Gostosuras ou travessuras?
Raphael Müller/ Ag. A TARDE
Havia no antigo mundo celta uma festa chamada de Samhain que servia para marcar o início do inverno dos países gálicos e foi cristianizada pela Igreja primitiva. Era celebrada entre os dias 30 de outubro a 2 de novembro, marcando a passagem do Dia de Todos os Santos e o Dia dos Mortos, além de comemorar a colheita dos gaélicos. É desse evento que provavelmente surgiu a tradicional celebração conhecida em todo o mundo como Halloween.
Hoje denominada festa das bruxas, a tradição chegou aos países de língua inglesa, mas depois foi disseminada pelos americanos em todo mundo. Ocorre sempre um dia antes da celebração cristã ocidental do Dia de Todos os Santos, único evento que restou do festejo original, segundo alguns entendidos no assunto.
Abracadabra!
A pergunta clássica entre os americanos, o famoso trick or treat, ou “gostosuras ou travessuras” no idioma português, não é cumprida à risca como nas noites assombradas do Dia das Bruxas. Mas por aqui a diversão é tão garantida quanto as brincadeiras mais pesadas dos americanos em seu tradicional Halloween.
A festa americana impressionou a confeiteira e empresária Rebecca Andrade Lhu, da Lhu Cake Studio (@lhucakestudio), em sociedade com James Lhu, que passou uma temporada nos Estados Unidos.
“Esta época me faz lembrar minha temporada nos EUA porque lá é algo muito cultural. As pessoas se animam demais! O Halloween é de fato um grande evento. Não vou negar que entrei no clima rapidinho e, junto com minha filha, fui pedir doces pelas ruas da Filadélfia. Uma experiência horripilante muitas vezes, porque lá as pessoas capricham muito e o susto é quase certo. Eu mesma me assustei e meus gritos se misturaram em meio ao de outras pessoas. Aí não passei tanta vergonha”, conta rindo.
Aqui no Brasil, a data vem se consolidando há alguns anos e atualmente o evento se transformou em um folclore à brasileira, com festinhas de todos os gêneros, principalmente nas escolas de inglês, com direito aos símbolos que o evento exige.
Tatiana Ramalho, coordenadora de eventos da Pan American School of Bahia (Pasb), escola tradicionalmente americana, acredita que a internet tem muito a ver com a disseminação da festa no país. Ela conta que a instituição comemora o evento desde que foi fundada na Bahia, há 60 anos, quando ninguém celebrava a data, que era vista apenas nos filmes americanos.
“Acredito que, com a globalização e o amplo acesso à informação que a internet e as redes sociais proporcionam, o Halloween caiu no gosto do brasileiro”, afirma.
Já a confeiteira Rebecca diz que o evento cresce a cada dia no Brasil. “O Halloween vem mesmo tomando espaço porque há dez anos tinha um volume muito menor de pedidos voltados para esta temática. Esse tipo de proposta vem aparecendo cada vez mais. O tema aparece não só em pequenas celebrações, mas em festas grandes, que estão se tornando muito populares”, conta animada.
Mas aqui no Brasil o evento é comemorado de uma forma adaptada. É o caso da Minds English School, que aproveita a data para inserir os estudantes nessa cultura.
“Aqui no Brasil o Halloween não é 100% igual porque não tem a mesma dinâmica dos Estados Unidos. Os alunos têm momentos de festa, música, dança, consomem doces, porque já é uma comida típica do Halloween, e se fantasiam de personagens de figuras mitológicas tipo bruxa, lobisomem”, diz Kevin Austin, coordenador pedagógico da Minds.
Na Pan American, a direção trata de inserir a cultura e transforma o evento em uma festa divertida, envolvendo as famílias dos estudantes e os funcionários da instituição.
“Neste dia, pais, alunos e funcionários vêm para a escola fantasiados a caráter para, juntos, participarem de atividades e brincadeiras “assustadoras’ em troca de balas, o famoso trick or treat que vemos em filmes americanos, mas de uma forma adaptada. Os alunos do terceiro ano do ensino médio organizam a tão esperada haunted house, ou casa do terror, para os menores se divertirem e testarem a garganta e o coração com os sustos. É um dia bem divertido”, conta Tatiana.
Se o susto é um dos momentos mais esperados do evento, as iguarias são uma diversão à parte. As crianças e os adultos se esbaldam com os bolos, os doces que imitam dedos de cadáveres, as caveiras, as aranhas e teias, as famosas abóboras com cara de fantasma, iguarias em tons preto, roxo e laranja, tradicionais nos eventos do Halloween.
Arquivo PASB/ Divulgação
A confeiteira Semara Andrade, da Nuvem de Sabores (@nuvem_desabores), diz que o Halloween adaptado acaba deixando essa cultura mais leve para os brasileiros.
“A gente internaliza essa coisa mais sobrenatural de uma forma mais divertida e associa sempre ao doce, ao que é agradável ao paladar. E, quando a gente brinca com isso, as pessoas percebem que todo esse lúdico do Halloween nos remete ao que é doce, leve”, conta
Rebeca diz que os bolos solicitados para esta festa são variados e alguns clientes pedem uma decoração assustadora. “Geralmente esses são para crianças com uma média de idade entre 6 e 13 anos. Outros querem algo mais delicado para celebrar os aniversários de cada mês dos bebês. Muitas ainda comentam: ‘Rebeca e James, façam o bolo com coisas fofinhas, deixe o fantasminha feliz, a abóbora não muito assustadora’. Cada pedido tem um estilo diferente, porém a finalidade sempre é a mesma: celebrar o Halloween e se divertir no mês mais assustador do ano”, brinca.
Shirley Stolze/ Ag. A TARDE
É neste espírito de festa, do lúdico e doce, que trazemos para esta matéria do Histórias & Sabores o bolo que traduz todo o conceito do Halloween da confeiteira Rebeca Andrade Lhu.
Bolo Cacau Black
Ingredientes:
250g de margarina gelada (pode ser manteiga)
200g de açúcar
210g de farinha de trigo
1/2 colher de chá de fermento + 1/4 de colher de chá para complementar
5 ovos
50g de iogurte natural sem açúcar
1/2 colher de chá de extrato de baunilha
1/2 colher de sopa de cacau em pó 100%
1/2 colher de sopa de cacau black 100%
1/4 de colher de chá de vinagre de álcool
Bata o açúcar, a margarina ou manteiga, a farinha de trigo e o fermento até ficar tudo homogêneo e leve. Continue a bater e coloque os ovos de um a um.
Em seguida, coloque o restante dos ingredientes e bata mais um pouco.
Divida a massa em 3 formas de 15cm de diâmetro, previamente untadas, e asse a 180⁰C. Após 20 minutos, vá conferindo com o velho e bom teste do palito. Se sair limpo, pode tirar e rechear à vontade.
Sugestão de recheio:
Uma camada de brigadeiro branco tingido com corante comestível na cor verde e uma camada generosa de geleia de frutas vermelhas para combinar.
Depois é só decorar com vários símbolos do Halloween, como caveiras, teias de aranha, bruxas e o que mais a imaginação permitir.
Shirley Stolze/Divulgação
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