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Histórias & Sabores

Por Isabel Oliveira

ACERVO DA COLUNA
Publicado sábado, 03 de maio de 2025 às 6:00 h • Atualizada em 03/05/2025 às 6:37 | Autor:

Entre fugas e panelas, a palma é legado do cangaço e Caatinga

Símbolo de sobrevivência do bioma, a planta ganha novo status como alimento cultural e ancestral

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Imagem ilustrativa da imagem Entre fugas e panelas, a palma é legado do cangaço e Caatinga
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O bioma Caatinga, que serve de cenário para muitas obras, como O Cangaço na Bahia, de Rubens Antônio da Silva Filho, e tantos outros autores, foi recentemente celebrado no Dia Nacional da Caatinga por ser um dos biomas mais ricos e peculiares do Brasil. Na Bahia, a Caatinga ocupa mais de 50% do território estadual.

Mas não foi a peculiar vegetação do sertão catingueiro que atraiu o mestre Rubens Antônio para um tema que está entranhado na história da região nordestina, incluindo o estado da Bahia. A história do cangaço, tendo como personagem central Lampião e seu bando, foi tema de anos de estudos do professor, que publicou dois livros nos quais procura ser fiel aos fatos da época em meio ao cenário da Caatinga.

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| Foto: Divulgação

Ao passo que conta as histórias do bando, Rubens desenhava o cenário das terras dos muitos cactos e espinhos, dos frutos e folhagens que sustentavam os moradores do sertão, que muitas vezes corriam para o meio da mata caatingueira para sobreviver e fugir das crueldades do bando de Lampião quando eles resolviam parar em fazendas ou na cidade. Quem conta um pedaço dessa história é Ana Cataldi, cujos avós e bisavós viveram à sombra do medo na região onde Lampião e seu bando eram temidos.

“A população saía de suas casas e se escondia na Caatinga, tremendo desconforto, pisos pedregulhados, muitos espinhos. A minha mãe tinha 14 anos e fugiu com os familiares e meu avô. Meu bisavô era coronel, era o mandatário da cidade, mas todo mundo fugiu com medo para a Caatinga. Minha avó contava e minha mãe conta que minha avó botava panos nas bocas das crianças pequenas para não chorarem, para não chamarem atenção. Todas as famílias [do sertão] passaram por isso”, conta Cataldi.

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| Foto: Divulgação

Era da palma e de outras folhagens e frutos que os moradores, muitas vezes em estado de extrema pobreza, se alimentavam; ou os próprios bandos e moradores em fuga quando não havia água nem comida para devorar no meio mata. Um dos relatos de fuga da população é descrito pelo historiador:

“Dia 23 de janeiro, chegou uma canoa a Petrolândia, em Pernambuco. Nela, um grupo com chapéus de couro quebrado, cartucheiras passadas, grandes punhais à cinta, pistolas e fuzis. Assustavam. A população começou a fugir para a Caatinga”. Trecho que consta no livro Cangaço na Bahia, no volume Cavalos do Cão, à pág. 98, de Rubens Antonio.

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| Foto: Divulgação

“À sua frente, uma árvore de favela e outra de pau-ferro. Dominando o restante do entorno, burras-leiteiras, caatingueiras, cabeças-de-frade, carapibas, caroás, cunanã, favelas, gravatás, icozeiros, imbiuruçus, licuris, macambiras, mandacarus, mulungus, palmatórias-do-inferno, quipás, quixabeiras, umburanas, umbuzeiros, xique-xiques, uma infinidade de plantas típicas da Caatinga”, cita o professor Rubens no trecho do livro.

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| Foto: Divulgação

Um dos símbolos de resistência do sertão da Caatinga, a palma serve para os animais e para os sobreviventes durante a seca e para além dela. Rosa Gonçalves, chef e professora de gastronomia, vive e respira o sertanismo por todos os poros. É ela quem filosofa sobre o poder da palma como grande símbolo da Caatinga e não apenas como forragem para os animais.

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| Foto: Divulgação

“Ela é muito usada, sempre foi usada pela população, pela alimentação no dia a dia, para nutrir essa população. Por isso, tem um valor histórico, um valor cultural, um valor social, um valor afetivo. Porque ela serviu para alimentar em momentos difíceis. O que resistia era a palma em momentos de seca, de falta de alimento da população. A palma estava sempre ali presente, auxiliando essas famílias a terem alimento na mesa. E o sabor dela também é muito apreciado por essa população”, conta Rosa.

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| Foto: Divulgação

Rosa pontua que, hoje, não se trata de um alimento para saciar a fome, mas de um alimento cultural, de resistência.

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| Foto: Divulgação

“Hoje, nós sabemos que a realidade nas regiões de sertão, nas regiões de Caatinga, no interior do Nordeste em geral, é totalmente diferente porque a população tem acesso à água, à energia elétrica, a programas sociais que auxiliam no desenvolvimento. Mas mesmo com tudo isso, a palma é um alimento que faz parte da cultura de algumas regiões do Nordeste, então não é mais uma questão só de ter uma alternativa para a fome, para saciar a fome. Ela é um alimento que faz parte da resistência cultural, social e histórica da população”, filosofa.

