: guia de ruas e mistérios de Salvador, onde também incluiu referências à saborosa comida da saudosa Maria de São Pedro.

Maria de São Pedro no comando do restaurante
Maria de São Pedro no comando do restaurante | Foto: Pierre Verger

“Mestra da maior das artes, a da culinária, preservou e engrandeceu a tradição da inexcedível comida baiana, sua cor, seu perfume, seu sabor divinos. Seu antigo restaurante era uma festa em frente à rampa do Mercado Modelo, que o fogo devorou. Creio que Odorico Tavares, Wilson Lins e eu muito concorremos para que Maria de São Pedro e seu restaurante se fizessem célebres em todo o país [...] rainha do vatapá e do efó, do caruru e do abará, das moquecas e dos xinxins, do dendê e da pimenta, rainha da delicadeza e da cordialidade!”, diz o amigo Jorge Amado.

Maria de São Pedro se transformou em uma lenda da Cidade Baixa e de toda a Bahia, cativando os fregueses com a sua gastronomia simples e saborosa.

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| Foto: Keyla Pereira

“Maria de São Pedro era uma mulher bondosa, extremamente bondosa. Atenciosa, sabia receber, sabia cativar e cultivar os seus clientes, tinha uma mão maravilhosa para cozinhar. São vários fatores que envolveram essa mulher negra sem muita educação, cultura, mas que tinha um dom maravilhoso de cozinha e uma cordialidade e gentileza imensa”, afirma a neta Alice.

Alice conta que toda a família busca preservar a culinária da avó:

“Até hoje nós tentamos manter isso, buscando o conhecimento e a valorização do trabalho que foi feito por ela. Dentro do nosso espaço, as pessoas vão até o restaurante em busca dessa essência, desse tempero transmitido por Maria de São Pedro. Todos nós, suas netas e netos, procuramos conservar e preservar a sua culinária e a força de mulher que nos foi transmitida. Até hoje preservamos esse legado e buscamos um futuro melhor através da culinária, valorizando o nome de Maria de São Pedro”.

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| Foto: Keyla Pereira

Ela reitera: “Nós sempre permanecemos fiéis ao que foi passado da mãe para a filha e da filha para as netas. O que é que nós mudamos? Apenas a forma de servir, a decoração, a montagem do prato. Mas a essência do tempero, do que foi passado, continua a mesma. Não podemos perder essa essência, é o que nos torna diferentes: a conservação e a preservação do que foi transmitido de Maria de São Pedro para suas filhas”.

“Hoje somos netas de Maria de São Pedro, eu e as minhas irmãs, minhas primas, já temos até bisnetos de Maria de São Pedro trabalhando junto ao restaurante, para que não seja só 100 anos, e tentamos dar continuidade a esse legado, buscando sempre o melhor, a valorização do espaço”, finaliza Alice.

Alice dos Santos Marques, a caçula da única filha viva de Maria de São Pedro, Eunice dos Santos Marques, hoje com 90 anos
Alice dos Santos Marques, a caçula da única filha viva de Maria de São Pedro, Eunice dos Santos Marques, hoje com 90 anos | Foto: Keyla Pereira

Vamos trazer para a coluna Histórias & Sabores o legado, o clima e a atmosfera que impregnam os pratos do restaurante Maria de São Pedro, na celebração dos 100 anos de um dos estabelecimentos mais marcantes da culinária baiana, reverenciado por grandes personalidades e amigos da cozinheira de Santo Amaro da Purificação.

Para saudar Maria de São Pedro, sua neta Alice compartilhou a receita de xinxim de galinha, prato lembrado por muitos, mas sobretudo pelos grandes admiradores Jorge Amado e Antônio Maria.

Xinxim de Frango

Ingredientes:

550 g de coxa e sobrecoxa de frango

240 g de cebola

20 g de gengibre

120 g de tomate

30 g de coentro

360 g de camarão seco

100 ml de sumo de limão

100 ml de azeite de dendê

3 dentes de alho

Modo de preparo:

Limpe o frango com água, metade do sumo de limão e reserve.

Machuque o gengibre, sal, alho e coentro. Após, acrescente tomate e cebola em cubos pequenos e camarão seco pulsado no liquidificador. Coloque tudo em uma panela, adicione o restante do sumo de limão, envolva o frango no tempero e leve ao fogo até atingir o cozimento. Acrescente o azeite de dendê e deixe ferver por mais 10 min. Sal a gosto.

Sugestão de acompanhamento:

Arroz branco e farofa de azeite de dendê.

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@isabel _qoliveira

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Isabel Oliveira ( facebook)

NOTA COM HISTÓRIAS & SABORES

A Cubana Sorvetes realizará 15ª edição do Cubanito Amigo em prol das Obras Sociais Irmã Dulce

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| Foto: Divulgação

Com o objetivo de celebrar o Dia Nacional do Sorvete – comemorado em 23 de setembro - e proporcionar um gesto de solidariedade, A Cubana Sorvetes realiza a sua 15ª edição do Cubanito Amigo. Criado em 2010, o projeto repassa a renda de um dia específico do Cubanito (bolinho da Cubana + 01 bola de sorvete) ou do sorvete de duas bolas para o Centro Educacional Santo Antônio (CESA), um dos 21 núcleos atendidos pelas Obras Sociais Irmã Dulce. Neste ano, a ação ocorrerá no dia 27 de setembro.O público poderá participar e contribuir com a causa social consumindo os produtos em uma das cinco unidades, situadas no Elevador Lacerda, Pelourinho, Pituba, Rio Vermelho e Itaigara.

Ferrero lança sua primeira campanha institucional “Qualidade na Essência”

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| Foto: Divulgação

A Ferrero, companhia multinacional italiana dona das marcas Nutella®, Kinder®, Ferrero Rocher® e Tic Tac®, lança no Brasil a campanha institucional global “Qualidade na Essência”, um convite para o público brasileiro conhecer mais a fundo os valores que sustentam uma das maiores empresas na fabricação de chocolates e balas do mundo. Com esta novidade, a Ferrero reafirma seu compromisso com a qualidade dos produtos, a inovação contínua e os valores duradouros de sua herança italiana como empresa familiar. A companhia busca fortalecer o vínculo com os brasileiros, público que consome em média 3,9 quilos de chocolate por ano, de acordo com dados de 2024 da Abicab (Associação Brasileira da Indústria de Chocolates, Amendoim e Balas).

Flocão de milho da agricultura familiar da Bahia cruza o oceano e brilha em festival de gastronomia na França

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| Foto: Divulgação

A agricultura familiar da Bahia atravessou o oceano e conquistou espaço em um dos palcos mais importantes da gastronomia internacional: o Festival Kouss-Kouss 2025, realizado em Marselha, no sul da França. Entre chefs renomados e culturas diversas, a Cooperativa Agropecuária Mista Regional de Irecê (Copirecê), do município de Irecê, reconhecida internacionalmente pela produção de milho não transgênico, apresentou o tradicional flocão de milho Puro Milho, ingrediente base do cuscuz que encantou os franceses.

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