A gastrônoma chama atenção para o novo conceito, um novo olhar da gastronomia para as plantas consideradas como Plantas Alimentícias Não Convencionais, as PANCs, que são mais valorizadas pelo seu teor nutricional.

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| Foto: Divulgação

“Hoje, com esse novo momento da gastronomia brasileira, gastronomia mundial, que vem auxiliando a divulgar a nossa cultura alimentar, a palma ainda é pouco utilizada, pouco divulgada. Mas eu vejo um crescente nessa utilização da palma. A gente chega em aulas, em eventos, em festivais e são feitas releituras de pratos tradicionais do sertão. Eu acho que ainda tem muito a se explorar, muito a divulgar”, diz.

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E finaliza: “A palma vai muito mais além do que só saciar a fome do povo nordestino, do sertão das regiões da Caatinga. Ela é rica em nutrientes. A palma possui ferro, possui cálcio, vitamina A, vitamina C, colágeno e muitos outros nutrientes. Hoje, através do consumo da palma, que ainda faz parte do dia a dia de diversas regiões, ela nutre a população. Independente de estudos científicos, estudos nutricionais, a população já sabia que a palma dava força, dava vitalidade, dava brilho na pele. A sabedoria popular é o registro da nossa ancestralidade, da nossa história, da nossa cultura, e o povo sabia, entendia que, além de saciar, nutria essa população”, afirma.

A palma, além de nos lembrar o cangaço pela escrita do mestre Rubens Antonio, é o tema da nossa comidinha deste fim de semana pelas mãos da chef Rosa, que, por estas linhas, se expressou com poesia e delicadeza.

Palma Sertaneja

Ingredientes:

400 g de palma em cubinhos

300 g de linguiça de bode em cubos

50 g de manteiga de garrafa

1 dente de alho picado

1 cebola pequena em cubos

1 tomate em cubos

1/2 pimentão vermelho em cubos

1 pimenta-de-cheiro picada

40 g de castanha de caju triturada

Coentro picado a gosto

Cebolinha picada a gosto

Sal a gosto

Pimenta-do-reino a gosto

Cúrcuma a gosto

100 ml de leite de coco

50 ml de vinagre

Modo de preparo:

Coloque a palma em uma panela com uma colher de chá de sal, o vinagre e água suficiente para cobrir. Leve ao fogo por 10 minutos. Escorra e lave em água corrente. Reserve.

Em uma panela, aqueça a manteiga de garrafa e frite a linguiça de bode. Retire e reserve.

Na mesma panela, refogue a cebola e o alho. Acrescente o pimentão, o tomate, a castanha triturada, a pimenta-de-cheiro, a cúrcuma, o sal, a pimenta-do-reino e o cominho. Misture bem e adicione 50 ml de água. Cozinhe por alguns minutos.

Adicione a palma cozida, o coentro, a cebolinha e o leite de coco. Misture para incorporar os sabores. Acrescente mais 100 ml de água e cozinhe com a panela destampada até o molho encorpar.

Sirva com arroz branco e farofa na manteiga de garrafa.

NOTA COM HISTÓRIAS & SABORES

Em campanha exclusiva, Shopping Itaigara sorteia viagem dos sonhos para vinícolas em Mendoza, na Argentina

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A cidade de Mendoza, na Argentina, referência internacional quando se fala em enoturismo, pode ser o próximo destino das mamães que frequentam o Shopping Itaigara. O centro de compras promete a experiência em sua campanha para o Dia das Mães durante a promoção especial da temporada. Quem quiser participar dessa viagem de milhões deverá realizar compras acima de R$ 350, entre os dias 29 de abril e 15 de maio. Já pensou fazer um city tour com visita à icônica Bodega Catena Zapata, símbolo de inovação e excelência?

Oriente Fast renova Menu Executivo com opções japonesas e chinesas

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O Oriente Fast, reconhecido como um dos melhores rodízios de gastronomia oriental em Salvador, acaba de atualizar seu Menu Executivo. Com influências da culinária chinesa e japonesa, a proposta está disponível de segunda a sexta-feira, exceto feriados, exclusivamente no horário do almoço, com Entrada, Prato Principal e Sobremesa ou Café por apenas R$ 69. Como opções de prato principal, os clientes podem escolher vários combinados, entre eles, o Combinado de 12 peças, O Oriente Fast fica na Rua Borges dos Reis, nº 46, na orla do Rio Vermelho. Mais informações: @orientefast.

Vinhos de Morro do Chapéu premiados projetam enoturismo da Chapada Diamantina

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Morro do Chapéu, na zona turística Chapada Diamantina, comemora a premiação nacional de vinhos produzidos no terroir do município. Os rótulos Ferro Doido Malbec, da vinícola Vaz, e o Reconvexo Reserva Syrah, da vinícola Reconvexo, receberam a excelente nota 92 e medalha de ouro na Grande Prova Vinhos do Brasil 2025, a maior degustação às cegas e a mais conceituada competição do setor no país. A entrega das premiações será na Wine South América (WSA) 2025, a maior feira de negócios do setor da América Latina, que acontece de 6 a 8 de maio, em Bento Gonçalves, na Serra Gaúcha.

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@isabel _qoliveira

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